Dr Silveira, a quanto tempo é advogado de nossa família? Uns dez ou quinze anos? Pergunto.
- Na verdade são 32 anos.
- Então sabe muito bem quem era meu pai. Não podemos perder a mansão.
- Senhorita Lana. Eu compreendo o que está dizendo. Mas me compreenda, a Mansão foi dada como garantia em um empréstimo, ainda resta 3 anos para finalizar, e a Srta não tem como assumir essa dívida.
- Mas essa casa é nossa e foi construida pelo papai. Ele idealizou e projetou tudo.
- Sim eu entendo que haja um valor sentimental, mas durante a pandemia, as empresas do Sr Daniel enfrentaram dificuldades, ele abriu capital para ver se melhoraria mas não foi o suficiente e hipotecou a mansão para conseguir um emprestimo.
Eu reviro os olhos com a notícia.
- E as contas? Sei que o papai tinha dinheiro.
- Sim. Uma parte os bandidos conseguiram transferir e o restante só é liberado após inventário.
- E os investimentos, a participação do Papai nas empresas?
- Sim! Segue o mesmo principio, somente após o inventário. E isso daqui no minimo 1 ano.
- E os nossos investimentos, eu e Daniel Jr. temos nossa conta com reserva de emergência e as ações para a aposentadoria?
- Isso você pode mexer. Mas o Daniel Jr. também requer um processo por ele ser menor de idade.
- Srta. posso lhe dar um conselho?
- Claro!
- Tenha paciência! Melhor perder a mansão e ter dinheiro para sobreviver, do que pagar e não ter mais nada.Ele diz em tom acolhedor.
- Isso vai se resolver. Só que não é rápido.
- Isso não é justo! Digo indignada.
- E onde eu e Jr vamos morar?
- Bem... era sobre isso que eu queria falar. O Sr Daniel comprou um imóvel e o colocou em seu nome e no nome de seu irmão. Ele escolheu esse imóvel com um propósito...
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- Então Senhorita? O que achou? Perguntou a responsavel pela empresa que administra o lugar.
- É grande, o condôminio é fechado, parece seguro.
- Ha Ha Ha! Ela começa a rir.
- Seguro? "Security" foi projetado para ser o lugar mais seguro no mundo para se viver.
- Temos vigilância 24 horas, na portaria identificação facial e biometrica. Guardas motorizados, escaner corporal e raio - x na entrada. Fora os drones e cães rôbos que circulam pelo condôminio. Esse lugar é nível máximo de segurança sem parecer uma prisão. Graças a tecnologia. Ela diz orgulhosa.
- Huummm!! Respondo sem empolgação.
- Srta quero ressaltar que não basta ter dinheiro ou interesse para morar aqui. Mas antes é realizada uma minuciosa avaliação do perfil família. Em outras palavras...as familias interessadas são selecionadas com rigor.
- Entendi.
- Tudo bem Srta Lana? Pergunta o Dr. Silveira que estava me acompanhando.
- Eu não tenho outra escolha. Não é? Respondo e ele sorri sem jeito.
Me olho no espelho tentando reconhecer quem sou agora.
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Abro o portão de vidro com o controle no chaveiro e o carro desliza devagar pela entrada da nova casa.
Jr, no banco do passageiro, cola a testa no vidro como uma criança num aquário. A boca dele se abre, mas nenhuma palavra sai. Ele só observa, a ausência de muros, a fachada clara, o paisagismo impecável, os vidros enormes refletindo o céu da manhã.
- Bem-vindo à nossa casa nova. Digo com o sorriso mais firme que consigo fabricar.
- Isso é... nosso? Ele pergunta, ainda com a voz baixa.
- É sim.
Paro na garagem. Cabem três carros ali, mas agora só temos um.
Ele olha as paredes laterais brancas, o chão de pedra lisa e antiderrapante. A casa é um sobrado elegante, moderno, mas sem ostentação. Um design limpo, tudo em linhas retas, com detalhes em madeira e vidro. Nada de colunas gregas ou lustres de cristal como na antiga casa.
Entro com ele pela porta principal. Piso de cimento queimado polido, sofá cinza grafite, cozinha integrada com ilha de mármore preto fosco e armários que parecem obra de arte. Cada detalhe da casa grita “novo”, “futuro”, “recomeço”.
- Tem cheiro de coisa nova. Jr comenta, andando pelo espaço como se estivesse visitando um cenário de série.
- É porque é. A casa tava fechada. Mas... era do papai. Ele acabou de construir.
Ele se vira devagar, franzindo a testa.
- Como assim era dele?
Respiro fundo. Aqui vem a parte difícil.
- Bem... nós perdemos a outra casa.
- Como assim “perdemos”? Ele pergunta, agora mais firme.
- Tinham uma dívida enorme... e com o processo todo...bem eu tentei, eu juro. Mas não dava pra manter aquilo. Era enorme, cara, cheia de funcionários.
Ele abaixa o olhar, e eu vejo o peso pousando nos ombros dele.
- Mas... completo, tentando suavizar
- Essa casa foi um presente. O papai comprou antes de tudo acontecer. Disse que era pra você crescer num lugar seguro, moderno, onde pudesse ter liberdade.
Jr olha em volta, os olhos ainda brilhando com um quê de revolta, mas também de curiosidade.
- E agora? A gente mora aqui?
- Agora a gente mora aqui. Repito, com a voz mais quente do que o coração sente de verdade.
Ele entra em um dos quartos e abre o guarda-roupa embutido. Espia o banheiro da suíte e sorri sem querer.
- Tá melhor que muito hotel.
- E veja pelo lado bom... Me aproximo com um sorriso maroto.
- Os móveis são todos modernos. Nada daquelas poltronas horrorosas de braço entalhado da mamãe.
Ele ri, meio envergonhado.
- Parecia que a gente morava num museu. Ele completa.
- Pois agora é quase uma nave espacial.
Descemos juntos e eu o puxo até a porta da frente. O sol da manhã tá tímido, mas já espalha luz suficiente pra iluminar o que mais me encantou nesse lugar: o condomínio em si.
- Vem ver isso. Digo, abrindo a porta.
Andamos até a calçada.
As ruas são largas, tranquilas. As casas seguem aquele mesmo estilo clean, com fachadas amplas, vidros, madeiras e jardins bem cuidados. Cada árvore ao redor parece ter sido escolhida a dedo. Jabuticabeiras, pitangueiras, até umas mangueiras baixas espalhadas.
- Aqui tem tudo, Jr. Tem pista de corrida, piscina, mercado, academia, quadra. É tipo uma cidadezinha. Segura.
Ele respira fundo e fecha os olhos por um segundo.
- E ninguém aqui vai querer nos matar, né?
Eu congelo por um momento, mas sorrio.
- Não, Jr. Aqui, a única coisa que pode te atacar... é uma manga madura caindo na cabeça.
Ele ri de verdade agora. É o primeiro riso desde... tudo.
Eu seguro a mão dele com força. E pela primeira vez, em dias, sinto que talvez, só talvez, a gente tenha onde recomeçar.
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Atualizado até capítulo 31
Comments
lary
Coitados eles merecem ser felizes, pq o trauma é grande
2025-08-15
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