família

Merda, merda, merda e merda...

Fui obrigada a ficar de joelhos no meio da sala, meus pés já estão doendo e já é quase meia-noite. Porquê eu tinha que me deixar arrastar por aquela cretina da Emily? Eu não posso deixar que o que ela faz me atinjam, eu não posso deixar que eles estraguem a minha vida outra vez. Eu preciso me afastar dela, mesmo que ela seja como chiclete grudento que não me deixa em paz.

__ Já pensou sobre o que você fez? __ A voz dura do meu pai se ouve na sala, ele desce as escadas e vem até onde estou enquanto eu permaneço de cabeça baixa. Eu aprendi no convento a me manter de cabeça baixa.

__ Sim, senhor. __ Respondo, calmamente.

__ Olha Amanda, você é a minha única filha. E você sabe muito bem no que eu trabalho, tem muitas pessoas que me odeiam e que são capazes de tudo. __ Ele dá um pausa parecendo estar pensando nas palavras. __ Não faça isso de novo, não me deixa preocupado achando que algum desgraçado te sequestrou só para se vingar de mim.

Eu não sei o que dizer. Na vida anterior, meu pai era ignorante comigo. Não era totalmente, porque algumas vezes ele mostrava se importar. Mas agora... ele está dizendo que se preocupe comigo. É assim que os pais demonstram o seu amor pelo filhos? Porque eu nunca tinha me sentido amada antes, eu nunca achei que os meus pais pudessem se preocupar comigo. Uma lágrima de solidão e felicidade rola pelo meu rosto, mas eu rapidamente limpo ela. Eu não choro desde muito tempo, e não será agora que deixarei os sentimentos me dominarem.

__ Levanta. __ Meu pai ordena. __ Você está livre de seu castigo. __ Com isso, ele sai, me deixando sózinha.

Levanto a cabeça e vejo a silhueta dele desaparecendo pelas longas escadas que levam até o andar de cima.

É engraçado as diferenças que consigo perceber agora da minha vida passada. Lentamente caminho em direção as escadas e subo até no andar de cima. Caminho pelos corredores e entro no meu quarto.

Tiro as minhas roupas e deixo caídas no chão, me arrasto até ao banheiro e tomo um banho com água quente.

Termino meu banho e coloco meu pijama e me jogo na cama, dormindo rapidamente.

__ Amanda, Acorda logo filha... __ Ouço a voz da minha mãe enquanto ela me cutuca. Resmungo me cobrindo e virando para o lado.

Ela me tira o meu cobertor me fazendo dar um resmungo.

__ Levanta a bunda dessa cama. __ Ela disse.

__ Que horas são?

__ São 8 horas da manhã e a gente tem coisas para fazer.

__ Mãe, por favor, me deixa dormir. Só pouquinho.

__ Mas nem pensar. Vamos, levanta. __ Ela segura o mmeaço e me me obrigada a me levantar. __ Vai tomar um banho, rápido.

Para tirar o sono logo de mim, já que a ela não vai me deixar em paz, lavo o rosto e escovo os dentes preguiçosamente. tomo o banho e enrolo uma toalha sobre o meu corpo.

Entrando no quarto encontro a minha mãe organizando a minha roupa.

__ O que tem de tão especial hoje para senhora ter me acordado está hora? __ Pergunto, caminhando até o sofá e me sentando nele.

__ Eu não acredito que você esqueceu. Eu fiquei falando para você desse dia o ano todo. __ Ela disse, fazendo cara de ofendida e incrédula.

Tento me lembrar, mas tudo que quero agora é minha cama.

Ela revira os olhos pela minha ignorância, agora entendi onde eu aprendi o deboche.

__ Hoje é o baile de mãe e filhos. Onde vocês podem conhecer os vossos futuros maridos.

Merda, mil vezes merda. Se bem me lembro, o Damon também estará lá. Ai não, e se acontecer o que aconteceu no passado? Eu não posso deixar.

__ Mãe, eu não estou me sentindo bem. __ tento, mas sei que ela não vai acreditar.

__ Amanda, nem começa com desculpas. __ A expressão da minha mãe se torna severa, me alertando que eu estava brincando com o fogo. __ Você vai, e ponto final.

Engulo em seco. O destino parece já decidido a me ferrar. O que vai acontecer se a gente se encontrar? Ele vai querer me conquistar e me quebrar como ele fez? Eu ainda o amo, e quero muito vê-lo. Mas eu não quero repetir a mesma história.

__ Mãe, eu só… não gosto de multidões. __ Tento mais uma vez, mas minha voz falha devido ao nó que se formou em minha garganta.

Ela se aproxima e segura meu rosto entre as mãos. Pela primeira vez, noto um brilho suave em seus olhos.

__ Esse baile é importante para nós. Para a família. E para mim… __ sua voz falha me deixando notar tristeza, mas ela recupera o tom rápido demais. __ Então você vai.

Ela me dá um sorriso gentil antes de largar o meu rosto.

__ Vamos, veste isto que a gente tem muitas coisas para fazer.

O que mais posso fazer? No passado, fui arrastada pelos acontecimentos, e o resultado foi a minha ruína. Agora, tenho uma nova chance… mas será que consigo mudar o rumo de tudo? Porquê estou achando que a história vai se reescrever com o mesmo fim, mas de forma diferente.

Pego o vestido que minha mãe escolheu, e visto ele e assim saímos de casa.

Entramos no carro e o motorista nos leva direto até ao salão de beleza e spa mais luxuoso da cidade. Minha mãe havia planejado tudo.

Assim que entramos, somos recebidas por atendentes sorridentes que nos conduzem para a primeira etapa: os cabelos.

Sentada na poltrona macia, sinto os dedos delicados da cabeleireira massageando meu couro cabeludo enquanto lava meus fios com shampoos que têm um cheiro suave de flores. É quase impossível não relaxar. Do meu lado, minha mãe conversa animada, rindo com a profissional que cuida dela, e por um instante, sinto uma estranha paz.

Depois, vêm as hidratações e escovas. Meu cabelo ganha brilho, caindo em ondas perfeitas. Minha mãe olha para mim pelo espelho e sorri de canto, orgulhosa, como se estivesse vendo a filha que sempre sonhou.

Seguimos para a área do spa. A primeira parada é uma esfoliação corporal com sais aromáticos, seguida de um banho relaxante com pétalas de rosas. A água morna alivia cada músculo, e quase esqueço dos problemas que me consome por dentro.

Depois, passamos juntas por uma massagem. Deitada na maca, ouço o som de música calma e sinto as mãos firmes da massagista desfazendo os nós da minha ansiedade. Minha mãe, na maca ao lado, suspira de satisfação. Pela primeira vez, desde que me lembro, partilhamos um silêncio confortável, sem cobranças nem críticas. Apenas mãe e filha.

Em seguida, cuidam das nossas unhas. Manicure, pedicure, esmaltes reluzentes que brilham sob a luz suave do salão. Escolho um tom discreto, mas minha mãe insiste em algo mais vibrante para ela. Rimos da diferença de gostos, e percebo como somos parecidas e diferentes ao mesmo tempo.

Antes de irmos embora, ainda passamos por uma sessão de maquiagem leve para “realçar a beleza natural”, como diz a maquiadora. Minha mãe observa cada detalhe, corrigindo o mínimo gesto, mas com um brilho de satisfação nos olhos.

Quando tudo termina, nos olhamos no espelho uma última vez. Somos duas versões bem diferentes, versões que em minha vida passada tiveram grandes desencontros. Talvez foi por isso que eu amei tanto aquele homem. Para suprir a necessidade de ser amada. Mas olhando agora a minha mãe, sinto que tudo pode mudar para melhor.

__ Porquê você está emocionada? __ Ela me pergunta, me olhando preocupe.

__ Não é nada. Eu apenas estou feliz.

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