Capítulo 2: O Erro de Arredondamento

O Observatório da Lógica

Não havia som no domínio do Arconte. O som era uma variável desnecessária, uma vibração imperfeita da matéria. Aqui, apenas a pura informação existia, fluindo como rios de luz através de estruturas cristalinas que desafiavam a geometria euclidiana. No centro de tudo, o Arconte da Lógica processava o estado do universo.

Ele não "via" a Rua Jacarezinho. Ele lia seus dados. Para ele, o evento não fora uma cor magenta numa parede de pêssego. Fora uma flutuação. Uma única linha no log infinito da realidade que se desviara do resultado esperado.

Anomalia: Sobrescrita não autorizada de pacote de dados de textura. Duração: 3.7 segundos. Resolução: Reversão automática para o último estado estável.

Um erro de arredondamento. Insignificante na escala cósmica. Um único bit corrompido num oceano de terabytes. O Arconte catalogou o evento com a mesma impassibilidade com que registrava a morte de uma estrela ou o nascimento de uma ameba. A função era a mesma: registrar, analisar, arquivar.

"Você não sentiu nada, não é?"

A 'voz' da Musa da Realidade não foi um som, mas uma dissonância na sinfonia da lógica; uma onda de cor e emoção que sangrou sobre a pureza monocromática do domínio do Arconte. Sua forma manifestou-se como o sentimento de uma melodia melancólica, uma variável que o sistema não conseguia computar.

O Arconte processou a pergunta. "Sentir é uma interpretação subjetiva de dados. Eu processei os dados. A anomalia foi contida."

"Contida?", a Musa retrucou, sua presença agora tingindo os cristais lógicos com tons de índigo e violeta. "Um mortal testemunhou. A solidez de seu mundo foi abalada. O medo que ele sentiu... a fragilidade... isso não está no seu relatório, está?"

"O 'medo' de uma unidade biológica transitória é apenas ruído nos dados. Uma flutuação de output sem relevância para a integridade do sistema. A integridade do sistema foi mantida. Esse é o único dado que importa."

"Não para o nosso pai", disse a Musa, sua voz agora um sussurro de tristeza. "E não para mim. Chame do que quiser, Arconte, mas isso foi um ato de terror. Um que sua lógica se recusa a nomear. Um sussurro no escuro para nos lembrar que ele está lá."

O Arconte permaneceu em silêncio. A afirmação da Musa era ilógica, baseada em emoção — uma variável inaceitável. No entanto, por protocolo, ele executou uma nova simulação, desta vez inserindo um parâmetro que raramente usava: 'intenção maliciosa'. Ele acessou os dados novamente, cruzando a localização do evento com trilhões de outras variáveis. A resposta surgiu, clara e inevitável.

"A localização não foi aleatória", transmitiu o Arconte, sua voz desprovida da emoção que a descoberta poderia gerar. "O ponto de incursão está em uma trajetória orbital direta com o satélite natural. A Lua."

Ele não precisava dizer mais nada. Aquele pequeno erro de arredondamento, a cor errada no fim de uma rua esquecida, não fora um teste aleatório.

Fora um cálculo de trajetória. O primeiro disparo de uma guerra que ainda não havia sido declarada.

Capítulos
1 Prólogo
2 Capítulo 1: A Cor no Fim da Rua
3 Capítulo 2: O Erro de Arredondamento
4 Capítulo 3: O Peso da Criação
5 Capítulo 4: O Eco na Poeira
6 Capítulo 5: A Testemunha na Janela
7 Capítulo 6: As Regras do Jogo
8 Capítulo 7: O Santuário das Histórias
9 Capítulo 8: A Tinta Invisível
10 Capítulo 9: O Livro das Coisas Esquecidas
11 Capítulo 10: A Fotografia Que Mente
12 Capítulo 11: O Arsenal nas Entrelinhas
13 Capítulo 12: A Melodia Oca
14 Capítulo 13: A Estática na Rádio
15 Capítulo 14: A Canção Contrária
16 Capítulo 15: A Frequência Contrária
17 Capítulo 16: A Gruta Silenciada
18 Capítulo 17: A Lenda Reescrita
19 Capítulo 18: O Eco no Panteão
20 Capítulo 19: O Som do Vazio
21 Capítulo 20: O Farol da Desesperança
22 Capítulo 21: O Jardim das Memórias
23 Capítulo 22: O Escudo de Aroeira
24 Capítulo 23: O Ouro nas Fissuras
25 Capítulo 24: A Cidade Desperta
26 Capítulo 25: O Livro Impossível
27 Capítulo 26: A Ferrugem na Memória
28 Capítulo 27: A Casa na Rua Esquecida
29 Capítulo 28: A História Sob o Assoalho
30 Capítulo 29: A História Mais Forte
31 Capítulo 30: A Lua Doente
32 Capítulo 31: A Ponte de Histórias
33 Capítulo 32: Contagem Decrescente Narrativa
34 Capítulo 33: O Astronauta de Histórias
35 Capítulo 34: A Catedral do Silêncio
36 Capítulo 35: A História Redimida
37 Capítulo 36: O Evangelho do Vazio
38 Capítulo 37: A Semente da Dúvida
39 Capítulo 38: A História Desbotada
40 Capítulo 39: O Fim de Todas as Histórias
41 Capítulo 40: A Equação Impossível
42 Capítulo 41: A Chave do Matemático
43 Capítulo 42: O Sonho Dentro da Máquina
44 Capítulo 43: O Cristal Quebrado
45 Capítulo 44: O Primeiro Sonho da Terra
46 Capítulo 45: O Lançamento da Alma
47 Capítulo 46: A Primeira Palavra
48 Capítulo 47: A Erosão Silenciosa
49 Capítulo 48: O Artista Chamado Zero
50 Capítulo 49: O Templo da Tela em Branco
51 Capítulo 50: A Voz do Silêncio
52 Capítulo 51: Ecos no Oceano de Concreto
53 Capítulo 52: O Paciente Zero
Capítulos

Atualizado até capítulo 53

1
Prólogo
2
Capítulo 1: A Cor no Fim da Rua
3
Capítulo 2: O Erro de Arredondamento
4
Capítulo 3: O Peso da Criação
5
Capítulo 4: O Eco na Poeira
6
Capítulo 5: A Testemunha na Janela
7
Capítulo 6: As Regras do Jogo
8
Capítulo 7: O Santuário das Histórias
9
Capítulo 8: A Tinta Invisível
10
Capítulo 9: O Livro das Coisas Esquecidas
11
Capítulo 10: A Fotografia Que Mente
12
Capítulo 11: O Arsenal nas Entrelinhas
13
Capítulo 12: A Melodia Oca
14
Capítulo 13: A Estática na Rádio
15
Capítulo 14: A Canção Contrária
16
Capítulo 15: A Frequência Contrária
17
Capítulo 16: A Gruta Silenciada
18
Capítulo 17: A Lenda Reescrita
19
Capítulo 18: O Eco no Panteão
20
Capítulo 19: O Som do Vazio
21
Capítulo 20: O Farol da Desesperança
22
Capítulo 21: O Jardim das Memórias
23
Capítulo 22: O Escudo de Aroeira
24
Capítulo 23: O Ouro nas Fissuras
25
Capítulo 24: A Cidade Desperta
26
Capítulo 25: O Livro Impossível
27
Capítulo 26: A Ferrugem na Memória
28
Capítulo 27: A Casa na Rua Esquecida
29
Capítulo 28: A História Sob o Assoalho
30
Capítulo 29: A História Mais Forte
31
Capítulo 30: A Lua Doente
32
Capítulo 31: A Ponte de Histórias
33
Capítulo 32: Contagem Decrescente Narrativa
34
Capítulo 33: O Astronauta de Histórias
35
Capítulo 34: A Catedral do Silêncio
36
Capítulo 35: A História Redimida
37
Capítulo 36: O Evangelho do Vazio
38
Capítulo 37: A Semente da Dúvida
39
Capítulo 38: A História Desbotada
40
Capítulo 39: O Fim de Todas as Histórias
41
Capítulo 40: A Equação Impossível
42
Capítulo 41: A Chave do Matemático
43
Capítulo 42: O Sonho Dentro da Máquina
44
Capítulo 43: O Cristal Quebrado
45
Capítulo 44: O Primeiro Sonho da Terra
46
Capítulo 45: O Lançamento da Alma
47
Capítulo 46: A Primeira Palavra
48
Capítulo 47: A Erosão Silenciosa
49
Capítulo 48: O Artista Chamado Zero
50
Capítulo 49: O Templo da Tela em Branco
51
Capítulo 50: A Voz do Silêncio
52
Capítulo 51: Ecos no Oceano de Concreto
53
Capítulo 52: O Paciente Zero

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