A cidade parecia diferente quando se olhava por trás do volante à noite.
Hanna dirigia o carro velho de Cami — que rangia a cada curva — pelas ruas molhadas, deixando que os reflexos dos postes e faróis colorissem o asfalto.
Fazia três anos que ela não circulava por aqueles bairros com a intenção de caçar. Mas os becos e luzes da cidade eram como cicatrizes: nunca mudavam de verdade.
O destino era o antigo galpão de ferragens, ponto de encontro de ex-colegas da máfia.
Se alguém sabia onde Vittorio estava escondendo Ethan, seria Toninho Bicho, informante que devia favores a ela.
Ao parar o carro em frente ao galpão, Hanna sentiu o coração bater em um ritmo que não sentia desde sua última fuga.
Respirou fundo, ajustou a jaqueta e empurrou a porta metálica, que gemeu alto.
O cheiro de ferrugem e óleo queimado a atingiu primeiro.
E depois, a voz:
— Se não é a Raposa em pessoa…
Toninho Bicho saiu da sombra. Magro, de bigode ralo e dentes amarelados, com uma cobra tatuada no pescoço.
Ele a olhou com um misto de respeito e medo.
— Achei que você tinha aposentado. — Ele coçou o queixo. — Aposentadoria não combinou com você, hein?
Hanna cruzou os braços.
— Preciso de informação. E não tenho tempo pra jogo.
Toninho sorriu de canto.
— Informação custa caro.
Ela tirou do bolso um chaveiro antigo e jogou sobre o balcão improvisado.
O som metálico ecoou pelo galpão.
Toninho arregalou os olhos.
— Isso é… a chave da BMW que eu sempre quis roubar?
— Presente. — Hanna inclinou a cabeça. — Agora fala.
Ele riu, quase nervoso.
— Tá bem… Ouvi dizer que o Vittorio tá mexendo com transporte de “mercadoria especial” na zona portuária. Se o tal Ethan tá com eles, deve estar lá.
Antes que Hanna pudesse responder, um estrondo ecoou do lado de fora.
Dois faróis iluminaram as frestas da porta metálica.
Toninho empalideceu.
— Acho que você foi seguida, Raposa.
Hanna xingou baixinho, puxando a pistola escondida na cintura.
A porta foi arrombada.
Três homens armados entraram, todos de terno escuro encharcado de chuva.
— Vittorio manda lembranças. — Um deles avançou.
Hanna sorriu de canto.
— Manda ele vir pessoalmente da próxima vez.
Com um movimento rápido, chutou uma pilha de ferragens, derrubando uma barra de ferro sobre o primeiro capanga.
O segundo correu na direção dela com uma faca, mas Hanna desviou e o derrubou com uma joelhada no estômago.
O terceiro tentou atirar, mas ela lançou a barra de ferro contra sua mão, fazendo a arma deslizar pelo chão.
O galpão virou caos de passos, metal e respiração ofegante.
Hanna se moveu como se nunca tivesse deixado aquele mundo.
Com um golpe certeiro, prensou o último capanga contra a parede.
— Diz pro Vittorio que a Raposa voltou.
Ela largou o homem no chão e saiu pela porta lateral, correndo na chuva.
O vento frio batia no rosto, e o som distante de sirenes se misturava ao tamborilar da água no asfalto.
Subiu no carro de Cami e arrancou com os pneus cantando, levando na mente apenas três palavras:
Zona Portuária. Ethan. Vittorio.
No retrovisor, as luzes da cidade refletiam nos olhos verdes de Hanna, agora frios e determinados.
Ela não era mais apenas a dona de uma cafeteria.
A Raposa estava de volta.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 97
Comments