A chuva não dava trégua. Pingos escorriam pela vidraça da sala de Hanna, acompanhando o ritmo acelerado do coração dela.
O rosto de Ethan ainda estava estampado na tela da televisão, acompanhado de uma foto de má qualidade capturada por câmeras de segurança.
Horário da gravação: trinta minutos depois de ele ter se despedido dela na rua.
Hanna desligou a TV, respirando fundo.
Três anos.
Três anos tentando ser outra pessoa.
Mas havia algo dentro dela que jamais morreu — o instinto.
Abriu uma caixa de madeira guardada embaixo do sofá. Dentro, luvas de couro, uma chave de grifo que escondia uma lâmina, e um celular antigo com números que ela jurou nunca mais discar.
Hanna passou os dedos sobre tudo, sentindo a familiaridade quase reconfortante.
— Parece que eu não tenho escolha… — murmurou.
Vestiu a jaqueta de couro preta que não usava desde que largou a máfia. Olhou seu reflexo no espelho do corredor: a Hanna da cafeteria parecia ter desaparecido, e A Raposa voltava a existir.
A primeira parada foi no beco dos fundos do supermercado, onde Ethan havia sido visto pela última vez.
O lugar estava quase deserto, exceto por uma luz amarela piscando e o som distante de buzinas.
Hanna caminhou devagar, olhos atentos, sentidos despertos. O cheiro de lixo molhado e óleo queimado trouxe lembranças que ela preferia esquecer.
No chão, marcas de pneus frescas. Um rastro duplo que parecia de van ou SUV.
Ela se agachou para examinar e sorriu de canto.
— Clássico sequestro em movimento. Discreto, mas não invisível.
Enquanto analisava, ouviu passos pesados atrás dela.
Girou o corpo rapidamente, mãos em posição de defesa.
— Calma, Raposa. — A voz era grave e carregada de ironia.
Do fundo do beco, um homem surgiu, coberto por uma capa de chuva escura.
Hanna precisou de apenas dois segundos para reconhecê-lo.
Bruno “Galo” Ferreti.
O mesmo idiota que já havia tentado pegá-la no passado, sempre falhando de forma cômica.
Ele sorriu, mostrando dentes amarelados.
— Achei que tinha virado dona de casa. Mas olha só… o instinto nunca morre, né?
— Galo… — Hanna deu dois passos para trás, corpo pronto para lutar. — Você tá me seguindo ou só apareceu pra levar outro fora?
Ele riu, coçando a cabeça.
— Só vim avisar que você devia ficar fora disso. O garoto não é problema seu.
— E mesmo assim vocês o levaram. — Ela estreitou os olhos. — Vittorio mandou, não foi?
Galo hesitou, e isso foi resposta suficiente.
Mas antes que pudesse dizer mais alguma coisa, um farol de carro iluminou o beco, e ele recuou.
— Cuida da sua vida, Raposa. Senão a próxima foto na TV vai ser a sua.
O carro arrancou, levando o capanga com ele.
Hanna ficou sozinha, com a adrenalina pulsando nas veias.
Agora ela tinha duas certezas:
A máfia de Vittorio estava por trás do sequestro.
Ela não ia descansar até encontrar Ethan.
De volta à rua, o reflexo da cidade molhada nos olhos verdes de Hanna não mostrava mais uma simples dona de cafeteria.
Mostrava uma predadora em movimento.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 97
Comments