O céu estava carregado de nuvens quando Hanna fechou a cafeteria naquela tarde. O cheiro de café ainda grudava em suas roupas, misturado ao leve aroma de canela que parecia fazer parte dela.
Cami já tinha ido embora, depois de reclamar por meia hora que “a vida noturna da cidade estava morta” e que precisavam “fazer alguma coisa emocionante”.
Hanna tinha rido, mas lá no fundo sabia que emocionante era uma palavra que ela evitava há três anos.
Caminhando até o pequeno mercado da esquina, ela sentiu o vento frio bagunçar os fios ruivos que escapavam do coque improvisado. Foi então que o viu.
Ethan.
Encostado no carro estacionado, com uma sacola de compras na mão e uma expressão que mesclava distração e alerta. Ele a notou e abriu um sorriso quase surpreso.
— Olha só… Han da cafeteria. Não sabia que você rondava por aqui.
— Eu moro a duas quadras daqui. — Hanna parou ao lado dele, espiando a sacola. — Cereal, refrigerante… e donuts. Vida saudável, pelo visto.
Ethan riu, erguendo a mão em rendição.
— Jornalistas sobrevivem à base de cafeína e açúcar. É estatística comprovada.
Ela arqueou uma sobrancelha.
— Então você é jornalista?
— Investigativo. — Ele olhou rapidamente para os dois lados da rua antes de voltar a encarar Hanna. — E você… é sempre tão curiosa ou só com clientes misteriosos?
Ela sorriu de canto.
— Eu só gosto de saber quando alguém vai dar dor de cabeça.
A conversa fluiu com uma naturalidade estranha. Ele tinha um humor fácil e, mesmo com a aparência cansada, conseguia arrancar risadas discretas dela — algo raro.
Mas, entre uma piada e outra, Hanna percebeu algo fora do lugar.
Um carro preto estacionado do outro lado da rua. Vidros escuros. Motor ligado.
Hanna sentiu o corpo reagir antes da mente: músculos tensos, sentidos em alerta.
Ela conhecia aquele tipo de carro.
Conhecia aquele tipo de espera.
Ethan percebeu a mudança sutil no olhar dela.
— Tudo bem?
— Tá. — Hanna desviou o olhar rapidamente, tentando parecer casual. — Só achei que conhecia aquele carro.
Ele seguiu o olhar dela, mas o veículo arrancou devagar, sumindo na esquina.
Por fora, Hanna manteve a calma. Por dentro, sentiu a velha adrenalina que não sentia há anos.
Conversaram mais alguns minutos, e então ele se despediu.
— Obrigado pela companhia improvisada. — Ele sorriu de lado. — Quem diria que eu ia encontrar a barista mais carrancuda da cidade duas vezes no mesmo dia?
— Sorte sua. — Hanna respondeu, mas seus olhos ainda estavam na rua. — Até mais, Ethan.
Ela voltou para casa com aquela sensação incômoda de estar deixando algo escapar.
Naquela noite, a chuva caiu fina, tingindo a cidade de reflexos laranjas e azuis.
Hanna estava em seu sofá, lendo um livro que não conseguia prender sua atenção, quando o celular vibrou.
Uma mensagem de Cami:
"Han… liga a TV agora."
O coração dela acelerou antes mesmo de alcançar o controle remoto.
No noticiário local, a foto de Ethan apareceu ao lado da legenda:
“Homem desaparece após deixar supermercado no centro da cidade.”
Hanna soltou o ar devagar.
— Eu sabia… — murmurou para si mesma, sentindo o peso do passado bater à porta novamente.
E pela primeira vez em três anos, A Raposa começou a acordar dentro dela.
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Atualizado até capítulo 97
Comments
Sun Seto
Fiquei vidrada na trama! 👀
2025-08-07
1
Rosângela Santos
Já estou gostando muito autora
2025-08-29
0