Ecos de silencio

Hinata

A luz da manhã entrava com suavidade pelo delicado tecido das cortinas do meu quarto, lançando sombras difusas sobre o tatame onde eu estava sentada. O ar fresco da primavera acariciava minha pele, um contraste desconfortável com o frio que parecia habitar dentro de mim, aquele frio que nenhuma chama poderia aquecer.

Minhas mãos repousavam no colo, os dedos entrelaçados num gesto inconsciente de busca por apoio, enquanto meus olhos fitavam o vazio do nada — ou melhor, daquilo que não podia ser.

Naruto.

O nome sussurrava em minha mente como uma melodia que nunca terminava, uma canção de esperança e tristeza entrelaçadas. Eu ainda o amava, de uma forma silenciosa, quase secreta. Não aquele amor vibrante que se grita aos quatro ventos, mas o amor que se sente na quietude das noites solitárias, nas pequenas lembranças guardadas em segredo.

Porém, tudo isso parecia distante demais agora, como se fosse uma história que pertencesse a outra vida, a outra Hinata, uma Hinata que acreditava em finais felizes.

Meus pensamentos frequentemente se perdiam no dia em que retornei da missão e vi Naruto com Sasuke. A cena que quebrou meu coração em silêncio — o beijo, a troca de um afeto que eu nunca tivera. Eu ainda sentia o gosto amargo daquela imagem na garganta, um nó que parecia impossível de desfazer.

Não foi raiva, nem ciúmes. Foi uma ausência dolorosa, um vácuo onde antes havia esperança.

Mesmo assim, a vida continuava. A mansão Hyuuga continuava a me cobrar, a me lembrar da linhagem que eu representava. A responsabilidade me esmagava.

Eu não podia me permitir fraquejar, não podia deixar que meus sentimentos me impedissem de ser forte. Eu tinha um papel a cumprir, um destino que não me pertencia, mas que me escolheu.

Por vezes, observava Neji. Ele parecia carregar uma tempestade dentro de si, uma dor silenciosa que eu reconhecia, mesmo sem palavras. Ele era o príncipe da linhagem, e eu, a herdeira designada. Dois lados da mesma moeda, presos a tradições e expectativas que nos sufocavam.

Eu me perguntava: será que havia espaço para algo mais entre nós? Para uma amizade verdadeira, uma aliança que não fosse apenas sangue e dever? Ou estávamos destinados a sermos peças em um jogo que não compreendíamos completamente?

O silêncio do meu quarto era preenchido por essas dúvidas, e eu me perguntava se algum dia encontraria paz.

Neji

Acordei com o peso da missão ainda repousando sobre meus ombros, mas era o peso da traição que me consumia de verdade. Tenten e Lee.

O rosto dela, a expressão de arrependimento misturada à culpa — ou seria desculpa? —, não saía da minha mente.

Eu não conseguia entender como aquilo aconteceu, como eu, que sempre fui tão disciplinado, tão focado, fui enganado assim.

Mas não era apenas isso. Era o sentimento de perda, de algo que eu acreditava ser sólido e que, de repente, se transformou em cinzas. Aquele laço que pensei ter era uma ilusão. E a frieza com que tentei lidar com a situação apenas escondia o turbilhão interno.

Na mansão, cada passo parecia ecoar em corredores vazios. A noite era silenciosa, mas meu coração não. Ele gritava em silêncio, chamando por respostas que eu não tinha.

Olhei pela janela e vi o jardim iluminado pela lua. Um lugar que sempre fora refúgio, agora parecia tão distante.

Eu não podia me dar ao luxo de fraquejar. A linhagem Hyuuga precisava de mim, mesmo que eu não soubesse como continuar.

Mas como seguir em frente quando tudo em que acreditava estava desmoronando?

Eu era forte. Eu tinha que ser.

Mas no fundo, só queria alguém que me entendesse, que visse além da máscara.

Hinata

Os dias passavam lentos e pesados. O treinamento, as tarefas diárias, as conversas automáticas — tudo se misturava numa névoa que eu tentava atravessar.

Naruto e Sasuke continuavam suas vidas, como se eu fosse apenas uma sombra desaparecendo no pano de fundo.

Mas eu não podia desaparecer.

O clã esperava que eu fosse a força que mantivesse viva a tradição.

No entanto, a dor que carregava me fazia duvidar de tudo.

À noite, quando o silêncio dominava, eu me permitia chorar. Não lágrimas grandes, apenas um soluçar contido, um pedido silencioso por algo que talvez nunca viesse.

Por vezes, pegava um papel e escrevia, rabiscava poemas que nunca mostrava a ninguém, versos que falavam de esperança, medo e solidão. Eram minha fuga, meu refúgio.

E havia Neji, sempre Neji.

Ele não falava muito sobre seus sentimentos, mas eu via a luta em seus olhos.

Um dia, me perguntei se ele se sentia tão perdido quanto eu. Se sua dor era igual à minha.

Talvez, pensei, pudéssemos encontrar um caminho juntos — mesmo que ele ainda fosse desconhecido.

Neji

Passei dias em silêncio, evitando encontros, me isolando. Não queria mostrar fraqueza, mas o peso da traição me afundava mais a cada momento.

Tenten havia sido importante para mim, uma parceira com quem pensei construir algo. Lee era seu amigo leal, sempre presente — mas eu não esperava que se tornasse algo mais.

Eu não conseguia perdoar. Nem a ela, nem a mim mesmo por ter sido tão cego.

Mas também sabia que, apesar do rancor, a linhagem precisava seguir. Que eu tinha um papel a cumprir, mesmo que fosse com o coração despedaçado.

Passei a observar Hinata de longe, sem saber se deveria tentar me aproximar ou me afastar ainda mais.

Ela também parecia presa em seus próprios labirintos.

E, mesmo sem dizer, sentia que talvez pudéssemos nos ajudar — ou pelo menos tentar.

Hinata

Uma noite, enquanto olhava para as estrelas, desejei que o destino pudesse ser diferente. Que eu pudesse escolher meu próprio caminho, meus próprios sentimentos.

Mas o peso do nome Hyuuga era inescapável.

Eu era mais que uma pessoa — era a esperança, a continuidade.

E mesmo que o amor não estivesse do meu lado, eu teria que encontrar forças.

Porque no fim, nem tudo é sobre o que queremos.

Às vezes, é sobre o que precisamos.

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