Narrado por Hinata Hyuuga
O céu de Konoha estava pintado em tons de dourado e lilás quando atravessei os portões da vila. O ar da tarde trazia o cheiro suave de madeira queimada, misturado ao perfume distante de flores silvestres que cresciam nos jardins. A missão havia durado quatro dias — curtos para um shinobi, mas suficientes para me deixar com o corpo cansado e a mente saturada de silêncio.
Era sempre assim quando voltava de longe. Por mais que houvesse conversas entre os membros da equipe, risadas ou trocas de informações, eu sentia um espaço entre mim e o mundo. Um lugar quieto, só meu, onde cabiam meus pensamentos… e ele.
Naruto.
Apenas pensar no nome me fazia respirar diferente. Era como se cada letra tivesse um peso suave, familiar, que me ancorava mesmo quando estava perdida. Ao longo dos anos, aprendi a esconder esse sentimento com a mesma habilidade com que escondia um selo de jutsu. Mas ele estava lá, sempre. No campo de batalha, nos intervalos de treino, nas noites longas em que o sono teimava em não vir.
Enquanto caminhava pelas ruas, as luzes começavam a acender nas casas. Crianças corriam, mães chamavam seus filhos para dentro, e o som distante de uma canção popular ecoava de uma janela aberta. Tudo parecia tão normal, e eu, por um instante, imaginei que minha vida também pudesse ser assim — simples, previsível, feliz. Imaginei… nós dois, dividindo o mesmo teto, talvez discutindo coisas pequenas como o tempero do jantar ou quem varreria o quintal. Coisas que nunca seriam parte da vida de um shinobi, mas que, para mim, eram preciosas justamente por serem impossíveis.
Fechei os olhos por um momento enquanto caminhava. Vi Naruto sorrindo para mim, não o sorriso radiante e aberto que ele oferecia a todos, mas um mais contido, reservado, como se fosse só meu. Vi nossas mãos se encontrando naturalmente, sem hesitação. Vi um futuro que existia apenas na minha cabeça… mas que, ainda assim, me aquecia por dentro.
Quando abri os olhos, o caminho que escolhi não foi o que levava à mansão Hyuuga. Meus pés, guiados por um impulso quase infantil, me levaram para mais perto do centro da vila — para o lugar onde, instintivamente, eu sabia que poderia encontrá-lo.
A praça principal estava menos movimentada àquela hora, mas ainda havia vendedores fechando barracas e alguns casais caminhando lentamente. Foi então que o vi. Naruto, parado perto da fonte central, a luz alaranjada do entardecer desenhando um brilho dourado no cabelo dele. Meu coração reagiu antes da minha mente. A batida acelerou, e a respiração ficou leve, quase trêmula. Por um instante, hesitei em me aproximar, observando-o de longe. Ele estava de costas para mim, mas a postura relaxada denunciava que não estava em guarda, não estava pensando em batalha.
E então percebi que ele não estava sozinho.
Sasuke estava ali, de frente para ele. A cena, à primeira vista, poderia ter sido apenas mais um reencontro tranquilo. Mas havia algo na forma como se olhavam — um silêncio denso, carregado de coisas não ditas. Sasuke estava mais próximo do que seria casual. E Naruto… Naruto sorria de um jeito que eu nunca tinha visto antes. Não era o sorriso largo e inocente. Era menor, mais suave, íntimo.
Antes que eu pudesse recuar, aconteceu. Sasuke ergueu uma mão, tocando o rosto de Naruto, e o puxou levemente para frente. Naruto não resistiu. Pelo contrário — fechou os olhos, como se já estivesse esperando. Os lábios se encontraram em um gesto breve, mas profundo. Um beijo que não precisava ser prolongado para dizer tudo.
Foi como se o som ao meu redor desaparecesse.
A fonte continuava jorrando água, mas eu não ouvia. As vozes dos poucos passantes se dissolveram no ar. Só restou aquele instante, preso nos meus olhos, queimando na minha mente. Senti o chão firme sob meus pés, mas ao mesmo tempo, era como se eu estivesse caindo — lentamente, sem fim.
Meu corpo não se moveu. Parte de mim queria virar as costas e ir embora. Outra parte… simplesmente não conseguia. Eu me obriguei a olhar para longe, para qualquer outra coisa, mas a imagem já estava gravada. Não havia retorno.
Eu sabia que não tinha direito de sentir aquilo. Naruto não me devia nada. Nunca houve promessa, nunca houve reciprocidade. Só que o amor, quando é verdadeiro, não segue lógica. Ele dói mesmo quando não tem razão para doer.
Um nó se formou na minha garganta, seco, pesado. Não havia lágrimas, porque não era um choro que queria sair. Era outra coisa. Uma ausência. Como se uma porta tivesse se fechado dentro de mim, deixando para trás um cômodo vazio.
Quando finalmente consegui me mover, meus passos foram lentos, quase cuidadosos, como se qualquer movimento brusco pudesse despedaçar algo que eu ainda segurava. Não olhei para trás. Não precisava. Aquela cena estava tatuada na parte mais vulnerável da minha memória.
Segui por ruas estreitas, evitando as áreas mais iluminadas. A cada passo, as imagens voltavam — o toque, o sorriso, o jeito como o mundo parecia caber apenas nos dois. E eu? Eu era a espectadora silenciosa, a sombra que observa e depois desaparece.
Quando cheguei à mansão Hyuuga, a noite já havia tomado conta do céu. Não entrei de imediato. Fiquei parada diante do portão, observando a lua entre as nuvens. A mesma lua que iluminava cada canto da vila, inclusive onde eles estavam. E pela primeira vez, senti que aquela luz não me alcançava.
Subi para o meu quarto sem encontrar ninguém no corredor. Tirei o casaco de missão e deixei cair no chão. Sentei-me no tatame, abraçando os joelhos. Foi aí que o silêncio se instalou de verdade. Não havia raiva. Não havia inveja. Só o eco constante do que eu tinha visto. Um eco que, eu sabia, me seguiria por muito tempo.
Fechei os olhos e respirei fundo. A lembrança do beijo não sumiu — pelo contrário, parecia ainda mais nítida. Talvez porque eu não quisesse apagá-la completamente. Parte de amar é aceitar ver a felicidade do outro, mesmo que isso signifique se excluir dela. Mas essa aceitação não vem sem custo.
Naquela noite, adormeci com a estranha sensação de que algo dentro de mim tinha se deslocado. Como uma peça que, uma vez fora do lugar, nunca mais volta exatamente para onde estava.
E eu sabia, no fundo, que aquela era apenas a primeira rachadura.
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Atualizado até capítulo 28
Comments
Lilihh
boa viu/Smirk/
2025-09-04
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