Assim que voltei para a sala dele com o café, Arthur estava sentado atrás da mesa, com uma pilha de papéis nas mãos.
— Quando falei que precisava de você, eu estava falando sério. Está disposta a me ajudar?
Parei a alguns passos dele, sem saber ao certo se ele estava falando comigo mesmo. Só tive certeza quando ele levantou os olhos e me encarou.
— Então? — ele insistiu.
— Desculpe… não entendi.
— Não sou tolo, senhorita Mariane. Sei que teve certas... intimidades com meu irmão.
Senti meu rosto esquentar. O sangue pareceu evaporar do meu corpo, e um tremor tomou conta de mim. Será que o Max havia contado a ele?
As palavras fugiram da minha mente, e a xícara de café começou a tremer sobre a bandeja.
— Como assim? — consegui balbuciar.
Ele suspirou, se levantou e veio até mim. Pegou a xícara da bandeja e tomou um gole, como se saboreasse meu desconforto.
— É muito simples. Max se revoltou com minha escolha de fazer de você minha secretária. Ele pode ter a que quiser... Mas queria você. O que me faz concluir que você sabe muito bem quem ele é — e o que faz aqui dentro. Vai me contar tudo, é claro.
Suspirei, aliviada. Não que aquilo fosse bom, mas era melhor do que eu imaginava.
— O que o senhor quer que eu faça?
— Meu irmão está me roubando.
Pisquei várias vezes, tentando processar aquilo.
— Como é? Tem certeza disso?
— As planilhas que você me entregou não batem com a receita da empresa. Os valores desviados são pequenos demais para um erro comum, o que me leva a crer que ele é mais esperto do que eu julguei. Certamente tem outras planilhas, semelhantes, que usa para não se perder... e não se entregar. Quero que consiga essas planilhas pra mim.
Arregalei os olhos, surpresa.
— Quer que eu... Roube as planilhas dele?
— Não vai roubar só pegar emprestado. Sem pedir. E não se preocupe com isso parecer errado... Não vou te julgar por isso.
— Nossa... Agora me sinto muito melhor sabendo que o senhor não vai pensar mal de mim. Isso resolve tudo.
Ele riu. Um riso seco, frio, que me arrepiou.
— Se está com medo dele descobrir, aproveite que ele não está na empresa.
Aquilo não era da minha conta, mas eu tinha uma mania péssima de me torturar.
— E onde ele está?
Arthur ergueu a sobrancelha, desconfiado da minha pergunta, mas respondeu:
— Viajou com a esposa. Está grávida. Foram comprar o enxoval do bebê.
Senti meu corpo amolecer. A cor fugiu do meu rosto. Eu estava prestes a chorar.
Bebê. Max teria outro filho?
Então o problema nunca foi ter um filho. Era quem seria a mãe desse filho.
Comecei a recuar. Arthur franziu o cenho.
— Algum problema, senhorita Mariane?
Fiz um gesto vago com as mãos.
— Eu... Eu preciso ir...
Consegui dizer apenas isso, enquanto o ar me faltava. Saí quase correndo em direção ao banheiro.
Eu precisava ficar sozinha. Precisava respirar. Não queria que ninguém me visse naquele estado.
Demorei a me recompor. Quando finalmente consegui encarar o espelho, respirei fundo e liguei para Cíntia.
— Não foi demitida?
— Não. Ele quer que eu ajude a desmascarar o Max.
— E você vai fazer isso?
— Não sei... talvez. Ainda não decidi. Parte de mim quer se vingar, mas como você disse... estou entre irmãos. No fim, pode sobrar tudo pra mim.
— Exatamente.
Desliguei. Saí do banheiro e fui direto pelo corredor. Quando passei pelo escritório de Max, parei.
Ele não estava na empresa. Nunca saberia se fui eu... e ele merecia uma lição.
Pegaria as planilhas. Entregaria para Arthur. Com sorte, um irmão chutaria o outro pra fora, e eu nunca mais teria que ver Max — ou sua adorável esposa grávida.
Soltei um longo suspiro. Olhei para os lados. Estava sozinha. Girei a maçaneta da porta.
O escritório estava vazio. Do jeitinho que eu queria.
Revirei gavetas, olhei sobre a mesa. Nada. Até que avistei um armário. Caminhei até ele, abri, e ali estava: uma caixa azul. Dentro, uma pasta cheia de planilhas contábeis dos últimos meses.
Sorri.
— A vingança é um prato que se come frio, Max — murmurei, rindo sozinha.
Mas a porta se abriu de repente. Assustada, escondi a pasta atrás de mim. Fosse quem fosse, eu teria que encarar.
Para minha sorte, era Rubia.
— Mari? O que está fazendo aqui? Achei que não fosse mais secretária do Max.
— Não sou. Por isso mesmo vim buscar alguns documentos pessoais que deixei aqui.
— Sabe que os patrões não gostam que mexam nas salas deles quando estão fora, né?
— Sim, eu sei. Mas não sabia que o Max estava ausente. De qualquer forma, falarei com ele assim que voltar e explicarei tudo.
— Ótimo. Melhor assim. Não quero problemas.
— Não se preocupe. Não haverá.
Saí do escritório apressada, ainda sorrindo pela façanha. Fingi organizar a papelada na minha mesa para disfarçar e escondi a pasta sob alguns documentos.
— Vai almoçar? — Rúbia perguntou.
— Ainda não. Tenho papéis para o senhor Arthur assinar.
— Aquele homem é lindo, mas arrepia. Não tem medo dele?
Medo? Eu tinha era de ser descoberta...
— Cão que ladra não morde — respondi. — É só a cara. Não é pior que o Max... Acredite.
Ou pelo menos, era o que eu queria acreditar.
Arrumei a saia, respirei fundo e fui até o escritório de Arthur. Dei duas batidinhas e entrei.
— Senhor?
Ele ergueu os olhos, desconfiado.
— Sim, senhorita Mariane?
— Tenho documentos para o senhor assinar — falei, deixando os papéis sobre a mesa. Com naturalidade, coloquei a pasta por cima.
Arthur observou tudo em silêncio.
— É isso?
— Acredito que sim.
— Alguém viu você?
— Sim, mas já cuidei disso.
Ele me olhou fixamente e assentiu com a cabeça.
— Não achei que teria coragem de fazer isso. Decidiu me ajudar?
— Tenho meus próprios motivos.
— Meu irmão fez algo a você... Que eu deva saber?
Sorri, tentando manter a postura profissional.
— Não. Apenas estou preocupada com o futuro da empresa, senhor.
Dei meia-volta e saí sem me prolongar.
Quanto menos eu falasse... Menores as chances de me trair.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 33
Comments