Capítulo 4 - Um prato que se come frio

Assim que voltei para a sala dele com o café, Arthur estava sentado atrás da mesa, com uma pilha de papéis nas mãos.

 — Quando falei que precisava de você, eu estava falando sério. Está disposta a me ajudar?

 Parei a alguns passos dele, sem saber ao certo se ele estava falando comigo mesmo. Só tive certeza quando ele levantou os olhos e me encarou.

 — Então? — ele insistiu.

 — Desculpe… não entendi.

 — Não sou tolo, senhorita Mariane. Sei que teve certas... intimidades com meu irmão.

 Senti meu rosto esquentar. O sangue pareceu evaporar do meu corpo, e um tremor tomou conta de mim. Será que o Max havia contado a ele?

As palavras fugiram da minha mente, e a xícara de café começou a tremer sobre a bandeja.

 — Como assim? — consegui balbuciar.

 Ele suspirou, se levantou e veio até mim. Pegou a xícara da bandeja e tomou um gole, como se saboreasse meu desconforto.

 — É muito simples. Max se revoltou com minha escolha de fazer de você minha secretária. Ele pode ter a que quiser... Mas queria você. O que me faz concluir que você sabe muito bem quem ele é — e o que faz aqui dentro. Vai me contar tudo, é claro.

 Suspirei, aliviada. Não que aquilo fosse bom, mas era melhor do que eu imaginava.

 — O que o senhor quer que eu faça?

 — Meu irmão está me roubando.

 Pisquei várias vezes, tentando processar aquilo.

 — Como é? Tem certeza disso?

 — As planilhas que você me entregou não batem com a receita da empresa. Os valores desviados são pequenos demais para um erro comum, o que me leva a crer que ele é mais esperto do que eu julguei. Certamente tem outras planilhas, semelhantes, que usa para não se perder... e não se entregar. Quero que consiga essas planilhas pra mim.

 Arregalei os olhos, surpresa.

 — Quer que eu... Roube as planilhas dele?

 — Não vai roubar só pegar emprestado. Sem pedir. E não se preocupe com isso parecer errado... Não vou te julgar por isso.

 — Nossa... Agora me sinto muito melhor sabendo que o senhor não vai pensar mal de mim. Isso resolve tudo.

 Ele riu. Um riso seco, frio, que me arrepiou.

 — Se está com medo dele descobrir, aproveite que ele não está na empresa.

 Aquilo não era da minha conta, mas eu tinha uma mania péssima de me torturar.

 — E onde ele está?

 Arthur ergueu a sobrancelha, desconfiado da minha pergunta, mas respondeu:

 — Viajou com a esposa. Está grávida. Foram comprar o enxoval do bebê.

 Senti meu corpo amolecer. A cor fugiu do meu rosto. Eu estava prestes a chorar.

 Bebê. Max teria outro filho?

 Então o problema nunca foi ter um filho. Era quem seria a mãe desse filho.

 Comecei a recuar. Arthur franziu o cenho.

 — Algum problema, senhorita Mariane?

 Fiz um gesto vago com as mãos.

— Eu... Eu preciso ir...

 Consegui dizer apenas isso, enquanto o ar me faltava. Saí quase correndo em direção ao banheiro.

 Eu precisava ficar sozinha. Precisava respirar. Não queria que ninguém me visse naquele estado.

 Demorei a me recompor. Quando finalmente consegui encarar o espelho, respirei fundo e liguei para Cíntia.

 — Não foi demitida?

 — Não. Ele quer que eu ajude a desmascarar o Max.

 — E você vai fazer isso?

 — Não sei... talvez. Ainda não decidi. Parte de mim quer se vingar, mas como você disse... estou entre irmãos. No fim, pode sobrar tudo pra mim.

 — Exatamente.

 Desliguei. Saí do banheiro e fui direto pelo corredor. Quando passei pelo escritório de Max, parei.

 Ele não estava na empresa. Nunca saberia se fui eu... e ele merecia uma lição.

 Pegaria as planilhas. Entregaria para Arthur. Com sorte, um irmão chutaria o outro pra fora, e eu nunca mais teria que ver Max — ou sua adorável esposa grávida.

 Soltei um longo suspiro. Olhei para os lados. Estava sozinha. Girei a maçaneta da porta.

 O escritório estava vazio. Do jeitinho que eu queria.

 Revirei gavetas, olhei sobre a mesa. Nada. Até que avistei um armário. Caminhei até ele, abri, e ali estava: uma caixa azul. Dentro, uma pasta cheia de planilhas contábeis dos últimos meses.

 Sorri.

— A vingança é um prato que se come frio, Max — murmurei, rindo sozinha.

 Mas a porta se abriu de repente. Assustada, escondi a pasta atrás de mim. Fosse quem fosse, eu teria que encarar.

 Para minha sorte, era Rubia.

 — Mari? O que está fazendo aqui? Achei que não fosse mais secretária do Max.

 — Não sou. Por isso mesmo vim buscar alguns documentos pessoais que deixei aqui.

 — Sabe que os patrões não gostam que mexam nas salas deles quando estão fora, né?

 — Sim, eu sei. Mas não sabia que o Max estava ausente. De qualquer forma, falarei com ele assim que voltar e explicarei tudo.

 — Ótimo. Melhor assim. Não quero problemas.

 — Não se preocupe. Não haverá.

 Saí do escritório apressada, ainda sorrindo pela façanha. Fingi organizar a papelada na minha mesa para disfarçar e escondi a pasta sob alguns documentos.

 — Vai almoçar? — Rúbia perguntou.

 — Ainda não. Tenho papéis para o senhor Arthur assinar.

 — Aquele homem é lindo, mas arrepia. Não tem medo dele?

 Medo? Eu tinha era de ser descoberta...

 — Cão que ladra não morde — respondi. — É só a cara. Não é pior que o Max... Acredite.

 Ou pelo menos, era o que eu queria acreditar.

 Arrumei a saia, respirei fundo e fui até o escritório de Arthur. Dei duas batidinhas e entrei.

 — Senhor?

 Ele ergueu os olhos, desconfiado.

— Sim, senhorita Mariane?

 — Tenho documentos para o senhor assinar — falei, deixando os papéis sobre a mesa. Com naturalidade, coloquei a pasta por cima.

 Arthur observou tudo em silêncio.

 — É isso?

 — Acredito que sim.

 — Alguém viu você?

 — Sim, mas já cuidei disso.

Ele me olhou fixamente e assentiu com a cabeça.

 — Não achei que teria coragem de fazer isso. Decidiu me ajudar?

 — Tenho meus próprios motivos.

— Meu irmão fez algo a você... Que eu deva saber?

 Sorri, tentando manter a postura profissional.

 — Não. Apenas estou preocupada com o futuro da empresa, senhor.

 Dei meia-volta e saí sem me prolongar.

Quanto menos eu falasse... Menores as chances de me trair.

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