Olhei quase chorando para os papéis à minha frente. Era o fim dos meus sonhos — aqueles que cultivei durante todo um ano. Tudo que eu queria estava ali, resumido em um punhado de folhas: casar com Max, formar uma família, ter um bom emprego. O que mais eu poderia desejar?
Mas agora, tudo ruía diante de mim.
Respirei fundo, enchendo os pulmões até doer. Sequei os olhos marejados, endireitei os ombros e me levantei. Precisava entregar pessoalmente a carta de demissão. Depois eu voltaria para recolher minhas coisas.
— Max...
Ele levantou os olhos, irritado, e soltou o ar com raiva.
— O que você quer agora, Mari?
— Preciso que assine minha demissão. Estou indo embora.
Ele riu, sem humor, e se levantou de forma brusca.
— Você se demite quando “eu” quiser que se demita. Agora pare com o drama e traga as planilhas contábeis. O novo sócio já está aqui.
O sangue ferveu nas minhas veias.
— Você não ouviu o que eu disse? Estou me demitindo. Não sou mais sua secretária!
— Cale a boca e me siga.
Se não estivéssemos no meio da empresa, eu juro que teria esbofeteado ele. Mas, engolindo o orgulho, o segui apressada, sem entender o que estava acontecendo.
Max entrou na sala de reuniões com passos duros. No fundo da longa mesa, um homem se levantou ao nos ver entrar. Bastou um olhar para perceber a semelhança entre eles. Mas aquele sujeito era diferente. Tinha uma aura arrogante, um olhar frio e uma postura que misturava poder com desdém.
— Trouxe as planilhas? — ele perguntou, sem nem me dirigir o olhar.
Max me lançou um olhar cortante.
— As planilhas, Mariane.
— Eu já disse: não sou mais sua secretária! Acabei de me demitir, esqueceu?
— Eu “não” concordei com isso. Então cale-se e volte ao trabalho.
O homem desconhecido observava em silêncio, os olhos indo de Max para mim. Por fim, caminhou até nós com uma calma que me fez estremecer. Quando parou à minha frente, senti um frio percorrer meu corpo.
— O que está acontecendo aqui? Há algo que eu deva saber... Irmão?
Irmão? Max nunca me disse que tinha um irmão. Mas agora tudo fazia sentido — a semelhança física, a postura...
— Não há nada para saber, Arthur. Apenas o drama existencial da minha secretária, que resolveu se demitir porque eu recusei um aumento.
Abri a boca, indignada. Eu queria voar no pescoço dele! Max sabia muito bem que dinheiro nunca foi o motivo da minha demissão.
— Eu não pedi aumento nenhum! Só quero sair desta empresa, e aqui está minha carta de demissão.
Pressionei os papéis contra o peito dele com raiva. Antes que Max pudesse pegá-los, Arthur os tomou calmamente das minhas mãos e leu por cima.
— Não há nenhum motivo aparente aqui. Apenas uma demissão sem justificativa. Enfim, se é o que quer... Está demitida.
Ele devolveu os papéis, sério.
Pisquei, sem acreditar.
— Obrigada...
Me virei para sair, mas Max explodiu.
— Você não pode demitir “minha” secretária!
— Eu sou o novo dono disso aqui, Max. Faço o que quiser. E mais: a garota queria sair. Agora, vá buscar as planilhas. E um café, de preferência. Não consigo trabalhar sem café.
— Eu não sou a sua secretária, irmão.
Arthur suspirou, cansado. Pelo visto, trabalhar com o irmão seria pior do que ele imaginava.
Eu já estava quase na porta, tentando escapar daquela cena ridícula, quando ouvi a voz dele — firme como um trovão.
— Ei, garota. Traga o café. E as planilhas.
Virei-me, chocada.
— Desculpe, senhor... Mas o senhor acabou de me demitir. Não sou mais secretária de ninguém.
Arthur soltou o ar, claramente exausto.
— Ok. Está readmitida. Agora será minha secretária. Pode buscar o café e os documentos?
Trabalhar para o irmão estranho de Max parecia ainda pior do que trabalhar para o próprio Max. Ao menos com ele, eu já sabia como me defender. Arthur era um completo mistério. Seu olhar me deixava agitada — não de medo, mas de algo que eu ainda não sabia nomear.
— Ok...
Eu precisava do emprego. Tinha alguém que dependia de mim agora, e voltar para a casa dos meus pais estava fora de cogitação. Principalmente porque... eles nem sabiam do que aconteceu no verão passado.
Saí da sala apressada, querendo desaparecer. Atrás de mim, os dois reiniciaram a discussão.
— Demitiu minha secretária. Agora contratou pra você? Isso só pode ser brincadeira!
— Eu precisava de uma secretária, e a sua estava disponível — Arthur deu de ombros, sem se importar.
— Eu vou falar com a mamãe. Isso não vai ficar assim.
— Fale à vontade. Mamãe só se importa com duas coisas: o cartão ilimitado que eu dei e a pensão do papai. Então, por favor, pare com esse drama.
— Não é drama! Você roubou minha secretária, e eu a quero de volta.
Arthur riu, presunçoso.
— Então o nome dela é Mariane? Gostei. Tem personalidade.
— Isso não é brincadeira, Arthur.
— E eu não estou brincando. Vamos lá, Max. Por que você quer tanto essa secretária de volta? O que foi que fez com ela, hein?
— Vou fingir que não entendi essa pergunta — Max respondeu, já se virando para sair.
Mas Arthur o segurou pelo braço, firme, olhando nos olhos do irmão.
— Você entendeu sim. E muito bem.
Max puxou o braço de volta e saiu apressado.
Peguei as pastas na gaveta e voltei à sala de reuniões. Bati na porta e entrei. Arthur estava de costas, observando a cidade pela vidraça, imóvel, com um ar de serenidade que contrastava com tudo ao redor.
— As planilhas, senhor...
— Deixe sobre a mesa. Junto com o café. E pode sair.
Assenti e fiz o que ele mandou. Esperei por mais instruções, mas nada.
— Eu disse que pode sair.
— Claro, senhor. Me desculpe.
Retirei-me apressada e fui para minha mesa.
Aquele homem era perturbador.
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Atualizado até capítulo 33
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