O clima ficou mais denso depois da noite da porta entreaberta. Enzo evitava Luna com maestria. Seus passos eram ainda mais silenciosos, seus olhares mais breves. Como se ela houvesse quebrado alguma regra invisível da casa. Mas, por mais que o ar estivesse carregado entre eles, Luna se sentia cada vez mais próxima de outra pessoa: Eleonora.
— Você não parece com as outras — disse a senhora, certa manhã, enquanto Luna penteava seus cabelos com delicadeza. — As outras vinham e iam rápido demais. Como se soubessem que aqui… o tempo não corre do mesmo jeito.
Luna sorriu, colocando uma flor de lavanda atrás da orelha da idosa.
— Talvez eu seja teimosa.
— Ou corajosa — respondeu Eleonora. — Mas coragem demais nesse lugar pode custar caro.
Aquelas palavras ecoaram com um peso estranho. Luna ainda não entendia tudo, mas sabia que havia um passado escondido atrás dos muros daquela mansão. Um passado que não dormia — apenas se disfarçava de silêncio.
Mais tarde, enquanto organizava alguns livros da biblioteca, Luna encontrou um envelope antigo, caído entre dois volumes. Era grosso, fechado com lacre de cera já quebrado, e trazia apenas as iniciais: R.D.
Ela ia guardá-lo de volta, mas Eleonora apareceu na porta, em silêncio.
— Você o achou — disse a senhora, sem surpresa.
— Desculpe… não era minha intenção bisbilhotar.
Eleonora caminhou devagar até a poltrona ao lado da lareira.
— Rosana DeLuca. Irmã gêmea de Enzo. Morreu com dezenove anos. E levou metade do meu filho com ela.
Luna se sentou, sem dizer uma palavra. O nome não parecia ter sido pronunciado há muito tempo. E mesmo assim, flutuava no ar como um perfume antigo.
— Ela era luz onde ele era sombra. — Eleonora olhava para o fogo. — Talvez, por isso, o mundo não conseguiu manter os dois.
— Como… ela morreu?
— Ninguém sabe ao certo — disse, desviando o olhar. — Só sabemos que, desde então, Enzo nunca mais foi o mesmo. E essa casa… também não.
Depois daquele dia, Luna passou a notar algo curioso: todas as manhãs, havia uma rosa nova sobre uma pequena mesa do corredor do segundo andar. Sempre a mesma cor — branca. Sempre sozinha.
Assunta, quando questionada, apenas respondeu:
— Não perguntamos sobre rosas aqui.
Naquela noite, Luna acordou com um som leve — como uma nota de piano solitária no escuro. Levantou-se, calçando os chinelos, e seguiu o som, guiada pelo silêncio.
Chegou até uma porta entreaberta. Não a da sala proibida. Era outro quarto.
No centro dele, havia um piano antigo, coberto por um lençol branco. Enzo estava sentado ali, os dedos sobre as teclas, tocando uma melodia suave e triste que parecia chorar.
Luna o observou por segundos antes de ele perceber sua presença.
— Está me seguindo agora? — disse ele, sem se virar.
— Não. Só… ouvi a música.
Silêncio.
— É dela, não é? — Luna perguntou. — Da sua irmã.
Dessa vez, ele se virou. Os olhos não estavam frios — estavam exaustos.
— Você fala demais, Luna.
Ela deu um meio sorriso.
— E você sente demais. Só não sabe mais como lidar com isso.
Por um segundo, ele não respondeu. Apenas a observou, como se não soubesse se queria mandá-la embora… ou agradecê-la.
Mas então, se levantou, passou por ela e parou na porta.
— Volte para o seu quarto. Aqui… não é lugar para quem ainda acredita em finais felizes.
E desapareceu.
Mas Luna ficou ali por alguns minutos, olhando para o piano fechado.
Sabia, no fundo, que havia tocado uma parte dele que nem os seguranças, nem as paredes grossas daquela mansão… conseguiam proteger.
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Atualizado até capítulo 36
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