Cap.4

O amanhecer em Vancouver trouxe um céu cinzento, com nuvens que prometiam chuva, mas Yuan Meng não se deixou abater. Sentado na cama estreita do quarto de hotel, ele passava os dedos pelo celular, os olhos atentos enquanto navegava por anúncios de apartamentos. Após horas de busca na noite anterior, ele finalmente encontrou algo que parecia perfeito: um quarto em um apartamento para dividir, em um bairro modesto, mas seguro. O aluguel era acessível, e compartilhar as despesas significava que ele não precisaria gastar tudo o que tinha para viver sozinho. Aliviado, Yuan enviou uma mensagem ao anunciante, um jovem chamado Leone, e os dois combinaram de se encontrar no dia seguinte para discutir os detalhes. Yuan guardou o celular, o coração mais leve, e tentou descansar, sabendo que o próximo dia seria decisivo.

Na manhã seguinte, Yuan acordou cedo, o relógio marcando 7:30. Ele tomou um banho rápido no banheiro apertado do hotel, vestiu uma camiseta preta simples e uma calça jeans, e prendeu os cabelos pretos e longos em um coque alto. Antes de sair, conferiu a mochila, garantindo que seus documentos e o caderninho com anotações estavam lá. A caminhada até o ponto de encontro — uma cafeteria pequena perto do prédio onde ficava o apartamento — foi acompanhada pelo som dos pneus contra o asfalto molhado e pelo cheiro de café que pairava no ar. Yuan chegou alguns minutos adiantado, escolhendo uma mesa perto da janela, onde tamborilava os dedos nervosamente.

Quando a porta da cafeteria se abriu, um jovem de cabelos loiros e olhos verdes entrou, olhando ao redor. Ele usava uma jaqueta de couro e carregava uma bolsa de ombro. Ao ver Yuan, ele sorriu e acenou, aproximando-se.

— Oi, você deve ser o Yuan, né? — disse, a voz amigável.

Yuan se levantou, retribuindo o sorriso, embora ainda um pouco tímido.

Yuan: Sim, sou eu. Leone, certo? — respondeu, estendendo a mão.

Leone apertou a mão de Yuan com entusiasmo.

Leone: Isso mesmo! Prazer em conhecer. Vamos sentar? — sugeriu, puxando uma cadeira.

Os dois se acomodaram, e o garçom trouxe um cardápio. Yuan pediu um chá verde, enquanto Leone optou por um cappuccino. A conversa começou leve, com Yuan se apresentando como um recém-chegado da China, em busca de uma nova vida no Canadá. Leone, por sua vez, revelou que era de Vancouver, mas estava morando sozinho há alguns meses. Para surpresa de Yuan, Leone também era ômega, o que criou uma conexão imediata entre eles.

Yuan: Sério? Eu não esperava encontrar outro ômega logo de cara — disse Yuan, rindo enquanto mexia o chá com a colher. — Acho que a gente já tem algo em comum.

Leone sorriu, inclinando a cabeça.

Leone: Pois é, a vida tem dessas. Ser ômega nem sempre é fácil, né? Mas a gente se vira — respondeu, com um tom que misturava humor e resiliência.

A tarde passou rapidamente enquanto os dois conversavam sobre suas rotinas e expectativas. Leone explicou que trabalhava meio período em uma livraria, mas estava procurando algo mais estável. Ele era organizado, gostava de cozinhar e não se importava com a bagunça, desde que fosse “uma bagunça criativa”, como ele brincou. Yuan, por sua vez, contou que ainda não tinha emprego, mas estava determinado a encontrar algo logo. Eles discutiram a divisão das tarefas no apartamento — Yuan ficaria com a limpeza da cozinha, enquanto Leone cuidaria do banheiro —, e combinaram de dividir igualmente as contas de água, luz e internet.

Yuan: Acho que vai dar certo — disse Yuan, sentindo-se mais confiante. — Só falta falar com o dono do imóvel, né?

Leone assentiu, terminando o cappuccino.

Leone: Exato. Ele é tranquilo, o Sr. Thompson. A gente pode ir lá agora, se você quiser. O prédio fica a umas duas quadras daqui — sugeriu.

Yuan concordou, e os dois pagaram a conta, saindo da cafeteria sob uma garoa fina. O prédio era um edifício de cinco andares, com uma fachada de tijolos e uma entrada com interfone. Leone apertou o botão do apartamento do Sr. Thompson, o proprietário, que os recebeu no pequeno escritório no térreo. O homem, na casa dos 50 anos, tinha cabelos grisalhos e usava óculos de armação metálica. Ele estava sentado atrás de uma mesa coberta de papéis, mas sorriu ao vê-los.

Leone: Boa tarde, Sr. Thompson — cumprimentou Leone, entrando com Yuan ao seu lado. — Esse é o Yuan, o cara que comentei que tá interessado no quarto.

Yuan: Boa tarde — disse Yuan, inclinando a cabeça respeitosamente. — Prazer em conhecê-lo.

O Sr. Thompson ajustou os óculos, olhando para Yuan com curiosidade.

Thompson: Boa tarde, jovem. Então, você quer dividir o apartamento com o Leone? — perguntou, pegando uma caneta para fazer anotações.

Yuan: Sim, senhor — respondeu Yuan, sentindo o nervosismo voltar. — Eu acabei de chegar em Vancouver, e o apartamento parece perfeito pro meu orçamento.

O Sr. Thompson assentiu, folheando um contrato.

Thompson: Entendi. Bom, o aluguel é de 800 dólares por mês, dividido entre vocês dois, mais as contas. O quarto é mobiliado, tem uma cama, um armário e uma escrivaninha. Alguma dúvida? — explicou, olhando para os dois.

Leone balançou a cabeça.

Leone: Pra mim, tá tudo certo. Yuan, o que acha? — perguntou, virando-se para ele.

Yuan: Tá ótimo — disse Yuan, aliviado. — Só queria saber como funciona o pagamento. É adiantado?

Thompson: Exato — respondeu o Sr. Thompson. — O primeiro mês e um depósito caução, que devolvo quando você sair, se não tiver danos. Pode pagar em dinheiro ou transferência. E preciso de uma cópia do seu documento.

Yuan confirmou, entregando seu passaporte para que o proprietário fizesse uma cópia. Eles revisaram o contrato juntos, com Leone apontando as cláusulas principais para garantir que Yuan entendesse tudo. Após algumas perguntas sobre manutenção do prédio e regras de convivência, todos chegaram a um consenso.

Thompson: Tudo bem, então — disse o Sr. Thompson, assinando o contrato e entregando uma cópia para Yuan. — Bem-vindo ao prédio, Yuan. Espero que se sinta em casa.

Yuan: Muito obrigado — respondeu Yuan, segurando o contrato com cuidado, como se fosse um símbolo do seu novo começo.

Leone deu um tapinha em seu ombro, sorrindo.

Leone: Viu? Moleza. Agora é só trazer suas coisas e se mudar! — disse, animado.

Yuan riu, mas uma sombra passou por seu rosto.

Yuan: Na verdade, eu preciso me mudar hoje mesmo. Não tenho como pagar mais uma noite no hotel — admitiu, um pouco envergonhado.

O Sr. Thompson ergueu uma sobrancelha, mas assentiu.

Thompson: Sem problema. O quarto tá pronto. Pode trazer suas coisas quando quiser — disse, com um tom prático.

Leone colocou a mão no ombro de Yuan, solidário.

Leone: Relaxa, a gente te ajuda a se instalar. Vamos buscar suas coisas agora? — ofereceu.

Grato, Yuan aceitou, e os dois voltaram ao hotel para pegar a mochila e a pequena mala que continham tudo o que ele possuía. A mudança foi rápida — em menos de uma hora, Yuan já estava no apartamento, instalando-se no quarto que agora era seu. O espaço era simples, mas acolhedor, com uma janela que dava para uma rua arborizada. Ele arrumou suas roupas no armário, colocou o celular e o caderninho na escrivaninha, e finalmente se jogou na cama, exausto, mas aliviado.

Naquela noite, Yuan e Leone sentaram-se na sala do apartamento, dividindo uma pizza barata que Leone insistira em pedir para comemorar a chegada do novo colega. A televisão estava ligada em um canal qualquer, mas os dois estavam mais focados na conversa. Yuan, sentindo-se mais à vontade, abriu o coração sobre sua situação.

Leone: Eu vim da China porque... bom, eu perdi meu pai recentemente — contou, a voz baixa, enquanto brincava com a borda da fatia de pizza. — Ele tinha problemas com álcool, e eu não consegui ajudar. Depois que ele morreu, não tinha mais nada me segurando lá. Então, vim pra cá, tentar recomeçar.

Leone ouviu em silêncio, os olhos verdes cheios de empatia. Quando Yuan terminou, ele suspirou, recostando-se no sofá.

Leone: Nossa, Yuan, sinto muito pelo seu pai — disse, sincero. — E, olha, eu meio que entendo essa coisa de começar do zero. Meus pais me expulsaram de casa quando descobriram que eu sou ômega. Eles achavam que era uma “vergonha” pra família. Faz uns meses que tô por minha conta, procurando um trabalho melhor pra me sustentar.

Yuan arregalou os olhos, surpreso com a semelhança de suas histórias.

Yuan: Sério? Então a gente tá no mesmo barco — disse, com um sorriso triste. — Quem diria que ia encontrar alguém que entende tão rápido.

Leone riu, levantando a fatia de pizza como se fosse um brinde.

Leone: Ao clube dos ômegas recomeçando a vida! — brincou, fazendo Yuan rir também.

A conversa continuou noite adentro, com os dois compartilhando sonhos, medos e planos. Yuan decidiu que, no dia seguinte, começaria sua busca por um emprego, determinado a construir uma vida nova. Com Leone ao seu lado, ele sentia, pela primeira vez, que não estava tão sozinho.

Enquanto isso, na Mansão Mountbatten, o domingo amanheceu tranquilo, com o sol entrando pelas janelas amplas e iluminando os corredores de madeira polida. Lucas, pela primeira vez em semanas, não abriu o laptop. Era um dia só para Luke e Mia, e ele estava determinado a aproveitar cada momento. A manhã foi passada na sala de estar, onde os três construíram um forte de almofadas e cobertores, com Luke liderando a “missão” de proteger o castelo de dinossauros imaginários. Mia, empunhando uma varinha de brinquedo, declarava-se a “rainha das fadas”, o que fazia Lucas rir enquanto fingia ser um cavaleiro derrotado.

Luke: Papai, você perdeu! — gritou Luke, pulando em cima dele com uma almofada.

Lucas: Tá bom, tá bom, eu me rendo! — disse Lucas, caindo dramaticamente no chão, para delírio dos filhos.

O almoço foi servido por Teresa, que preparou macarrão com molho de tomate, o favorito das crianças. Lucas sentou-se à mesa, observando Luke devorar a comida enquanto Mia tentava enrolar o macarrão no garfo, lambuzando o rosto. Ele limpou a filha com um guardanapo, o coração cheio de um amor que, mesmo em meio ao luto, nunca diminuía.

No meio da tarde, enquanto as crianças brincavam com blocos de montar no tapete da sala, a campainha tocou. Lucas franziu a testa, não esperando nenhuma visita. Teresa atendeu a porta, e um instante depois, uma voz familiar ecoou pelo corredor.

Daniel: Lucas, meu velho, surpresa! — exclamou Daniel, entrando na sala com um sorriso largo.

Lucas se levantou, os olhos arregalados de surpresa. Daniel, seu amigo de longa data, estava bronzeado, os cabelos castanhos mais longos do que ele lembrava, carregando uma mochila de viagem. Ele havia passado os últimos meses na Grécia, trabalhando em um projeto de sua empresa.

Lucas: Daniel? O que você tá fazendo aqui? — perguntou Lucas, rindo enquanto se aproximava para um abraço.

Daniel: Voltei, cara! A Grécia foi incrível, mas senti saudade de Vancouver — disse Daniel, batendo nas costas de Lucas. — E, claro, vim ver meu amigo favorito e esses dois pestinhas.

Luke e Mia, ao ouvirem a voz animada, correram até Daniel, que se abaixou para abraçá-los.

Luke: Tio Dani! — gritou Luke, enquanto Mia se agarrava às pernas dele.

Daniel: Olha só como vocês cresceram! — exclamou Daniel, bagunçando os cabelos de Luke e levantando Mia no ar, fazendo-a rir. — Luke, já tá pronto pra pilotar um avião? E você, Mia, já é rainha do castelo?

Lucas observou a cena, um sorriso suave nos lábios. A presença de Daniel trouxe uma leveza que ele não sentia há muito tempo. Eles se sentaram no sofá, com as crianças voltando aos blocos de montar, enquanto Daniel contava histórias sobre suas aventuras na Grécia — de praias cristalinas a noites dançando em tavernas. Lucas ouviu, rindo das exageradas descrições do amigo, grato por um momento de normalidade em meio à sua rotina pesada.

Daniel: E você, Lucas? Como tá segurando as pontas? — perguntou Daniel, baixando o tom, os olhos cheios de preocupação.

Lucas suspirou, olhando para os filhos antes de responder.

Lucas: Um dia de cada vez, sabe? As crianças me mantêm no eixo — disse, a voz carregada de emoção. — Mas é bom te ter de volta, cara.

Daniel sorriu, dando um tapinha no ombro do amigo.

Lucas: Tô aqui agora. E vou te arrastar pra tomar um café qualquer dia desses, sem desculpas — brincou.

O resto da tarde passou entre risadas, histórias e as crianças exigindo que Daniel brincasse com elas. Para Lucas, aquele domingo foi um lembrete de que, mesmo com o vazio deixado por Oliver, ainda havia espaço para momentos de alegria.

Daniel Cavalcante

Leone Belmont

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Comments

Monica De Carvalho Carvalho

Monica De Carvalho Carvalho

Luminha, por favor, posta mais capítulos dessa história maravilhosa 💞

2025-08-03

2

Erica Diniz

Erica Diniz

Já vejo esses dois juntinhos como casal.❤️❤️

2025-08-19

0

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