O sol do meio-dia banhava Vancouver com uma luz suave, filtrada por nuvens esparsas que flutuavam no céu azul. Yuan Meng, exausto após a longa viagem da China, finalmente encontrou um hotel modesto nos arredores da cidade. Era um prédio simples, com fachada de tijolos desbotados e uma placa neon que piscava a palavra “Vagas” em letras vermelhas.
Ele arrastava sua mochila surrada, os cabelos pretos e longos presos em um coque frouxo, enquanto atravessava o pequeno saguão. O recepcionista, um homem de meia-idade com óculos tortos, entregou-lhe a chave de um quarto no segundo andar após Yuan pagar em dinheiro, contando cuidadosamente as notas que representavam quase tudo o que tinha.
O quarto era pequeno, com uma cama de solteiro coberta por uma colcha desbotada, uma mesa bamba e uma janela que dava para uma rua movimentada. Yuan deixou a mochila no canto, jogou-se na cama e fechou os olhos, o corpo ainda carregando o peso da viagem e das emoções que o acompanhavam. O silêncio do quarto era interrompido apenas pelo zumbido distante do tráfego e pelo ranger ocasional do encanamento. Ele decidiu que aquele dia seria para descansar, para reunir forças. Amanhã, começaria a busca por um apartamento que coubesse no seu orçamento apertado. Com esse pensamento, ele se permitiu relaxar, deixando o sono tomá-lo enquanto o barulho da cidade lá fora parecia, pela primeira vez, um convite para um novo começo.
Na Mansão Mountbatten, o relógio marcava meio-dia quando Lucas finalmente fechou o laptop no escritório doméstico. O sol entrava pelas janelas amplas, iluminando a mesa de madeira polida, coberta de papéis organizados e anotações rabiscadas. Ele esfregou os olhos, sentindo a tensão nos ombros após horas revisando relatórios. Seus cabelos pretos, agora penteados para trás, caíam ligeiramente sobre a testa, e ele os afastou com um gesto automático. Era sábado, e ele havia prometido a si mesmo dedicar o dia aos filhos, que eram sua âncora em meio ao caos de comandar duas empresas.
Ao abrir a porta do escritório, foi recebido por um ataque de entusiasmo infantil. Luke, de 5 anos, correu em sua direção, os cabelos lisos e bagunçados balançando enquanto gritava. Mia, de 3 anos, vinha logo atrás, tropeçando nas pernas curtas, mas igualmente determinada a alcançar o pai. Os dois pularam sobre Lucas, que riu, abaixando-se para recebê-los nos braços.
Lucas: Oi, meus amores! — exclamou, a voz carregada de carinho enquanto os abraçava. Ele beijou a testa de Luke, bagunçando ainda mais seus cabelos, e depois levantou Mia, enchendo seu rosto de beijos até ela soltar risadinhas agudas. — Como vocês estão, hein?
Luke, com os olhos brilhando, respondeu primeiro, saltitando no lugar.
Luke: Tô bem, papai! A vovó Tête fez biscoitos, e eu comi três! — disse, mostrando três dedinhos com orgulho.
Lucas ergueu uma sobrancelha, fingindo surpresa.
Lucas: Três? Nossa, você tá virando um monstro de biscoitos! — brincou, fazendo Luke rir.
Mia, ainda no colo, segurou o rosto do pai com as mãozinhas e olhou para ele com seriedade.
Mia: Papai, vamos pro parque? — pediu, a voz infantil cheia de esperança. — Quero ver os patos!
Luke imediatamente se animou com a ideia, puxando a manga da camisa de Lucas.
Luke: É, papai, vamos pro parque! Tem aquele escorrega grande, e eu quero ir mil vezes! — disse, exagerando o número com um gesto amplo.
Lucas olhou para os dois, o coração aquecendo com aqueles rostos cheios de expectativa. Ele sabia que não tinha como dizer não — nem queria. Apesar do cansaço, momentos como esse eram o que o mantinham em pé.
Lucas: Tá bem, tá bem, vocês venceram — disse, com um suspiro teatral que fez os filhos rirem. — Mas antes, o papai precisa tomar um banho, porque não dá pra ir pro parque cheirando a café e papel. Combinado?
— Combinado! — gritaram Luke e Mia em uníssono, antes de saírem correndo para a sala, onde Teresa os esperava com um sorriso.
Lucas subiu até o quarto, o assoalho rangendo levemente sob seus pés. No banheiro, ele deixou a água quente do chuveiro lavar o peso do trabalho, fechando os olhos por um momento. A imagem de Oliver passou por sua mente, como sempre acontecia nos momentos de silêncio, mas ele a afastou, focando-se nos filhos. Depois do banho, trocou a camisa social por uma camiseta cinza e uma calça jeans, um visual mais leve que combinava com o dia ensolarado. Ele olhou-se no espelho, os cabelos pretos úmidos caindo sobre a testa, e respirou fundo, preparando-se para ser apenas o pai de Luke e Mia pelo resto do dia.
De volta à sala, encontrou as crianças prontas, com mochilinhas nas costas — Luke com uma azul de dinossauros, Mia com uma rosa de flores. Teresa entregou a Lucas uma bolsa com lanches e garrafas d’água, dando-lhe um olhar maternal.
Teresa: Divirtam-se, filho — disse ela, usando o apelido que sempre aquecia o coração de Lucas. — E não deixa esses dois comerem só sorvete no parque, hein?
Lucas: Prometo, Tête — respondeu Lucas, com um sorriso. — Mas não me culpe se eles me convencerem.
Com as crianças no carro, Lucas dirigiu até o Stanley Park, um dos favoritos da família. O trajeto foi preenchido pelo som de Luke contando uma história confusa sobre dinossauros astronautas, enquanto Mia cantava uma música inventada sobre patos. No parque, o ar estava fresco, carregado com o cheiro de grama recém-cortada e do lago próximo. Lucas segurava a mão de Mia, enquanto Luke corria à frente, apontando para o escorregador vermelho que se destacava no parquinho.
Luke: Papai, olha! Vou descer primeiro! — gritou Luke, já escalando a estrutura com a energia inesgotável de uma criança de 5 anos.
Lucas: Cuidado, campeão! — alertou Lucas, enquanto ajudava Mia a subir no balanço. Ele empurrava a filha com cuidado, rindo cada vez que ela soltava gritinhos de alegria. — Tá gostando, princesa?
Mia: Mais alto, papai! — pedia Mia, as marias-chiquinhas balançando.
O dia passou em um borrão de risadas, corridas e momentos simples. Lucas levou as crianças até o lago, onde jogaram pedaços de pão para os patos, com Mia apontando animadamente para cada um que se aproximava. Luke, por sua vez, insistiu em correr ao redor de uma árvore, desafiando o pai a pegá-lo. Lucas entrou na brincadeira, fingindo ser um dinossauro perseguidor, o que fez os dois rirem até caírem na grama, sem fôlego.
Quando o sol começou a se pôr, tingindo o céu de laranja, Lucas sentou-se em um banco, com Mia aninhada em seu colo e Luke ao seu lado, comendo um sanduíche da bolsa que Teresa preparara. Ele olhou para os filhos, o coração cheio de um amor que parecia maior do que qualquer dor. Por um momento, o peso do luto recuou, dando espaço para a alegria pura que aquelas crianças traziam.
Luke: Papai, a gente pode voltar amanhã? — perguntou Luke, a boca cheia de pão.
Lucas: Amanhã não pode, campeão — respondeu Lucas, limpando um farelo do rosto do filho. — Mas que tal no próximo fim de semana?
Luke: Tá bom! — disse Luke, satisfeito, enquanto Mia bocejava, encostando a cabeça no ombro do pai.
Horas mais tarde, no pequeno quarto do hotel, Yuan acordou de um sono profundo. O relógio na mesa de cabeceira marcava 5 da tarde, e a luz dourada do entardecer entrava pela janela, iluminando o espaço apertado. Ele se sentou na cama, esfregando os olhos, sentindo o corpo mais leve após o descanso. O peso da viagem e da perda ainda estava lá, mas a perspectiva de um novo começo em Vancouver trazia uma faísca de esperança.
Ele pegou o celular, conectou-se ao Wi-Fi fraco do hotel e começou a pesquisar apartamentos para alugar. Sentado com as pernas cruzadas na cama, ele navegava por sites de imobiliárias, anotando opções em um caderninho que tirara da mochila. A maioria dos lugares era cara demais — estúdios modernos com vistas para o mar ou apartamentos de um quarto em bairros badalados. Ele suspirou, passando os dedos pelos cabelos pretos, agora soltos, caindo sobre os ombros.
Yuan: Tem que ter algo que eu possa pagar — murmurou para si mesmo, rolando a tela do celular.
Ele encontrou alguns anúncios de quartos compartilhados e apartamentos pequenos em bairros mais afastados, anotando os números de contato. Cada clique era um passo em direção a uma nova vida, mas também um lembrete de quão sozinho ele estava. Ainda assim, Yuan se recusava a desistir. Ele havia deixado tudo para trás na China, e agora, em Vancouver, estava determinado a construir algo novo.
Enquanto salvava mais um link, ele olhou pela janela, onde as luzes da cidade começavam a se acender. O futuro era incerto, mas, pela primeira vez em muito tempo, Yuan sentiu que podia enfrentá-lo.
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