Dois anos haviam se passado desde o dia em que o mundo de Lucas Mountbatten desmoronou. A ausência de Oliver ainda ecoava em cada canto da mansão, como uma sombra que se recusava a partir. Luke, agora com 5 anos, e Mia, com 3, cresciam rápido, carregando traços do pai que se fora — os cabelos rebeldes de Luke, o sorriso doce de Mia. Após a morte de Oliver, Lucas herdara não apenas o luto, mas também a responsabilidade de comandar a empresa deixada pelo marido, além de sua própria. Sob o peso de ser o CEO de duas corporações, ele se esforçava para ser o pai perfeito, o líder incansável, o homem que todos esperavam que fosse. Mas, por dentro, a dor ainda o consumia, silenciosa e implacável.
Era uma manhã de segunda-feira, tão comum quanto qualquer outra, mas carregada com a rotina que Lucas havia construído como uma armadura. O despertador tocou às 6:30, pontual como sempre. Ele abriu os olhos, encarando o teto branco do quarto, o mesmo onde, dois anos atrás, acordava ao lado de Oliver. A lembrança ainda doía, mas ele a empurrou para o fundo da mente, como fazia todas as manhãs. Levantou-se, os pés descalços tocando o assoalho frio, e caminhou até o banheiro. O chuveiro quente aliviou a tensão em seus ombros, enquanto ele se preparava para mais um dia. Vestiu uma camisa social azul, passou os dedos pelos cabelos pretos, agora com alguns fios grisalhos precoces, e ajustou a gola com um suspiro.
Saiu do quarto e dirigiu-se ao de Luke, no corredor ao lado. A porta estava entreaberta, e ele viu o filho já acordado, sentado na cama, segurando um dinossauro de pelúcia e folheando um livro ilustrado sobre répteis. O coração de Lucas se aqueceu com a cena.
Lucas: Bom dia, meu campeão — disse, entrando no quarto com um sorriso suave.
Luke ergueu os olhos, o rosto iluminando-se. Ele pulou da cama e correu para o pai, envolvendo-o em um abraço apertado, os bracinhos cercando a cintura de Lucas.
Luke: Bom dia, papai! — respondeu, a voz cheia de entusiasmo.
Lucas se abaixou, bagunçando os cachos do menino com carinho.
Lucas: Dormiu bem? — perguntou, enquanto ajudava Luke a tirar o pijama.
Luke: Sim! Sonhei com um T-Rex, mas ele era bonzinho e me deu um sorvete — contou Luke, os olhos brilhando enquanto gesticulava.
Lucas riu, levantando o filho no colo e levando-o até o banheiro.
Lucas: Um T-Rex que dá sorvete? Esse eu quero conhecer — brincou, enquanto abria a torneira para encher a banheira.
Ele banhou Luke com cuidado, esfregando o shampoo nos cabelos bagunçados, que teimavam em cair sobre os olhos do menino. Depois, penteou os cabelos com uma escova macia, rindo quando Luke fez caretas no espelho. Vestiu-o com o uniforme da creche — uma camiseta polo azul e calças cáqui — e, satisfeito, segurou a mão do filho para descerem.
Na sala de jantar, Teresa, a governanta, já estava ocupada. O aroma de café recém-passado misturava-se ao cheiro de torradas e frutas frescas. Ela organizava a lancheira das crianças, colocando sanduíches, maçãs cortadas e suco em caixinhas coloridas. Ao ver Lucas e Luke, seu rosto se abriu em um sorriso maternal.
Teresa: Bom dia, filho — disse ela, limpando as mãos no avental.
Lucas: Bom dia, Tête — respondeu Lucas, usando o apelido carinhoso que tinha para ela desde que Teresa começara a trabalhar para a família, ainda antes do nascimento de Luke.
Luke correu até Teresa, abraçando suas pernas.
Luke: Bom dia, vovó! — exclamou, fazendo Teresa rir e bagunçar seus cabelos.
Teresa: Bom dia, meu pequeno. Prontinho pra creche? — perguntou, enquanto colocava um prato de panquecas na frente dele.
Lucas deixou Luke com Teresa e voltou ao andar de cima, agora para o quarto de Mia. A menina ainda dormia, encolhida sob um cobertor rosa, segurando um coelhinho de pelúcia. Ele se aproximou, sentando na beira da cama, e acariciou os cabelos loiros dela com suavidade.
Lucas: Mia, meu amor, hora de acordar — murmurou, a voz baixa para não assustá-la.
Mia abriu os olhos, mas logo franziu o rosto, começando a choramingar. Lágrimas brilharam em seus olhos, e Lucas a pegou no colo, balançando-a gentilmente.
Lucas: Ei, ei, tá tudo bem, princesa — disse, beijando sua testa. — O papai tá aqui.
Aos poucos, o choro de Mia se acalmou, e ela esfregou os olhos, ainda sonolenta.
Mia: Bom dia, papai — balbuciou, a voz infantil cheia de doçura.
Lucas: Bom dia, minha pequena — respondeu Lucas, sorrindo enquanto a levava para o banheiro.
Ele a banhou com cuidado, rindo quando ela brincava com a espuma, soprando bolhas que flutuavam pelo ar. Depois, vestiu-a com um vestidinho florido e prendeu os cabelos em duas marias-chiquinhas, cada uma com um laço rosa. Satisfeito, pegou-a no colo e desceu para a sala de jantar.
Luke já estava comendo suas panquecas, lambuzando o rosto com calda de maple. Teresa ria, limpando-o com um guardanapo.
Teresa: Olha só, Luke, sua irmã chegou! — disse ela, enquanto Lucas colocava Mia na cadeirinha.
Mia bateu palmas, animada ao ver o prato de frutas cortadas à sua frente. Lucas sentou-se à mesa, tomando um gole de café preto enquanto observava os filhos. Luke contava uma história sobre dinossauros para Teresa, enquanto Mia tentava pegar um pedaço de melancia com as mãos, rindo cada vez que escorregava.
Luke: Papai, você vai na creche hoje? — perguntou Luke, entre uma mordida e outra.
Lucas: Claro, campeão. Vou levar vocês, como sempre — respondeu Lucas, sorrindo.
Após o café da manhã, Lucas ajudou as crianças a colocarem as mochilas. Ele segurou a mão de Luke e carregou Mia no colo, despedindo-se de Teresa com um aceno. Dirigiu até a creche, ouvindo Luke cantar uma música inventada sobre dinossauros enquanto Mia balbuciava junto, tentando imitar o irmão. Ao deixá-los na escola, abraçou cada um com força, prometendo buscá-los no fim do dia.
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Do outro lado do mundo, em uma pequena cidade na China, o sol brilhava alto, iluminando as ruas estreitas de paralelepípedos. Yuan Meng, um ômega de 22 anos, caminhava apressado, um sorriso iluminando seu rosto delicado. Seus cabelos pretos, longos e soltos, balançavam com o vento, e seus olhos castanhos brilhavam com uma esperança que ele não sentia há muito tempo. Ele carregava uma sacola com algumas compras, mas sua pressa não vinha da fome — ele queria compartilhar uma novidade com seu pai. Finalmente, após meses de busca, Yuan conseguira um emprego em uma loja local. Era simples, mas significava um recomeço, uma chance de ajudar seu pai a sair do buraco em que caíra.
Yuan era órfão de mãe desde o nascimento. Ela falecera no parto, deixando-o aos cuidados do pai, um homem que, apesar das dificuldades, sempre fora carinhoso e protetor. Mas quando Yuan completou 15 anos, tudo mudou. Seu pai, devastado por problemas financeiros e pela solidão, começou a se afundar no álcool. Yuan tentou de tudo — conversas, súplicas, até mesmo esconder as garrafas —, mas nada funcionou. O homem que outrora o ninava agora mal conseguia manter uma conversa.
Ao chegar à casa humilde onde viviam, Yuan abriu a porta com entusiasmo.
Yuan: Pai! Pai, cheguei! — chamou, a voz ecoando pelo corredor vazio. — Tenho uma novidade boa!
Silêncio. Ele franziu a testa, tirando os sapatos e deixando a sacola na entrada.
Yuan: Pai? — tentou novamente, caminhando pela sala. Pensou que talvez ele tivesse saído, embora fosse raro.
Deu de ombros, decidindo preparar o almoço.
Yuan: Tudo bem, vou fazer a comida, e ele chega já.
Mas ao entrar na cozinha, o mundo de Yuan parou. Seu pai estava caído no chão, imóvel, os olhos abertos fixos no teto. Uma garrafa vazia jazia ao seu lado, o cheiro de álcool impregnado no ar. Yuan sentiu o coração disparar, as pernas fraquejarem. Ele se ajoelhou, as mãos trêmulas tocando o rosto do pai.
Yuan: Pai? Pai, acorda! — gritou, sacudindo-o com desespero. — Por favor, fala comigo!
Nenhuma resposta. Yuan continuou chamando, as lágrimas escorrendo pelo rosto, a voz quebrando a cada súplica. Ele correu até a porta, gritando por ajuda, mas os vizinhos que acudiram só confirmaram o que ele temia. Seu pai estava morto, vencido pelo vício que Yuan lutara tanto para combater.
Os dias seguintes foram um borrão de dor e burocracia. Yuan organizou o enterro com o pouco que tinham, uma cerimônia simples, sem a presença de parentes. Seus tios, que nunca se importaram com ele, o rejeitaram quando pediu ajuda. Ele estava sozinho, sem família, sem apoio, sem chão. Uma semana após o enterro, Yuan tomou uma decisão que mudaria sua vida. Vendeu a casa, juntou o pouco dinheiro que conseguiu, pegou suas roupas, documentos e celular, e comprou uma passagem para o Canadá. Era um salto no escuro, mas ele não podia ficar onde tudo o lembrava de sua perda.
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No aeroporto de Vancouver, após o desembarque, Yuan sentou-se em um banco, as mãos apertando a alça da mochila. As lágrimas vieram, não por tristeza, mas por uma mistura de alívio e medo. Ele estava começando de novo, em um país estranho, sem conhecer ninguém. Ajeitou os cabelos pretos, prendendo-os em um coque frouxo, e respirou fundo.
Yuan: Você consegue, Yuan — murmurou para si mesmo, levantando-se. Com determinação, saiu em busca de um hotel barato, pronto para enfrentar o que viesse.
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Enquanto isso, na Mansão Mountbatten, o sábado amanhecia tranquilo. Lucas trabalhava em seu escritório doméstico, uma sala ampla com janelas que davam para o jardim. Após a morte de Oliver, ele montara aquele espaço para conciliar as demandas das empresas com a criação dos filhos. A mesa estava coberta de papéis e relatórios, e a tela do laptop exibia gráficos financeiros. Luke e Mia ainda dormiam, o que dava a Lucas algumas horas para adiantar o trabalho antes de se dedicar aos pequenos.
Um leve toque na porta interrompeu seus pensamentos.
Lucas: Pode entrar — disse ele, sem desviar os olhos do laptop.
Teresa entrou, carregando uma bandeja repleta: café preto, torradas, ovos mexidos, frutas frescas e um copo de suco de laranja. Seu sorriso maternal iluminou o ambiente.
Teresa: Bom dia, filho — disse, colocando a bandeja na mesa, ao lado dos papéis. — Trouxe seu café da manhã.
Lucas suspirou, passando a mão pelo rosto.
Lucas: Bom dia, Tête — respondeu, com um meio sorriso. — Não precisava se incomodar, sabe.
Teresa cruzou os braços, o olhar firme, mas cheio de carinho.
Teresa: Não se incomoda quem quer ver você saudável — retrucou, apontando para a bandeja. — Você anda pulando refeições, Lucas. Não pensa que eu não percebo. Come direitinho, ou vai adoecer, e aí quem vai cuidar dos pequenos?
Lucas balançou a cabeça, derrotado, mas com um brilho de gratidão nos olhos.
Lucas: Tá bem, tá bem. Vou comer — disse, puxando a bandeja para mais perto. Ele pegou uma torrada, dando uma mordida enquanto Teresa o observava, satisfeita.
Teresa: Assim que eu gosto — disse ela, suavizando o tom. — Vou preparar o café das crianças agora. Não se preocupa, que eu cuido deles hoje de manhã. Você termina seu trabalho aí.
Lucas: Obrigado, Tête — murmurou Lucas, a voz carregada de sinceridade. — Não sei o que faria sem você.
Teresa sorriu, dando um tapinha leve em seu ombro antes de sair. Sozinho, Lucas continuou comendo, os pensamentos vagando. Ele olhava pela janela, onde o jardim florescia, mas tudo o que via era o vazio que Oliver deixara. Engoliu o café, tentando afastar a melancolia, e voltou ao trabalho, determinado a ser o pilar que sua família precisava.
Lucas Mountbatten
Luke Mountbatten
Mia Mountbatten
Yuan Meng
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Comments
Monica De Carvalho Carvalho
Luminha, obrigada por postar as fotos dos personagens.
2025-08-03
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