Capítulo 5

Giulia Morello

O rugido dos motores se apaga, substituído por um silêncio denso que pesa mais do que qualquer som. O avião toca o solo como quem sela um destino e, por um instante, tudo se cala — por fora e por dentro. Os meus olhos seguem fixos na janela, mas não vejo nada além da névoa espessa que cobre meus pensamentos. Desde que acordei nesta manhã — ou nesta vida que já não reconheço — não falei uma só palavra. Para quê? As lágrimas nem chegaram a nascer, engolidas pela indignação. O que havia para lamentar? A liberdade perdida? O futuro arrancado de mim? Tudo isso já está morto.

Vitório- O seu noivo veio buscá-la

Diz ele, Palavras simples, mas com o peso de uma sentença. Respiro fundo, tentando estufar os pulmões que parecem de chumbo. Ele se afasta e eu me levanto. Os movimentos são automáticos, como se eu não estivesse dentro do meu próprio corpo. Queixo erguido. Olhar firme. Não por coragem, mas por instinto. A pista está tomada por carros pretos, soldados armados e olhares atentos. Uma cena de guerra para um casamento arranjado. A minha mãe segura o meu braço com delicadeza.

Mãe- Você vai ser feliz.

Ela sussurra, com mais fé do que eu jamais tive em qualquer coisa. Assinto. Não por acreditar, mas por não ter forças para discordar. Dentro de mim, a única certeza é que felicidade não tem espaço onde não há escolha.

E então eu o vejo.

Ricco Capone.

Impossível ignorá-lo. Uma figura imponente que parece absorver a luz ao redor. Ele não precisa falar — a presença dele fala por si. Cada músculo parece esculpido para intimidar. Os seus olhos, de um negro abissal, não apenas me observam. Eles me invadem. Me lêem. Me decifram como se já soubessem tudo o que eu escondo. Sinto o meu estômago despencar, o corpo tremular, mas mantenho a postura. Não vou dar a ele o prazer de ver o meu medo.

Quando me aproximo, ele sorri — um sorriso lento, perigoso, que promete mais do que quero saber. “Sinto uma pulsação diferente me atingir”, ele murmura, a voz grave como trovão abafado. Estende a mão e beija a minha como se isso fosse charme, não domínio.

Ricco- É um prazer conhecê-la, minha noiva.

Quase não reconheço a minha própria voz quando sussurro

Giulia- Igualmente!

Os meus olhos não desgrudam dos dele, mesmo enquanto ele cumprimenta a minha família com o mesmo ar de quem está selando um pacto antigo. Em questão de minutos, sou empurrada para dentro de um carro, rumo à mansão dos Capone, e tudo o que conheci até agora fica para trás — até a minha própria vontade.

Mãe - Eu te disse que ele era lindo

Diz ela com aquele ar vitorioso irritante, como se beleza fosse redenção.

Giulia- Lindo? Mamma, ele parece uma muralha de concreto. Deve ter mais de dois metros de altura!

Rebato, ainda perplexa com a imagem dele, uma presença que domina qualquer ambiente.

Mãe - Ele Tem dois metros. Exatos.

A resposta vem como um veredicto. Ríspida. Fria. Final. Solto um palavrão baixinho, mal audível. Mas minha mãe ouve. Ela sempre ouve. Seu olhar me corta. Uma advertência silenciosa de que a minha rebeldia já passou do limite tolerável. Respiro fundo. Engulo seco. Estou presa. Não adianta gritar.

Sete dias. Sete malditos dias entre a chegada e o casamento. Uma eternidade sufocante onde tudo me foi arrancado e devolvido embrulhado em ouro e pérolas. No espelho, o reflexo que me encara parece de outra mulher. Uma boneca adornada, vestida para agradar os olhos do inimigo. O vestido de renda sufoca. Pérolas costuradas com promessas falsas. Escolhido por minha mãe com um brilho nos olhos. Como se isso fosse um conto de fadas. Como se eu fosse sortuda.

A porta se abre devagar, e Vitório surge, o seu sorriso é um corte preciso. Ele se aproxima, ajeita o meu véu como se não houvesse nada errado.

Vitório- Está linda. Uma verdadeira princesa da máfia.

Seu tom é sério, mas há algo mais. Uma indiferença calculada. Um conformismo que me dá vontade de gritar. Tento sorrir, um esboço mecânico nos lábios. Ele entende. Ou finge que entende. E sai.

Desde que cheguei, Ricco não falou comigo. Um jantar, olhares rápidos, silêncio. Nenhuma palavra gentil. Nenhum gesto humano. E ainda assim, hoje, estou prestes a me tornar sua esposa.

A igreja é uma catedral de murmúrios e olhos curiosos. Flores brancas, velas, e o cheiro opressor de tradição. O meu pai me conduz pelo corredor como se fosse um sacrifício. Um cordeiro. Os meus passos ecoam. Cada um mais difícil que o anterior. O altar me espera como um cadafalso. E Ricco, de pé, me observa como um rei esperando a sua rainha-prisioneira.

Ao chegar, meu pai deposita a minha mão na dele. A firmeza do aperto de Ricco é uma promessa — ou uma ameaça. Os votos são trocados. As palavras do padre são uma sentença.

Padre- Eu vos declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva.

Prendo a respiração. Ricco levanta o meu véu e murmura

Ricco- Será rápido.

E então os seus lábios tocam os meus. Um selinho demorado. Calculado. Ardente demais. O calor sobe pelo meu pescoço. Me afasto, coração disparado. Ele sorri, satisfeito, maldito.

Ricco- Vamos, esposa?

 Diz, e a palavra me fere como lâmina. Ele segura a minha mão e caminhamos para fora. Mamma sorri. Eu só quero desaparecer.

No carro, o silêncio é mais confortável que qualquer palavra. Ao chegarmos na mansão — moderna, fria, impessoal —, Ricco me ergue no colo. Eu me debato, surpresa.

Ricco- O marido deve carregar a esposa.

 Ele diz com um sorriso vitorioso, como se tivesse conquistado algo. A mansão é linda, moderna logo ele sobe as escadas, e vai até o final do corredor ele abre a porta e vejo um quarto, perfeitamente decorado em tons escuros, a cama grande e com os lençóis branco.

Ricco- Este é o nosso quarto, esposa!

Afirma, como um maldito sorriso, como quem dita regras em um campo de guerra. Fico imóvel, processando o absurdo.

Giulia- Se você tentar alguma coisa comigo e…

Ele me interrompe sem qualquer paciência.

Ricco- Somos casados!

Ele diz irritado, como se isso anulasse a minha vontade. Dou uma risada seca. Sem humor. Sem medo.

Giulia- Só no papel.

 Respondo, a voz gelada. Caminho até ele, olho nos olhos com a calma de quem está prestes a atacar.

Giulia- E se por acaso o “Don” ultrapassar os limites… talvez ele não acorde no dia seguinte. Seria uma tragédia, não acha?

Os seus olhos hesitam. Um segundo. Um momento. Mas vi. Ele sentiu. Recuou. Sem dizer nada, e saiu do quarto, o maxilar tenso, a raiva contida.

Fecho a porta atrás dele com um sorriso de triunfo. Primeiro round: Meu.

Mais populares

Comments

Renata Boaro

Renata Boaro

com certeza ricco ficou com raiva. E se isso ele não ir procurar outra num bordel ou encher a cara no escritório

2025-07-31

0

Amanda

Amanda

Adoro kkkkkkkk, isso mesmo, mostre a ele que você não é fraca não, pra ti ter terá que merecer kkkkkkkk, tá acostumado com as bobinhas que pulam no colo dele kkkkkkkk agora achou uma mulher de verdade com força que não se curva kkkkkkkk

2025-07-31

6

Conceição m

Conceição m

Estou amando Giulia quero ver Ricco comendo nas mãos dela

2025-07-31

0

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!