Giulia Morello, 21 anos.
A peça central.
É assim que me descrevem. A filha do meio de Donatello Morello — o Cape supremo da Camorra. A única mulher entre dois irmãos moldados no aço da máfia italiana. Vitório, o primogênito, já carrega o título de Don com a frieza de um imperador romano. Os seus olhos escuros observam tudo com uma calma inquietante, como se cada gole de whisky servisse apenas para disfarçar a violência à espreita sob sua pele. Já Vitor, o caçula, é o mais letal entre nós — conselheiro da família e, segundo dizem, um dos assassinos mais eficientes que a Camorra já produziu. Calculista. Preciso. Imparável.
E eu?
Sou a peça que nunca se encaixou de verdade nesse tabuleiro podre de tradições e pactos de sangue.
O salão principal da Villa Morello pulsa com um burburinho constante de vozes melosas, risadinhas agudas e promessas veladas escondidas em brindes. O calor do verão italiano penetra pelos vitrais, fazendo os cristais das taças refletirem cores vibrantes. Estou entediada, girando a minha taça de prosecco sem beber um gole.
Procuro por Vitor com os olhos — ele sempre aparece quando não deve, mas nunca está onde deveria estar. Um fantasma com gravata.
Sinto mãos femininas pousarem sobre os meus ombros com a suavidade de uma sentença.
Mãe- Figlia mia, tente se enturmar com as filhas de nossos aliados
Diz a matriarca da família com voz doce, mas firme como aço polido.
Reviro os olhos discretamente.
Giulia- Mamma, a senhora sabe que não gosto delas. Só falam sobre vestidos de noiva, enxoval e quantos filhos vão parir antes dos trinta. Como se a vida de uma mulher se resumisse a úteros e alianças.
Mãe- Giulia, você é o diamante da Camorra!
Ela rebate, sorrindo com a paciência treinada de quem me conhece desde o ventre.
Mãe- Precisa ao menos fingir interesse.
Giulia - Sou uma faca, não uma joia. E você sabe disso.
Ela suspira, longa e fundo.
Mãe- Devias ter nascido homem. Assim esses teus gostos esquisitos ao menos fariam algum sentido.
Giulia- Não tenho culpa se prefiro armas e facas a panelas e laços, mãe.
Mãe- Continue com essa aberração e vai acabar sozinha. Ninguém vai te querer assim.
Giulia- Melhor sozinha do que submissa.
Ela se aproxima, sussurrando:
Mãe- Vai casar, sim! E é bom que entendas de uma vez por todas! Tu és a filha do Cape! Tens a obrigação de gerar herdeiros fortes! A linhagem depende do teu ventre. Isso é tradição. É teu dever!
Bufei.
Giulia- Ah, claro! Porque eu nasci mulher, agora carrego a Camorra no útero! Que honra, mamma!
Ela estreita os olhos. A ameaça não dita vibra no ar.
Mãe- Você nasceu na máfia, Giulia. E na máfia, ninguém escolhe. Nem mesmo você.
Poderia responder com uma provocação, um palavrão. Mas engulo seco. Ela venceu — ao menos por agora.
Giulia- Tudo bem. Vou tentar me enturmar.
Murmuro, com um sarcasmo amargo.
Me afasto antes que ela me mande mudar o tom. Os meus passos são firmes até o canto do salão, onde três garotas se divertem entre risinhos e fofocas. Cada uma mais irritante que a outra.
Giulia- Olá.
A minha voz soa mais forte do que o necessário.Elas se viram em sincronia. Uma loira oxigenada me olha de cima a baixo com desprezo escancarado.
Loira- Se veio falar de armas, política ou qualquer coisa de homem, pode voltar por onde veio.
A morena ao lado ri, balança a cabeça, e dispara:
Morena- Você é uma vergonha para o Cape e ao Don. Uma aberração de saia.
Sorrio. Aquele sorriso que precede o caos. Me aproximo um passo, e antes que ela possa recuar, a minha mão se fecha em sua nuca. Puxo com firmeza o cabelo alisado dela, forçando-a a olhar nos meus olhos.
Giulia- Fale assim comigo de novo, e juro que vai engolir a própria língua. Dente por dente. Palavra por palavra.
A ruiva empalidece. As três congelam.
Sinto uma presença se aproximando e, com uma elegância ensaiada, solto a morena e giro sobre os calcanhares com um sorriso sedoso.
Uma senhora da alta máfia italiana se aproxima, e toco os cabelos da morena em um gesto cortês.
Giulia- Você precisa me contar o segredo desse brilho. Está divina.
Digo com falsa doçura. Ela sorri, encantada, e desaparece. Me volto novamente para o trio. A tensão paira como faca suspensa.
Giulia- Se alguma de vocês abrir a boca sobre o que aconteceu, o arrependimento será o menor dos problemas.
Elas não respondem. Eu me afasto, os ombros eretos, o sangue fervendo. A noite recém-começou, mas já me arranha como uma jaula fechando.
Uma semana depois
O sol italiano beija a minha pele bronzeada enquanto saio da piscina. A água escorre em fios por meu corpo e os meus pés descalços tocam as pedras aquecidas. Vitor se aproxima como um predador descontraído, com aquele sorriso de quem vai aprontar.
Vitor- Pronta pra mais uma lição?
Ele provoca.Tenta me empurrar de volta, mas o movimento é previsível. Com um golpe rápido, sou eu quem o joga na piscina.
Vitor- Porra, Giulia! O meu celular!
Ele grita, emergindo molhado e furioso.Levanto o aparelho, intacto.
Giulia- Esse aqui? Já sabia que ia tentar me empurrar.
Respondo com desdém. Ele resmunga, mas aceita a derrota. Saindo da piscina, pega a toalha que jogo em sua direção. Seu sorriso se dissolve devagar. A seriedade surge.
Vitor- O babbo quer falar com você. Agora.
A minha espinha endurece.
Giulia- Ele continua com aquela maldita ideia?
Vitor- Mais do que continua. Confirmou. Está feito.
A minha garganta aperta. Minhas mãos se fecham. O calor do sol já não me aquece mais.
Giulia- Não. Ele não seria capaz de fazer isso comigo.
Digo, como se as palavras pudessem mudar a realidade. Vitor ri, amargo.
Vitor- A culpa é sua. Amargou todos os homens da Itália com essa língua venenosa e esse jeito insuportável de não se curvar. Agora vai casar com um Don da máfia de Chicago. Um brutamontes da Outfit. Um homem que provavelmente nem sabe pronunciar o seu nome.
Sinto a raiva crescer como labareda.
Giulia- Vai à merda, fratello! Não tenho culpa se os homens italianos são fracos! Se não sabem lidar com uma mulher que não se dobra por causa de um sobrenome ou de um pau! Se sou demais para eles, isso é problema deles, não meu!
Vitor- Pois agora vai ver como é um homem de verdade! Ricco Capone.
Ele cospe o nome como se tivesse gosto de ferrugem.O nome explode na minha mente.
Ricco Capone. O herdeiro da Outfit. O selvagem de Chicago. O libertino que vive nas sombras com o sangue de Al Capone correndo nas veias.
Meu destino selado com uma assinatura que não dei. Um casamento forçado com um homem que representa tudo o que desprezo: arrogância, domínio, controle.
Giulia- Ele que tente me domar. Vai sangrar até entender que comigo não se manda.
Vitor balança a cabeça.
Vitor- Só espero que um de vocês sobreviva ao casamento. Porque vai ser uma guerra.
Ele está certo.
E eu não vou perder.
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Atualizado até capítulo 31
Comments
Amanda
Adoro kkkkkkkk 🤭😂😂😂😂😂😂😂
Que as loucuras comecem como guerra e acabe com muito amor
E a propósito estou com você casamento é parceria e não domínio se pra isso é preciso declarar guerra então que seja
2025-07-30
9
Marta Monteiro
já gostei esse não vai se dobrar ao macho alfa kkkkkkk🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣
2025-08-01
0
Celia Fernandes
AF a gente mal começou a ler e já tem que pedir pra atualizar e isso mesmo autora minha linda manda mais mais mais mais mais mais porfavor
2025-07-30
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