O Conselho das Sombras

O salão do Conselho Real parecia respirar escuridão. Suas colunas negras e vitrais tingidos de vermelho profundo filtravam a luz do fim da tarde em tons de sangue. Estátuas de antigos monarcas vigiavam silenciosamente os que ali se sentavam — sete cadeiras de carvalho escuro, ocupadas por aqueles que sussurravam os destinos do reino.

Naquela noite, apenas cinco cadeiras estavam ocupadas. E isso já dizia muito.

— O rei não sobreviverá ao inverno — disse Lorde Verrar, sua voz oscilando entre a velhice e o veneno. — Precisamos decidir o futuro antes que o caos decida por nós.

Lady Nyra, a mais nova do círculo, sorriu por trás do leque de penas pretas. Sua beleza era refinada, mas seus olhos denunciavam um espírito afiado como adaga.

— O povo só acredita no que é dito com firmeza. Se dissermos que o rei está forte, eles creem. Se anunciarmos um novo monarca, se ajoelham. Mas... — ela fez uma pausa, dobrando o leque — há um obstáculo.

— O bastardo — completou Verrar.

— O herdeiro desaparecido — corrigiu outro conselheiro, com voz abafada pela máscara dourada que usava. — Cael.

Silêncio.

Uma sombra se moveu no fundo da sala. O último a falar foi o único que ainda não mostrara o rosto.

O Lorde Regente.

> Seu verdadeiro nome era proibido até mesmo nos registros oficiais. Diziam que ele havia sido o braço direito do rei desde os tempos de guerra, mas nunca foi visto empunhando uma espada. Usava luvas negras que cobriam até os cotovelos e um colar largo de ferro velho, como uma coleira de cão raivoso. Seus olhos eram frios, vazios, como se vissem através de máscaras e mentiras. Sua presença causava silêncio onde quer que entrasse.

— Cael está vivo — disse ele. — E não está mais sozinho.

Ele depositou sobre a mesa um mapa e alguns papéis. Um deles mostrava uma pintura em carvão: uma mulher de cabelos escuros, olhos oblíquos e postura letal.

— A Rosa de Veneno — murmurou Lady Nyra. — Não passava de um mito da realeza.

— Mito ou não, ela está com ele. E já se infiltrou nos portões de Aeloria. A cidade foi aberta para o inimigo sem que percebêssemos.

— Você a treinou, não foi? — perguntou Verrar, quase com desprezo. — Sua criatura.

— Eu a criei. Mas agora... ela traiu o criador.

Os olhos do Regente se fixaram nos rostos ao redor da mesa.

— Seraphina é uma ameaça maior do que Cael. Se ela estiver apaixonada, será perigosa. Se estiver agindo por vingança, será mortal.

Nyra ergueu o queixo.

— E qual é o plano?

— Espalhei seu nome entre os becos da cidade. Os espiões já farejam seu rastro. Mas não quero sua morte.

Ele puxou um pergaminho menor, selado em cera azul.

— Quero que a tragam viva. Antes que Cael a use como arma contra o próprio trono.

Verrar tossiu e apoiou-se na bengala.

— E se não a encontrarmos?

— Encontraremos.

O Regente se virou, a capa roçando o chão como fumaça.

— Tudo que floresce... um dia sangra.

---

Enquanto isso, do outro lado da cidade, Seraphina observava o palácio de longe, envolta no disfarce que em breve a colocaria dentro do covil.

— Eles vão me procurar — disse a Cael, no esconderijo. — Mas não vão me reconhecer. Ainda não.

Cael a olhou com um misto de admiração e pesar.

— Você é a última peça viva no jogo deles. E talvez a única que não pertence a ninguém.

Ela guardou a adaga sob a manga e sussurrou, olhando o céu escuro:

— Então que joguem. Eu danço com veneno.

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