O DISCURSO DO LEGADO

Daiana atravessou o salão com passos firmes, a postura ereta e um sorriso contido nos lábios. Duas taças de champanhe tilintavam em sua mão, como um gesto casual que escondia intenções bem calculadas.

Parou diante de Alana.

— Você está incrivelmente linda — disse, entregando uma das taças. — Devo confessar.

Alana aceitou a bebida sem desviar os olhos. Bebeu um gole devagar, provocando sem pressa, antes de fixar o olhar diretamente no de Daiana.

— Não sou para o seu nível. — disse, a voz baixa e firme, carregada de uma ironia afiada como navalha.

Daiana soltou uma risada leve, carregada de desdém e charme.

— E quem disse que você é para o meu nível?

O silêncio entre elas pareceu vibrar. Alana não sorriu. Seus olhos endureceram por um instante.

— A gente precisa trabalhar agora. — disse, devolvendo o tom à sobriedade, como se riscasse com tinta preta qualquer insinuação anterior. — Aqui é um evento de trabalho. Então comece a socializar com os novos sócios.

Daiana a encarou por mais alguns segundos, em silêncio, como quem aprecia o gosto de um vinho raro e não decide se gosta ou odeia. Depois sorriu — um sorriso meio sarcástico, meio respeitoso — e balançou a cabeça em concordância.

Sem responder, virou-se e atravessou o salão até um grupo de investidores. Sua postura era impecável, a voz firme, os gestos confiantes. Em minutos, os olhares já se voltavam para ela — alguns curiosos, outros encantados.

Alana permaneceu parada, com a taça na mão, observando cada passo de Daiana. Seus olhos seguiam-na não com inveja, mas com a atenção de quem reconhece um oponente digno. Ou um perigo iminente.

E talvez… algo a mais.

Mas naquela noite, ambas estavam em campo. E cada palavra dita era uma peça movida com precisão. Um jogo sutil. Um duelo de poder.

E ninguém ali ousava interferir.

O salão silenciou quando o cerimonialista anunciou o nome de Alana Rivera para o discurso de abertura. Alguns se entreolharam, surpresos — esperavam que a nova CEO falasse. Mas era Alana quem subia os degraus com elegância firme, vestida de preto como quem carrega o luto com classe e poder.

Ela se posicionou atrás do microfone. Os holofotes a iluminaram e, por um breve instante, seus olhos brilharam como se carregassem o peso de uma história que ninguém ali conhecia por completo.

— Boa noite a todos. — começou, a voz firme, mas embargada nas bordas da emoção contida. — Este evento foi idealizado por Vitor Rivera, o fundador do grupo, o homem que muitos aqui conheceram como empresário... e que eu tive o privilégio de conhecer como mentor, conselheiro e — fez uma pausa, tragando a dor.

Um sussurro percorreu o salão. Daiana, parada perto do bar, se endireitou. Alana continuou.

— Ele me dizia que construir um império não significava apenas ter lucros... significava deixar legado. E legado é o que fazemos com as pessoas. Com o cuidado, com a confiança, com a coragem de apostar em alguém mesmo quando o resto do mundo vira as costas.

Ela respirou fundo. Não havia lágrimas, mas seus olhos estavam marejados.

— Senhor Vitor acreditou em mim, mesmo sem laços de sangue. Acreditou que o valor de alguém se mede pela integridade e pelo trabalho... não por sobrenome. Hoje, honro esse nome com o mesmo respeito com que ele me acolheu. Obrigada, senhor Vitor. Onde quer que esteja, espero que esteja orgulhoso de nós.

O silêncio durou mais que o esperado, como se ninguém soubesse reagir. Então os aplausos começaram — um som sincero, crescente, até se tornarem uma salva respeitosa e emocionada. Daiana foi a última a aplaudir, de pé, sem saber ao certo o que estava sentindo.

Mais tarde, com o evento já esvaziando, Daiana se aproximou de Alana, agora sozinha, sentada à beira de um dos sofás discretos do saguão.

— Belo discurso. — disse Daiana, com um tom neutro demais para parecer só um elogio.

Alana apenas assentiu com a cabeça, olhando o resto de champanhe em sua taça.

Daiana hesitou, depois perguntou, sem rodeios:

— Você e meu pai… chegaram a ter algum tipo de relação?

Alana virou lentamente o rosto em direção a ela. Não havia raiva em seu olhar. Apenas uma mistura de tristeza e cansaço antigo.

— Ele foi como um pai para mim. — respondeu, com uma calma que cortava mais do que qualquer grito. — E me respeitava profundamente. Sempre soube que eu era lésbica. Nunca ultrapassou limites.

Daiana ficou em silêncio, visivelmente desconcertada. Passou a mão pelo colarinho do terno, como se aquilo pudesse consertar seu próprio desconforto.

— Me desculpa. Não devia ter perguntado isso. Foi… invasivo.

— Não me ofende. — disse Alana, com os olhos de volta ao copo. — Esse tipo de fofoca corre pelos corredores há anos. As pessoas sempre preferem acreditar que uma mulher só chega longe se estiver deitada com alguém poderoso. Mas seu pai me tratava como filha. E eu o amava como tal.

Daiana assentiu, engolindo a culpa com a mesma dificuldade que engoliria um espinho.

— Obrigada por ter falado.

Alana se levantou, ajeitando o vestido como quem encerra uma cena.

— De nada, chefinha. — disse, já voltando à sua postura firme e provocadora. — Agora, se me permite, vou embora antes que mais alguém decida perguntar se eu conquistei meu emprego por sedução.

Saiu deixando Daiana sozinha, entre o constrangimento e a admiração silenciosa.

...🍻 🍻...

...Capítulo de hoje servido com um leve toque de veneno, olhares intensos e um discurso que emocionou até as taças de champanhe! Alana entregou tudo e mais um pouco, enquanto Daiana… bom, Daiana tá tentando entender se sente raiva, admiração ou outra coisa que começa com “a” e termina com “tração”. 👀🔥...

...Se você também ficou sem ar com essa dupla, curte, comenta o que achou e clica no botão “🎁 Presentear” se quiser apoiar a autora....

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...Nos vemos no próximo capítulo… ou nos bastidores desse jogo de poder e desejo. 😏...

...Beijos com gosto de cerveja artesanal,...

...Gabs Oliver...

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