A semana havia sido marcada por sorrisos disfarçados de ironia e olhares afiados como lâminas. Daiana e Alana, duas forças opostas orbitando o mesmo centro de poder, testavam os limites uma da outra com pequenas provocações, disputas sutis, toques de sarcasmo que se acumulavam como eletricidade no ar.
Na sexta-feira, o silêncio da manhã foi quebrado quando Daiana entrou sem bater na sala de Alana, devolvendo a ousadia da semana anterior.
— Me acompanhe até as fábricas — disse, com a voz firme e um leve levantar de sobrancelha. — Quero conhecer cada etapa do processo. Ver como são feitas as nossas cervejas. Todas elas.
Alana levantou os olhos do computador e deixou um sorriso crescer lentamente no rosto, como quem aprecia um desafio.
— Em cinco minutos a gente sai. — respondeu, com a mesma leveza de quem já planeja o contra-ataque.
O carro cruzou os portões da fábrica principal do Grupo Rivera, um enorme complexo industrial cercado por silos de aço inox brilhando sob o sol. Daiana olhava tudo com um misto de admiração e responsabilidade esmagadora. Era ali que a alma da empresa fermentava. Literalmente.
Ao descer do carro, Alana assumiu o controle da situação como se estivesse em casa. Caminhava à frente, passos firmes, voz segura.
— A gente começa pela produção da “Rubra Alma”, nossa cerveja artesanal de malte avermelhado. É a mais premiada. Ela passa por um processo de mosturação mais longo, com três tipos de malte: pilsen, caramelo e vienna. Isso dá aquele sabor encorpado e cor que lembra o pôr do sol. — fez uma pausa, lançando um olhar de canto para Daiana. — Talvez você goste. É forte, mas suave no final. Quase como certas pessoas.
Daiana sorriu de lado, sem responder. Acompanhava com atenção, mas sem deixar a guarda baixar.
— E essa parte? — perguntou, apontando para os tanques enormes.
— Fermentadores. Aqui é onde a mágica acontece. A levedura age, o açúcar vira álcool e gás carbônico. Temperatura controlada, tempo exato. Um erro e a cerveja desanda. Tipo uma gestão mal feita. — Alana virou-se para encará-la. — Entende a analogia?
— Entendo. E fico feliz que você saiba fazer bem sua parte. Assim posso aprender e não repetir os erros de ninguém. — respondeu Daiana, com doçura venenosa.
Seguiram para outro setor.
— Agora a “Brisa Morena”. Uma lager mais leve, com notas cítricas e final refrescante. Vai bem com dias quentes e reuniões tensas. — comentou Alana, quase rindo.
— Ou com visitas à fábrica acompanhada de alguém insuportável. — completou Daiana com ironia.
Alana soltou uma risada curta, sincera.
— Você não é tão ruim quanto parece, Daiana.
— E você não é tão insuportável quanto se esforça pra ser. — retrucou ela.
O passeio continuou, passando pela linha de envase e pelos testes de qualidade. Cada cerveja carregava um nome e uma história: “Noite densa”, escura e intensa como um segredo mal contado; “Aurora Viva”, dourada como promessas novas demais para serem reais.
Daiana ouvia, perguntava, provocava. Alana respondia com paciência calculada e olhares que falavam mais do que as palavras permitiam. A tensão entre elas não diminuía — apenas se sofisticava. A disputa se transformava em algo mais refinado, como uma boa cerveja que amarga no começo e deixa um gosto intrigante na boca.
Quando voltaram para o carro, Daiana entrou primeiro. Alana deu a volta e, ao se sentar, disse:
— Agora que você viu como tudo é feito, talvez entenda que não é só assinar papel. É colocar alma em cada etapa.
— E talvez você entenda que eu não estou aqui pra brincar de empresária. — respondeu Daiana. — Eu vim pra ficar.
As portas do carro se fecharam. E pela primeira vez, o silêncio entre elas não era hostil. Era um brinde não feito, uma guerra declarada com taças invisíveis.
Ao voltarem para a empresa, Daiana caminhava com os olhos fixos à frente, como se já planejasse o próximo passo.
— Iremos com mais frequência às fábricas. — avisou, sem rodeios, ao parar diante da sala de Alana.
— Como você quiser. — respondeu Alana, com um tom que misturava frieza e desafio.
O silêncio entre elas voltou a ser um campo de guerra velada. E assim permaneceram até o fim do expediente. Sem mais provocações, sem mais trocas de olhares. Apenas distância calculada.
Quando o final de semana chegou, ambas foram embora sem se despedir.
...🥂...
O sábado trouxe consigo a sombra elegante de um evento corporativo. Poucos dias após o falecimento do patriarca, senhor Vitor Rivena, o grupo organizara uma recepção formal para apresentar os novos sócios e fortalecer alianças. A presença de todos os executivos era obrigatória. E a presença de Daiana, inevitável.
Alana chegou primeiro.
Vestia um vestido preto que grudava no corpo como se tivesse sido moldado para ela. Os detalhes brilhantes nas laterais capturavam a luz com sutileza. Os cabelos, presos em tranças delicadas, revelavam a nuca e o pescoço de pele suave, onde uma pequena tatuagem provocava curiosidade. Sexy sem esforço. Elegante como quem sabia exatamente o efeito que causava.
Ela caminhava entre os convidados com uma desenvoltura impressionante. Conversava com cada sócio com segurança, demonstrando conhecimento sobre seus investimentos, histórias familiares, preferências — como se tivesse memorizado um dossiê de cada um. E o mais surpreendente: até as esposas mais ciumentas pareciam encantadas com seu jeito afável, com seu olhar que sabia ser doce sem parecer falso. Alana brilhava.
Do lado de fora, Daiana ainda não havia entrado.
Preferia observar. Estudar o ambiente antes de entrar era parte de sua estratégia. Carregava a frieza de quem aprendeu cedo a não confiar em ninguém e a elegância natural de quem não precisava exagerar.
Usava um terno preto impecável, gravata escura, o cabelo alinhado. Simples. Direta. Imponente. A herdeira Rivena não precisava anunciar sua chegada — bastava aparecer, e o ar ao redor se ajustava.
Seus olhos estavam presos em Alana.
Ela a observava como se tentasse decifrar algo. Talvez a popularidade inesperada. Talvez a forma como Alana se movia entre os poderosos com a mesma facilidade que Daiana costumava considerar sua. Ou talvez fosse só o incômodo de perceber que, apesar de toda a arrogância, Alana sabia jogar aquele jogo.
E estava ganhando.
Inspirou fundo, ajeitou o paletó com um único movimento e, enfim, entrou no salão. O som diminuiu ligeiramente, como se o ambiente notasse sua presença.
Alana virou o rosto naquele instante e seus olhares se cruzaram.
Por um segundo — apenas um segundo — o mundo pareceu desacelerar. Nenhuma das duas sorriu. Nenhuma das duas desviou.
Uma guerra silenciosa começava ali. Com saltos, gravatas, taças de champanhe e frases educadas demais para serem verdadeiras.
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Atualizado até capítulo 40
Comments
💜🦋 Fuyuki 🐺💛
Uma facada atrás da outra
2025-08-03
1
Barbara Coveteiraples
Conexão /Chuckle/
2025-08-11
1
Leslie
é desejo
2025-08-03
0