A SALA DA CEO

A segunda-feira amanheceu cinzenta, como se até o céu compartilhasse da tensão que pairava sobre o Grupo Rivera. Daiana vestiu-se com confiança forçada — um blazer de corte ousado marcando sua presença a cada passo. Ao colocar os pés no saguão da empresa, sentiu dezenas de olhares sobre si: alguns curiosos, outros desconfiados. O sobrenome Rivera carregava peso, e todos sabiam que ela não era o tipo que combinava com gravatas, planilhas ou conselhos empresariais.

Uma recepcionista simpática a guiou até o 12º andar, onde o conselho e alguns diretores já a aguardavam. A sala de reuniões, imponente e fria, era ocupada por rostos que Daiana não conhecia — mas todos a conheciam. Seu irmão, Carlos Rivera, estava de pé à cabeceira da mesa, pronto para oficializar o teatro.

— Senhores e senhoras, apresento a nova CEO do Grupo Rivera: Daiana Rivera. — Carlos falava com voz firme, mas havia um leve tremor de preocupação em seu tom.

Daiana sorriu, aquele sorriso calculado de quem sabe improvisar quando necessário. Caminhou com postura segura até o centro da sala, como se estivesse em um palco. E, de certa forma, estava mesmo.

Alana assistia tudo sentada ao fundo da mesa. Os braços cruzados denunciavam o ceticismo, e o olhar fixo em Daiana dizia mais do que qualquer palavra poderia. Para ela, aquilo era uma encenação. Uma escolha frágil feita às pressas. Uma tentativa desesperada de manter o nome da família em destaque, mesmo que fosse com a filha errada.

Carlos, tentando conter o incômodo silêncio, se apressou:

— Daiana, essa é Alana. Ela era os olhos e ouvidos do nosso pai aqui dentro. Ele a treinou, confiou nela. Tudo o que sei, aprendi com ela. E agora, ela vai te ensinar também. Aproveite essa oportunidade.

Alana forçou um sorriso. Pequeno, discreto, quase uma linha reta nos lábios. Por dentro, no entanto, o pensamento era claro como o dia:

"Ajudar? Eu não vou segurar a mão de herdeira mimada nenhuma."

— Vai ser um prazer trabalhar com você, Alana. Espero aprender tudo o que puder. — disse Daiana, estendendo a mão, como se estivesse sendo sincera.

Alana apertou a mão por obrigação. Estava fria. Como uma promessa feita contra a vontade.

Após as formalidades, os membros do conselho se dispersaram e Carlos seguiu para uma videoconferência. Daiana, sem perder tempo, virou-se para Alana:

— Você pode me mostrar minha sala?

Alana assentiu com um gesto seco de cabeça e caminhou à frente. Ao entrarem, indicou os sistemas e ferramentas da empresa com explicações mínimas, cada palavra medida com economia.

— Aqui estão os arquivos da semana. Você deve aprovar os contratos maiores até quarta. Temos uma fusão em análise, mas posso cuidar disso. Não quero sobrecarregar você nos primeiros dias.

— Não quero que você cuide de tudo por mim. Quero entender o que estou fazendo aqui. — Daiana respondeu, firme, observando Alana com atenção. — Não estou aqui pra brincar, por mais que você ache isso.

Alana arqueou uma sobrancelha, surpresa pela firmeza.

— Veremos. — respondeu, antes de sair da sala, os saltos ecoando no chão de mármore como um aviso: não facilitaria.

Ficando sozinha, Daiana caminhou até a poltrona de couro atrás da mesa, girou-a devagar e sentou-se, soltando um suspiro longo. Seus olhos passearam pela sala elegante que agora era sua. Passou os dedos pelas tatuagens à mostra no antebraço, como se buscasse coragem nelas. A serpente, as flores, a gaivota — todas carregavam histórias, marcas da liberdade que ela sempre prezou.

Agora, ali dentro, liberdade era exatamente o que ela não tinha.

Ajustou o blazer, acendeu um cigarro (mesmo sabendo que não podia fumar ali) e murmurou para si mesma:

— Se é caos que eles querem... é isso que vão ter.

Alana entrou em sua sala, trancou a porta e sentou-se diante do computador com a precisão de quem domina o território. Digitava com agilidade, os olhos fixos na tela, sem deixar que pensamentos inúteis tomassem espaço. Não iria desperdiçar um segundo de produtividade com a imagem da herdeira mimada — jovem demais, rebelde demais, tatuagens subindo pelo pescoço, piercings que brilhavam como afrontas em meio ao ambiente formal da empresa. Nada naquela nova CEO combinava com o Grupo Rivera. Mas Alana não podia dizer uma palavra. Ainda.

Enquanto isso, do outro lado do corredor, Daiana mergulhava em um mar de planilhas, gráficos, e sistemas internos que pareciam escritos em outra língua. Não estava ali apenas para esquentar cadeira — não deixaria que ninguém dissesse que ela não tentou. O cigarro da manhã havia sido o último alívio. Desde então, os olhos ardiam, os dedos doíam, mas ela precisava entender o funcionamento daquela máquina corporativa.

A batida seca na porta a tirou da concentração. Sua secretária sequer teve tempo de anunciar a visita.

— Você entra sem ser anunciada agora? — perguntou Daiana, irritada, levantando os olhos com a testa franzida.

Alana fechou a porta com calma antes de responder, o tom de voz cortante:

— Eu preciso ser anunciada? Achei que já tivesse deixado claro... eu sou seus olhos aqui dentro. E seus olhos precisam ver tudo.

Daiana riu com um pouco de desdém. Estava cansada, mas ainda mantinha a língua afiada.

— Tá. O que você quer agora?

Alana caminhou até a mesa com passos calculados, os saltos baixos ressoando com leveza, quase em silêncio. O corpo movia-se com uma sensualidade que ela jamais admitiria, mas sabia usar como arma. Colocou dois contratos diante de Daiana, inclinando-se ligeiramente — o suficiente para invadir o espaço da outra, mas não o bastante para ser acusada de nada.

— Preciso de duas assinaturas. Já revisei tudo.

— E eu também preciso revisar. — respondeu Daiana, sem baixar o olhar, tentando manter a firmeza.

Alana não se incomodou. Sorriu, um sorriso enviesado, quase preguiçoso. Depois se aproximou do ouvido da nova CEO e sussurrou com provocação:

— Como você quiser, chefinha. As assinaturas são só pra amanhã.

Virou-se e saiu, deixando um rastro de perfume e uma tensão mal resolvida no ar.

Daiana ficou encarando a porta fechada. O coração batia mais rápido do que devia — não por medo, nem por raiva. Era algo mais incômodo: Alana sabia jogar. Sabia provocar. E aquilo, de algum modo, a atingia onde não queria ser tocada.

Ela mordeu o canto do lábio, voltou os olhos para os contratos e pensou em voz baixa:

— Essa mulher vai ser um problema…

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Comments

Leslie

Leslie

Vai ser um problema mesmo /Chuckle//Chuckle//Chuckle/

2025-08-02

1

Maria Andrade

Maria Andrade

Daiana se prepara que Alana não facilita pra vc

2025-08-04

1

Barbara Coveteiraples

Barbara Coveteiraples

Vai ser mesmo.

2025-08-09

0

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