capítulo 4

Confessar é o Primeiro Passo

A quarta-feira amanheceu nublada, e Alex sentia o coração pesado. Apesar da reconciliação silenciosa com Jonas, algo dentro dele parecia gritar por espaço. O medo ainda estava lá, mas agora se misturava com outra coisa: vontade de ser verdadeiro.

Durante o intervalo, Alex sentou com Luana, sua melhor amiga desde o fundamental. Ela era daquelas pessoas que enxergavam além do que se dizia. E, por isso mesmo, Alex hesitava em contar qualquer coisa.

— Tá estranho — ela disse, mordendo o canudo do suco. — Tá diferente. É o Jonas?

Alex arregalou os olhos. — Como assim?

Luana deu de ombros. — Vocês pararam de se matar do nada, agora vivem se olhando de canto. Eu conheço seu tipo de silêncio, Alex. Ele só aparece quando você tá segurando coisa demais por dentro.

Alex abaixou os olhos. A voz embargou antes mesmo da fala vir.

— Eu tô... com ele, Lu. Quer dizer, não sei exatamente o que a gente é ainda. Mas tem alguma coisa acontecendo. Algo de verdade.

Luana ficou em silêncio por um segundo. Depois sorriu, largo, como se aquilo fosse a resposta que ela esperava ouvir há tempos.

— Eu já sabia.

— Sabia?

— Eu sentia. Só estava esperando você perceber que não tem nada de errado nisso. Aliás... fico feliz por você ter encontrado alguém que te faça calar a boca por alguns minutos. Isso é raro.

Alex soltou uma risada trêmula. Pela primeira vez em dias, o peso no peito aliviou um pouco.

— Eu tô com medo, Lu. Do que os outros vão dizer. Do meu pai. Da escola inteira. De mim mesmo.

Ela o olhou com carinho.

— Ter medo não te torna fraco. Mas deixar o medo controlar você... isso sim é perigoso. E se esse garoto faz seu coração bater diferente, então segura a mão dele, nem que seja no escuro. Porque tem gente que passa a vida inteira sem sentir isso.

As palavras de Luana ficaram ecoando na mente de Alex pelo resto do dia.

Mais tarde, na saída, ele viu Jonas encostado na árvore onde costumavam se encontrar. A expressão era de cansaço, mas os olhos se acenderam ao ver Alex se aproximando.

— Tá tudo bem? — Jonas perguntou, ajeitando a mochila no ombro.

Alex não respondeu de imediato. Parou em frente a ele, os olhos firmes.

— Eu contei pra Luana.

Jonas ficou em silêncio. — E...?

— E ela me deu o maior apoio do mundo. Disse que é melhor andar no escuro segurando a mão de alguém do que sozinho na luz.

Jonas mordeu o lábio, tentando conter um sorriso.

— Ela tem razão. E você? Tá se sentindo melhor?

— Um pouco. Ainda com medo, mas... mais leve.

Jonas assentiu. Depois olhou em volta. O pátio estava quase vazio. Ainda assim, hesitou.

Mas Alex não. Estendeu a mão, com a palma virada pra cima.

Jonas olhou para ela. E, com um leve sorriso, segurou.

Pela primeira vez, mesmo que por poucos segundos, eles não se esconderam.

E naquele toque breve, naquela pequena coragem, nasceu uma promessa silenciosa: eles iriam enfrentar o mundo — passo por passo, medo por medo — juntos.

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