Onde o Medo Se Esconde
O fim de semana chegou, mas, para Alex, não trouxe alívio. Na verdade, o silêncio do sábado o incomodava mais do que os gritos de qualquer briga com Jonas. Porque agora, aquele silêncio era ausência — e ele sentia falta. Falta de Jonas. Falta de algo que ainda não sabia nomear.
Deitado na cama, encarando o teto do quarto, ele lembrava dos olhos de Jonas. Do jeito como ele sorria com os cantos da boca. Do toque tímido dos dedos na biblioteca. E, principalmente, daquela pergunta: “Você acha que isso aqui é errado?”
Alex queria responder de novo, em voz alta, que não. Mas por dentro, havia um turbilhão. Como explicar isso ao mundo? Aos amigos do futebol que viviam fazendo piadas? Ao pai, que dizia que “homem de verdade” não podia ser “sensível demais”?
No domingo, sem aguentar mais, ele mandou uma mensagem:
Alex: Você vai amanhã mais cedo?
A resposta veio quase imediata.
Jonas: Claro. 6h50 no banco de sempre.
Era tudo o que ele precisava saber.
Na segunda-feira, o ar parecia diferente. Não importava o céu nublado, nem o cansaço do início de semana. Alex atravessou o portão da escola e viu Jonas sentado no banco perto da árvore do pátio, como prometido.
Jonas sorriu ao vê-lo. Um sorriso calmo, que aquecia por dentro.
— Pensei que fosse desistir — disse ele.
— Pensei também — respondeu Alex, sentando ao lado dele. — Mas alguma coisa me puxou até aqui. Acho que era você.
Os dois se olharam, e o momento se alongou no tempo. Nenhum deles ousava dizer mais, como se palavras pudessem quebrar algo delicado demais.
— Você falou pra alguém? — perguntou Jonas, desviando o olhar.
— Não... E você?
Jonas balançou a cabeça negativamente. Havia uma tristeza discreta ali. Um medo compartilhado, pesado demais para dois adolescentes.
— Eu fico pensando se isso vai durar — disse ele, baixinho. — Ou se vai acabar assim que alguém descobrir.
Alex sentiu o estômago apertar. Ele pensava nisso também. Em como tudo parecia frágil, secreto. Bonito demais para o mundo aceitar.
— Eu também tenho medo. Mas... prefiro viver isso com medo do que passar o resto da vida fingindo que não aconteceu.
Jonas virou o rosto devagar, encarando-o. Os olhos estavam úmidos, mas firmes.
— Eu gosto de você, Alex. De verdade. Não é brincadeira.
Alex sentiu o coração bater forte no peito. Cada palavra de Jonas soava como uma avalanche e, ao mesmo tempo, como um alívio.
— Eu gosto de você também. Mesmo sem entender tudo. Mesmo com medo.
Nesse instante, um grupo de alunos passou correndo pelo pátio, fazendo piadas, jogando mochila uns nos outros. Um deles gritou algo sobre "viadinhos da biblioteca", rindo alto. Alex e Jonas se afastaram instintivamente. A bolha em que estavam explodiu de repente.
— É disso que eu falo — sussurrou Jonas. — A gente mal se encosta e já vira alvo.
Alex apertou os punhos. Queria levantar e bater em alguém. Mas não o fez. Porque no fundo, ele também queria se esconder. E isso o envergonhava.
— Eles não sabem nada. São idiotas — tentou dizer, mas soou fraco até para si mesmo.
Jonas se levantou.
— Eu preciso ir. Te vejo depois?
— Jonas, espera...
Mas Jonas já se afastava, rápido demais. Alex ficou sentado, sentindo o coração afundar.
As horas seguintes passaram lentas. Na aula, Alex mal conseguia prestar atenção. A imagem de Jonas indo embora, machucado, não saía da sua cabeça.
Depois da escola, ele foi até a biblioteca, como nos dias anteriores. Jonas não apareceu.
Na terça, foi igual. Nem sinal dele.
Na quarta, Alex decidiu procurá-lo.
Achou Jonas no fundo do pátio, encostado no muro, com os fones nos ouvidos. Mas o olhar estava longe, perdido.
— Você me evitou — disse Alex, direto.
Jonas tirou os fones devagar.
— Só tô tentando respirar. Tá difícil.
Alex se sentou ao lado dele, deixando um espaço entre os dois. O silêncio durou alguns segundos.
— Eu não sou como você, Alex. Você parece forte. Eu me desmancho fácil.
— Você é mais forte do que pensa. E eu só pareço forte. Por dentro, eu sou um caos.
Jonas olhou para ele, os olhos vermelhos. — Eu queria segurar sua mão no meio do pátio. Só isso. Sem ter medo.
Alex sentiu a garganta fechar. Ele também queria. Queria mais do que tudo. Mas o medo ainda o prendia.
— Então... vamos fazer isso. Quando a gente estiver pronto. Mas não sozinhos.
Jonas respirou fundo. — Promete que não vai sumir?
— Só se for com você.
Os dois sorriram, tristes, mas cúmplices. Não era fácil. Nunca seria. Mas agora, sabiam que estavam juntos nessa jornada.
Naquela noite, Alex ficou acordado até tarde. Pensava em como o amor era uma coisa estranha. Nascia do nada. Crescia no meio do medo. Mas ainda assim, era bonito.
Ele abriu o bloco de notas do celular e escreveu uma frase só:
"Mesmo em silêncio, o coração deles gritava um pelo outro."
E ali, no escuro do quarto, Alex sorriu. Porque, apesar de tudo, eles estavam começando a amar.
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Atualizado até capítulo 42
Comments
fofoqueira de plantão✌️
Eu odeio essas pessoas homofóbicas😭🙄
2025-08-28
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