O silêncio que se seguiu à saída abrupta de Keizo foi quase tão opressor quanto a sua presença. Nyonya permaneceu sentada à mesa grandiosa, os músculos tensos, o coração ainda batendo como um tambor de guerra em seu peito. Um sorriso vitorioso e amargo brincava em seus lábios. Ela o havia atingido. Ela o fizera perder a calma, rachar a sua fachada de implacabilidade. Era uma vitória pequena, mas significativa, um lembrete de que, mesmo aprisionada, sua mente e seu espírito permaneciam livres.
Ela esperou por uma punição imediata, talvez Marco retornando para arrastá-la para uma cela real, ou o próprio Keizo voltando com uma raiva fria e calculada. Mas nada aconteceu. Apenas o silêncio da mansão a cercava, um silêncio que parecia zombar de sua ousadia. Eventualmente, um dos empregados veio, recolheu os pratos intocados e a conduziu de volta ao seu quarto, a mesma expressão neutra e distante no rosto.
A noite foi inquieta. Nyonya tentou dormir, mas sua mente fervilhava com a cena do jantar, as palavras trocadas, o olhar de Keizo. Havia algo mais naquele olhar, algo que a intrigava e a assustava. Não era apenas raiva. Era... o quê? Frustração? Desejo? A ideia fez seu estômago revirar. Ela se recusava a acreditar que qualquer coisa além de ódio pudesse existir entre eles. Ele era seu carcereiro, e ela, sua prisioneira recalcitrante.
No dia seguinte, a rotina foi quebrada. Ninguém veio lhe trazer o café da manhã. Nyonya esperou, a fome apertando seu estômago, mas a porta permaneceu fechada. Ela bateu, chamou, mas não houve resposta. O silêncio da mansão era o único interlocutor. Era essa a punição? Ser ignorada, deixada para passar fome? A raiva começou a borbulhar novamente.
Horas se passaram. O almoço também não veio. A sede começou a incomodar. Nyonya tentou manter a calma, lembrar-se de que isso era um jogo mental, uma tentativa de quebrá-la. Ela se recusava a ceder. Caminhou pelo quarto, a energia da fúria sustentando-a. Ela não seria quebrada pela fome ou pela sede. Ela havia prometido a ele.
Finalmente, no final da tarde, a porta se abriu. Não era Marco, nem Keizo. Era uma mulher de meia-idade, com um avental branco impecável e uma expressão solene. Ela trazia uma bandeja com uma refeição completa e um jarro de água. Sem dizer uma palavra, colocou a bandeja na mesa de centro e se retirou, a porta se fechando suavemente atrás dela.
Nyonya se atirou na comida, devorando cada bocado como se fosse a última refeição de sua vida. O ato de comer era um ato de resistência, de sobrevivência. Ela não lhes daria a satisfação de vê-la fraca. Após a refeição, mais uma vez, o silêncio. Nem Keizo, nem Marco apareceram.
Os dias que se seguiram foram uma variação dessa rotina. Às vezes, as refeições vinham em horários regulares. Outras vezes, atrasavam, ou eram escassas. Era uma forma de tortura psicológica, de lembrá-la constantemente de seu estado de dependência. Mas Nyonya se recusava a reclamar, a pedir. Ela mantinha seu orgulho intacto, sua fachada de desafio inabalável.
Uma tarde, enquanto tentava inutilmente arrombar a janela do quarto, a porta se abriu. Keizo estava lá, observando-a. Ele usava um terno cinza chumbo, elegantemente cortado, e seu rosto estava como sempre, uma máscara de controle.
"Ainda tentando escapar, Nyonya?", ele perguntou, a voz sem emoção, mas com um toque de ironia.
Nyonya se virou para encará-lo, o rosto sujo de poeira da moldura da janela, mas os olhos ainda ardiam com desafio. "Eu não vou parar até conseguir. Você me prometeu um inferno, Keizo. E eu sou boa em cumprir promessas."
Ele deu um passo para dentro, os olhos varrendo o quarto, como se avaliasse seu progresso. "Seu inferno pode ser diferente do que você imagina. Você está segura aqui. Alimentada. Tem tudo o que precisa. Muitos trocariam de lugar com você."
"Não eu", Nyonya retrucou, com a voz carregada de nojo. "Eu não troco minha liberdade por luxo. Nunca."
Keizo assentiu lentamente, como se esperasse essa resposta. "É uma característica interessante em você. Mas insensata. Acha que seus pais estão vivendo em luxo agora? Acha que estão 'livres' da dívida?"
A menção de seus pais atingiu Nyonya como um soco no estômago. Ela não havia tido notícias deles desde a noite do sequestro. "O que você fez com eles?", ela perguntou, a voz tensa de pânico.
"Eles estão vivos", Keizo respondeu, com a mesma calma perturbadora. "Eles estão... trabalhando para pagar o restante da dívida. Sob minha supervisão, claro. E sob as minhas regras." Ele pausou, e Nyonya podia ver o brilho calculista em seus olhos. "Sua cooperação aqui, Nyonya, pode facilitar muito a vida deles. Ou dificultar."
A ameaça era clara. Keizo não a puniria diretamente, mas usaria seus pais como alavanca. Nyonya sentiu um nó na garganta. Ele havia encontrado seu ponto fraco.
"Você é um monstro", ela sussurrou, a voz embargada pela emoção.
"Sou um homem de negócios, Nyonya", ele corrigiu, sem um pingo de remorso. "E eu sempre recebo o que me é devido. Pense nisso. Sua rebeldia tem um preço. E quem paga são eles."
Ele se virou para sair, mas Nyonya o interrompeu. "O que eu tenho que fazer?", ela perguntou, a voz baixa, quase um sussurro. "Para... para ajudá-los?"
Keizo parou, e um sorriso predatório, quase imperceptível, surgiu em seus lábios. "Ainda não decidi. Mas por enquanto... basta você aceitar o seu lugar. E parar de tentar fugir."
Com essa última frase, ele saiu, deixando Nyonya em seu quarto-prisão, agora com um peso ainda maior sobre seus ombros. A rebeldia era fácil quando o único impacto era sobre ela. Mas a ideia de seus pais sofrendo por sua causa... isso mudava tudo. Ela se sentou na cama, as pernas bambas, a mente em turbilhão. Keizo havia jogado uma nova carta, e Nyonya sentia o fio da navalha se aproximar ainda mais. A liberdade dela agora tinha o preço da segurança de sua família.
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Atualizado até capítulo 107
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