Os dias na mansão de Keizo se arrastavam em um ciclo monótono e surreal. Nyonya acordava em uma cama de seda, envolta em um luxo que contrastava violentamente com a sua alma aprisionada. A cada manhã, ela se forçava a olhar para o espelho, buscando vestígios da estudante destemida que era, antes de se tornar a "propriedade" de um chefe da máfia. Seus olhos cor de mel, que antes brilhavam com curiosidade e determinação, agora carregavam um brilho de desafio e uma tristeza velada.
A rotina era imposta de forma sutil, mas inquebrável. Refeições eram servidas em horários fixos, trazidas por empregados silenciosos que evitavam contato visual, como se temessem a presença dela ou a ira de Keizo. A comida era excelente, gourmet, mas Nyonya a comia com um nó na garganta, sentindo-se um animal de estimação de luxo. Ela tinha acesso a todo o quarto, ao banheiro suntuoso, e até mesmo a uma biblioteca que exibia volumes raros, mas as portas para o mundo exterior permaneciam trancadas, suas janelas de vista deslumbrante revelando apenas o perímetro patrulhado pelos seguranças de Keizo. Marco, o brutamontes da noite do sequestro, era uma sombra constante, aparecendo ocasionalmente na porta para se certificar de que ela estava "bem" – uma palavra que Nyonya amargamente considerava um eufemismo para "ainda sob controle".
A maior parte do seu tempo era consumida pela busca incessante por uma brecha, uma falha na segurança, qualquer caminho para a liberdade. Ela inspecionava as paredes, os móveis, as maçanetas, os cantos mais remotos do quarto, com a esperança desesperada de encontrar uma rota de fuga. Seus dias de estudo em arquitetura gótica, que exigiam precisão e lógica, agora eram aplicados à sua própria prisão. Ela testava a porta repetidamente, pressionava as janelas, até mesmo considerava a possibilidade de improvisar uma corda com os lençóis de seda – uma ideia rapidamente descartada pela altura do andar e a visibilidade para os seguranças.
Keizo aparecia uma ou duas vezes ao dia. Não para ter uma conversa amigável, mas para reafirmar seu domínio e testar a resistência dela. Ele nunca batia; apenas entrava, como se tivesse o direito absoluto de invadir seu espaço, mesmo que esse espaço fosse uma prisão. Ela sempre o encontrava lendo um livro na biblioteca, ou trabalhando em seu escritório, ostentando sua fachada de CEO. Ele parecia ter tempo de sobra, uma calma que a irritava até o âmago.
Em uma dessas visitas, Keizo a encontrou lendo um dos livros da biblioteca, um clássico da literatura russa. Ele a observou em silêncio por um longo momento, e Nyonya sentiu seu olhar perfurar sua pele, a presença dele preenchendo o cômodo.
"Vejo que encontrou algo para ocupar sua mente", ele disse, a voz monótona, sem emoção.
Nyonya levantou os olhos do livro, um brilho desafiador neles. "Estudar é o que faço. Não é porque estou presa que vou parar de pensar."
Um canto de seus lábios se curvou, um leve e quase imperceptível sinal de... o quê? Divertimento? "Inteligência é uma arma, Nyonya. Mas também pode ser uma fraqueza, se mal empregada." Ele deu um passo à frente, e ela sentiu a tensão no ar aumentar. "Você continua com a ideia de que pode me desafiar, não é?"
"Eu não sou sua propriedade", ela repetiu, a frase se tornando seu mantra silencioso. "Nunca serei."
Os olhos escuros de Keizo se estreitaram ligeiramente. "Você pode não gostar da palavra, mas é a realidade. Seus pais me deviam. E você é o pagamento. Um pagamento... peculiar, eu concedo." Havia algo em seu tom, uma nuance que Nyonya não conseguiu decifrar, algo que não era apenas ameaça.
"Peculiar? Você me roubou da minha vida! Do meu futuro!" A voz de Nyonya se elevou, sua raiva e frustração se derramando. "Eles eram meus pais! Você não tinha o direito!"
Keizo deu mais um passo, diminuindo a distância entre eles. "Direito? Eu faço minhas próprias leis, Nyonya. E a lei da dívida é absoluta. Seus pais escolheram o caminho. Eu apenas cobro o preço." Ele parou a poucos centímetros dela, e Nyonya precisou levantar o queixo para encará-lo, sentindo o calor do corpo dele, o cheiro de sua colônia amadeirada, que era ao mesmo tempo atraente e assustador. Ele era um fio da navalha, perigoso e fascinante.
"E o que você vai fazer comigo?", ela perguntou, a voz mais baixa agora, mas carregada de desafio. "Me manter presa para sempre? Até quando?"
Um sorriso de escárnio surgiu no rosto de Keizo, um sorriso que não alcançava seus olhos. "Para sempre é uma palavra forte. Eu pretendo que você seja... útil. Útil para os meus propósitos. E até lá, você estará aqui. Em segurança. Protegida de tudo lá fora." Havia um tom irônico em "protegida", como se a maior ameaça para ela fosse o próprio Keizo.
"Eu não quero sua 'proteção'!", ela retrucou, o desprezo evidente em sua voz. "Quero minha liberdade!"
"Liberdade é um luxo que poucos podem pagar, Nyonya", ele respondeu, seus olhos varrendo o rosto dela, detendo-se nos seus lábios. A tensão no ar era quase palpável, uma eletricidade perigosa entre eles. "E você, no momento, tem uma dívida a ser paga." Ele se virou, encerrando a conversa de forma abrupta, e caminhou para a porta.
Antes de sair, ele parou e se virou novamente. "Há roupas no closet. São novas. Vista-as. E esteja pronta para o jantar. Você vai jantar comigo esta noite."
O tom de Keizo era uma ordem, não um convite. Nyonya sentiu um arrepio. Jantar com ele? Era um teste? Uma demonstração de poder? Ou algo mais? Ela sabia que não seria uma refeição tranquila. Seria mais uma batalha, um novo desafio em seu cativeiro dourado. Ela observou a porta se fechar atrás dele, o clique seco do trinco ecoando em seus ouvidos. A resistência era o único escudo que lhe restava.
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Atualizado até capítulo 107
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