A escuridão da noite engoliu Nyonya enquanto ela era arrastada para fora de sua casa, o ar gelado da madrugada chicoteando seu rosto e os gritos de seus pais, que agora pareciam ter despertado, ecoando dolorosamente em seus ouvidos. Ela lutou, esperneou, mas os braços de ferro do brutamontes eram inquebráveis. Keizo, com sua calma perturbadora, observava tudo à distância, como um predador que já havia garantido sua presa. O carro, um SUV preto e imponente com vidros fumê, esperava silenciosamente na rua. Ela foi jogada no banco de trás, o homem musculoso ao seu lado, enquanto Keizo se acomodava no banco do passageiro da frente, sem sequer olhar para trás.
A viagem foi um borrão de velocidade e desespero. Nyonya tentou memorizar o caminho, as ruas, as curvas, mas a escuridão da noite e a velocidade a impediam. Seus olhos, antes cheios de lágrimas de raiva e medo, agora estavam secos, fixos em um ponto invisível enquanto sua mente processava a brutalidade da situação. Seus pais... o que aconteceria com eles? A dívida. Que dívida era essa que a transformava em moeda de troca? A indignação fervia em seu peito, misturada com uma sensação de impotência esmagadora.
O carro parou tão abruptamente quanto havia partido. Quando a porta foi aberta, Nyonya foi puxada para fora, cambaleando, para um pátio imenso. A luz da manhã começava a quebrar no horizonte, revelando uma mansão colossal, mais uma fortaleza do que uma residência. Muros altos, portões de ferro forjado e uma arquitetura que misturava o clássico com o moderno, tudo exalava uma riqueza opulenta e uma segurança impenetrável. Era o tipo de lugar que se via em filmes, não em sua vida real.
Ela foi levada para dentro, os passos ecoando em um hall de entrada grandioso, com pisos de mármore polido e um lustre de cristal que parecia uma constelação suspensa. O ar era pesado com o cheiro de limpeza e um leve aroma de charuto, um contraste estranho com a violência da noite. Nyonya foi guiada por corredores amplos, adornados com obras de arte e móveis que pareciam valer mais do que a vida de sua família. O luxo era inegável, mas para ela, era um cativeiro de ouro e ferro.
Finalmente, ela foi empurrada para um quarto. Não era uma cela, mas um quarto de hóspedes que superava em muito o seu próprio. Uma cama king-size com lençóis de seda, um closet que parecia uma pequena loja, uma penteadeira elegante, e uma vista para um jardim impecável. Havia até mesmo um banheiro privativo com uma banheira de hidromassagem. Era uma ironia cruel: ser sequestrada e jogada em um paraíso dourado.
O brutamontes, que ela agora sabia se chamar Marco, apontou para a cama. "Fique aqui. O Chefe Keizo virá falar com você." Sua voz era rouca, sem emoção. Ele saiu, e a porta se fechou com um clique suave, mas definitivo. Nyonya correu até ela, tentando girar a maçaneta. Trancada. Ela socou a madeira, a frustração explodindo em um grito mudo.
Ela estava sozinha. Completamente sozinha em um lugar que era lindo e sufocante ao mesmo tempo. Nyonya caminhou até a janela, observando o sol nascer, pintando o céu com tons de laranja e rosa. A vista era deslumbrante, mas a cerca alta e os seguranças patrulhando o perímetro deixavam claro que não havia fuga.
Horas se arrastaram. A raiva de Nyonya deu lugar a uma exaustão profunda. Ela se sentou na beira da cama, os olhos varrendo o quarto, procurando por qualquer sinal, qualquer pista. Por que ela? Por que seus pais? Ela era apenas uma estudante, com sonhos simples. Como sua vida se tornou um pesadelo de máfia e dívidas?
O som de passos no corredor a tirou de seus pensamentos. A porta se abriu novamente, e Keizo entrou. Ele não estava mais com o terno da noite anterior, mas com uma calça social escura e uma camisa branca impecável, os primeiros botões abertos revelando um vislumbre de seu peito definido. Seus cabelos ainda estavam perfeitamente penteados, e seus olhos escuros mantinham a mesma intensidade fria. Ele parecia ter acabado de sair de uma reunião de negócios, e não de ter sequestrado alguém.
"Espero que tenha se acomodado", ele disse, sua voz tão calma quanto antes, mas com um tom que não pedia uma resposta, mas uma aceitação. Ele caminhou até a janela, observando a mesma vista que ela havia contemplado.
Nyonya se levantou, a rebeldia acendendo novamente em seu olhar. "Acomodado? Você me sequestrou! Meus pais! Que dívida é essa? Eu não sou sua propriedade!" As palavras saíram em uma torrente, carregadas de toda a frustração e indignação que ela havia acumulado.
Keizo virou-se para encará-la, uma sobrancelha ligeiramente arqueada, como se ela fosse um problema interessante a ser resolvido. "Seus pais. Eles se envolveram em negócios que não entendiam. Pegaram dinheiro emprestado. E não pagaram." Ele deu de ombros, como se fosse a coisa mais lógica do mundo. "A dívida é grande. E eles não tinham como pagar."
"Então você me pega? É assim que você faz negócios? Sequestrando pessoas inocentes?" Nyonya deu um passo à frente, desafiando-o com o olhar. "Eu sou uma estudante! Eu não tenho nada a ver com isso!"
Um brilho quase imperceptível passou pelos olhos de Keizo, algo que Nyonya não conseguiu decifrar. "Você é a garantia. A partir de agora, você está sob minha proteção. E sob minhas regras." Ele se aproximou, e Nyonya sentiu o calor de sua presença, uma mistura de poder e um perigo latente que a fez recuar um passo. "Você não é inocente quando sua família se associa com a minha organização. E sim, Nyonya, é assim que eu faço negócios. E você é minha propriedade agora."
A última frase foi dita com uma finalidade que cortou o ar. Nyonya sentiu um arrepio. Ele não estava brincando. Essa não era uma negociação. Era uma sentença. Mas mesmo diante da frieza de Keizo, a chama de sua resistência não se apagou. Ela o encarou de volta, os olhos cor de mel fixos nos dele, uma promessa silenciosa de que, não importa o que acontecesse, ela nunca o obedeceria. O cativeiro podia ser de ouro, mas sua vontade era de ferro. E o jogo de poder estava apenas começando.
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Atualizado até capítulo 107
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