Capítulo 4 – Ecos da Tempestade

O som dos grilos e do vento noturno era a única melodia nas florestas de Erynnor. O luar filtrava-se entre as copas altas, derramando prata sobre os ombros de Kaela e Maire enquanto atravessavam o bosque. Já haviam caminhado por dois dias em silêncio contido — Maire à frente, sempre alerta, e Kaela absorvendo tudo com os olhos bem abertos.

A floresta não era apenas floresta. Cada árvore parecia antiga demais, cada pedra coberta de musgo guardava marcas como runas apagadas pelo tempo. E Kaela sentia. A pulsação na terra. Como se algo vivo e antigo observasse. Esperando.

— Essa trilha leva até as Colinas do Vento — explicou Maire, parando ao pé de uma árvore seca com marcas em espiral no tronco. — Era lá que os treinamentos das herdeiras aconteciam. Quando ainda havia um trono para elas.

Kaela se aproximou do tronco. Tocou a madeira.

— Você treinou lá?

Maire olhou para o alto das folhas, os olhos cheios de lembrança.

— Não. Quando eu nasci, as últimas Rainhas já tinham caído. Cresci entre nômades, mulheres que guardavam fragmentos das velhas histórias. Minha mãe morreu tentando proteger um manuscrito que continha os nomes das primeiras sete herdeiras. Foi por isso que jurei nunca deixar o trovão se apagar.

Kaela respirou fundo. Aquela era uma história que não conhecia — uma que não existia nos textos do templo. Lá, só havia leis. Mandamentos. E silêncio.

— Por que o império tem tanto medo de nós?

Maire virou-se lentamente para ela.

— Porque as Rainhas Tempestuosas não obedeciam.

Na manhã seguinte, as colinas do vento surgiram como uma muralha de pedras altas e nuvens baixas. O vento assobiava entre os vales estreitos e cada passo soava como um chamado.

— Há algo aqui — Kaela disse, franzindo o cenho.

— Você sente também.

— Sim. Mas não sei explicar.

Maire sorriu.

— É o eco do trovão antigo. Ele nunca abandonou este lugar. Você só está aprendendo a ouvir.

Caminharam por horas até chegarem ao topo da maior colina. Ali, havia ruínas. Pedras largas, caídas em círculo, e no centro — um altar partido, envolto por trepadeiras.

Kaela aproximou-se, ajoelhando-se diante do que um dia fora o centro do poder feminino no império. O local era silencioso, mas dentro dela, o trovão pulsava como um tambor.

Maire colocou a mão sobre o ombro da garota.

— Este foi o Círculo das Chamadas. Aqui, as herdeiras despertavam seus nomes verdadeiros.

— Nomes verdadeiros?

— Cada herdeira tem dois nomes: aquele que o mundo lhe dá... e o que o trovão revela. É o segundo que carrega o poder.

Kaela ficou em silêncio por longos minutos.

— Eu quero saber o meu.

Maire assentiu.

— Sente-se no centro. Feche os olhos. Escute o que vier.

O vento se intensificou. As folhas dançaram em espiral. Kaela sentiu o calor no peito expandir-se até os ombros, braços e coluna. Seu corpo pareceu se dissolver no chão, no ar, na luz do céu.

Uma escuridão caiu sobre sua visão fechada.

Depois, vozes.

Muitas. Femininas. Fortes.

"Kaela. Não é esse o nome que o trovão te deu."

Ela viu flashes: uma mulher de armadura feita de nuvens e raios; uma criança nascida em meio à tempestade; um círculo de espelhos antigos, onde cada reflexo era um destino.

"Você foi feita para comandar a tormenta. Para abrir o céu. Para gritar o nome das que vieram antes. Seu nome verdadeiro é..."

A voz se partiu em mil faíscas.

Kaela abriu os olhos.

Estava sozinha no centro das ruínas. Maire estava mais atrás, observando em silêncio.

— E então?

Kaela colocou a mão sobre o peito.

— Eu... ouvi muitas vozes. Mas o nome... ele se partiu.

Maire não pareceu surpresa.

— Porque ainda falta algo.

— O quê?

— As outras.

Enquanto as duas descansavam, abrigadas entre as pedras, Maire revelou mais do que sabia.

— Há um mapa. Fragmentado. Guardado em partes. As antigas Rainhas deixaram para trás pistas — templos secretos, objetos marcados, canções cifradas. Se reunirmos tudo, poderemos encontrar as outras herdeiras antes do império.

— E as outras... elas sentem isso? Como eu senti?

— Sim. Mas não compreendem. Algumas resistem. Outras têm medo. E algumas... vão preferir a ordem à liberdade.

Kaela franziu o cenho.

— Quer dizer que nem todas vão querer se unir?

— Quer dizer que algumas foram criadas para odiar o que são.

Um silêncio pesado caiu.

— E onde está a próxima? — Kaela perguntou.

Maire abriu um rolo de tecido grosso com marcas em vermelho.

— A primeira parte do mapa está na Cidade dos Sussurros. Uma vila antiga, onde os ecos do trovão foram enterrados por sacerdotes. Dizem que uma das descendentes da Casa da Voz Silenciosa está lá. Se ela ainda vive, deve ser a próxima a despertar.

— Quando partimos?

— Agora. Cada dia é uma chance que o império ganha de apagar tudo outra vez.

Do outro lado do continente, o Alto Patriarca Daeron recebia relatórios. Três sinais em uma semana. Um no templo. Um na vila de Vayenn. Um eco detectado nas Colinas do Vento.

— Elas estão se movendo — disse Arik, o conselheiro.

— Não. Elas estão acordando — Daeron corrigiu, os olhos fixos nas tapeçarias antigas.

Ele se aproximou de um espelho entalhado em prata. Nele, gravado em linguagem arcana, havia o nome da primeira Rainha. Mas o reflexo estava rachado.

— Enviem os Caçadores. Todos. Queimem os arquivos. Interroguem os servos. Cada mulher com olhos dourados deve ser interrogada. Cada símbolo espiral, apagado. Não deixem nada.

— E se encontrarmos alguma?

Daeron virou-se lentamente.

— Matem. Antes que descubram quem são.

Na trilha de pedra rumo à Cidade dos Sussurros, Kaela parou ao sentir algo no vento. Um calor no peito. Uma lembrança.

Aurenya.

Ela não sabia o nome da garota, nem onde estava. Mas sentia o eco. Como um fio invisível ligando as duas.

— Alguém me ouviu — sussurrou Kaela.

Maire olhou para ela.

— Sim. Agora é sua vez de ouvir de volta.

E, com passos firmes, as duas desceram pela encosta, levando consigo a promessa do trovão.

Capítulos
1 Capítulo 1 – A Serva da Tempestade
2 Capítulo 2 – As Correntes Invisíveis
3 Capítulo 3 – A Que Dança com Raios
4 Capítulo 4 – Ecos da Tempestade
5 Capítulo 5 – A Voz Esquecida
6 Capítulo 6 – Vozes Sob a Tempestade
7 Capítulo 7 – O Guardião de Pedra
8 Capítulo 8 – A Canção do Vento Antigo
9 Capítulo 9 – O Nome que Estava Esquecido
10 Capítulo 10 – O Espelho e o Sangue
11 Capítulo 11 – Os Lacradores
12 Capítulo 12 – Vozes Queimam Mais que Fogo
13 Capítulo 13 – O Homem que Escreveu o Trovão
14 Capítulo 14 – Ecos na Prisão do Sal
15 Capítulo 15 – A Cidade Que Flutua no Esquecimento
16 Capítulo 16 – Vozes de Sangue e Relâmpago
17 Capítulo 17 – O Templo da Memória e o Chamado do Relâmpago
18 Capítulo 18 – O Mapa Sob a Pele
19 Capítulo 19 – Onde o Tempo Sangra
20 Capítulo 20 – Vozes na Tempestade
21 Capítulo 21 – Ecos da Rebelião
22 Capítulo 22 – O Refúgio dos Círculos Livres
23 Capítulo 23 – O Peso do Relâmpago
24 Capítulo 24 – O Conselho de Ferro e Céu
25 Capítulo 25 – Sussurros de Ferro
26 Capítulo 26 – Estrada de Cinzas
27 Capítulo 27 – Os Túneis da Serpente
28 Capítulo 28 – O Despertar da Serpente
29 Capítulo 29 – As Sombras de Aurenhall
30 Capítulo 30 – Nas Forjas de Ferro
31 Capítulo 31 – As Garras da Armadilha
32 Capítulo 32 – Vozes contra o Trovão
33 Capítulo 33 – O Dia da Tempestade
34 Capítulo 34 – O Coração da Tempestade
35 Capítulo 35 – As Cinzas do Palácio
36 Capítulo 36 – O Sussurro das Chamas
37 Capítulo 37 – A Primeira Tempestade
38 Capítulo 38 – O Eco da Revolta
39 Capítulo 39 – A Noite das Forcas
40 Capítulo 40 – O Primeiro Raio da Revolta
41 Capítulo 41 – O Conselho da Tempestade
42 Capítulo 42 – As Sombras se Movem
43 Capítulo 43 – As Garras do Império
44 Capítulo 44 – O Eco da Tempestade
45 Capítulo 45 – O Peso das Escolhas
46 Capítulo 46 – O Rugido do Trono
47 Capítulo 47 – O Sussurro Antes da Tempestade
48 Capítulo 48 – O Cerco das Águas
49 Capítulo 49 – A Noite dos Sussurros
50 Capítulo 50 – O Fôlego do Relâmpago
51 Capítulo 51 – Ecos da Tempestade
52 Capítulo 52 – O Navio Negro
53 Capítulo 53 – A Lança e o Trovão
54 Capítulo 54 – A Cidade que Desperta
55 Capítulo 55 – O Chamado da Tempestade
56 Capítulo 56 – O Silêncio Antes da Tempestade
57 Capítulo 57 – A Marcha do Trovão
58 Capítulo 58 – O Rugido da Tempestade
59 Epílogo – Depois da Tempestade
Capítulos

Atualizado até capítulo 59

1
Capítulo 1 – A Serva da Tempestade
2
Capítulo 2 – As Correntes Invisíveis
3
Capítulo 3 – A Que Dança com Raios
4
Capítulo 4 – Ecos da Tempestade
5
Capítulo 5 – A Voz Esquecida
6
Capítulo 6 – Vozes Sob a Tempestade
7
Capítulo 7 – O Guardião de Pedra
8
Capítulo 8 – A Canção do Vento Antigo
9
Capítulo 9 – O Nome que Estava Esquecido
10
Capítulo 10 – O Espelho e o Sangue
11
Capítulo 11 – Os Lacradores
12
Capítulo 12 – Vozes Queimam Mais que Fogo
13
Capítulo 13 – O Homem que Escreveu o Trovão
14
Capítulo 14 – Ecos na Prisão do Sal
15
Capítulo 15 – A Cidade Que Flutua no Esquecimento
16
Capítulo 16 – Vozes de Sangue e Relâmpago
17
Capítulo 17 – O Templo da Memória e o Chamado do Relâmpago
18
Capítulo 18 – O Mapa Sob a Pele
19
Capítulo 19 – Onde o Tempo Sangra
20
Capítulo 20 – Vozes na Tempestade
21
Capítulo 21 – Ecos da Rebelião
22
Capítulo 22 – O Refúgio dos Círculos Livres
23
Capítulo 23 – O Peso do Relâmpago
24
Capítulo 24 – O Conselho de Ferro e Céu
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Capítulo 25 – Sussurros de Ferro
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Capítulo 26 – Estrada de Cinzas
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Capítulo 27 – Os Túneis da Serpente
28
Capítulo 28 – O Despertar da Serpente
29
Capítulo 29 – As Sombras de Aurenhall
30
Capítulo 30 – Nas Forjas de Ferro
31
Capítulo 31 – As Garras da Armadilha
32
Capítulo 32 – Vozes contra o Trovão
33
Capítulo 33 – O Dia da Tempestade
34
Capítulo 34 – O Coração da Tempestade
35
Capítulo 35 – As Cinzas do Palácio
36
Capítulo 36 – O Sussurro das Chamas
37
Capítulo 37 – A Primeira Tempestade
38
Capítulo 38 – O Eco da Revolta
39
Capítulo 39 – A Noite das Forcas
40
Capítulo 40 – O Primeiro Raio da Revolta
41
Capítulo 41 – O Conselho da Tempestade
42
Capítulo 42 – As Sombras se Movem
43
Capítulo 43 – As Garras do Império
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Capítulo 44 – O Eco da Tempestade
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Capítulo 45 – O Peso das Escolhas
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Capítulo 46 – O Rugido do Trono
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Capítulo 47 – O Sussurro Antes da Tempestade
48
Capítulo 48 – O Cerco das Águas
49
Capítulo 49 – A Noite dos Sussurros
50
Capítulo 50 – O Fôlego do Relâmpago
51
Capítulo 51 – Ecos da Tempestade
52
Capítulo 52 – O Navio Negro
53
Capítulo 53 – A Lança e o Trovão
54
Capítulo 54 – A Cidade que Desperta
55
Capítulo 55 – O Chamado da Tempestade
56
Capítulo 56 – O Silêncio Antes da Tempestade
57
Capítulo 57 – A Marcha do Trovão
58
Capítulo 58 – O Rugido da Tempestade
59
Epílogo – Depois da Tempestade

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