Capítulo 2 – As Correntes Invisíveis

A floresta de Nareth se estendia como um mar de sombras diante de Kaela. O caminho era irregular, repleto de raízes grossas e folhas úmidas, mas a mulher ao seu lado avançava como se conhecesse cada pedra, cada árvore.

— Me chamo Maire — disse ela, ao passo que o céu clareava atrás delas. — E você deve aprender rápido. Não temos o luxo da lentidão.

Kaela, ainda com a respiração cortada da corrida, lutava para acompanhar. As palavras de Maire pesavam. Rainhas. Linhagem. Caçada. Herdeiras. Tudo parecia fantasia arrancada das histórias proibidas que ouvia escondida, quando os outros servos dormiam e as velhas cochichavam memórias de um tempo em que mulheres reinavam ao som do trovão.

Mas agora, não era história.

Era ela.

— O que sou? — perguntou Kaela, enfim, a voz baixa como um segredo.

Maire não parou de caminhar.

— Você é uma Filha do Trovão. Uma herdeira direta da Primeira Rainha. O sangue corre em você, adormecido por gerações. E agora, despertou.

— Mas... eu não sou nada. Fui criada como serva. Eu nem tenho um nome completo.

Maire parou. Virou-se com olhos firmes e gentis.

— O trovão não escolhe pelos nomes que te deram. Ele escolhe pela alma. E a sua foi feita para romper o céu.

Kaela não respondeu. Mas dentro dela, algo concordava.

Em outro canto do império, muito acima da floresta de Nareth, os corredores da Torre de Astrel, a sede imperial, vibravam com outra energia.

— Há relatos no templo de Nyros. Uma manifestação. — A voz do conselheiro Arik era tensa. Ele segurava um pergaminho selado com cera negra e uma runa trincada — sinal de que a mensagem fora enviada com urgência.

No salão das runas, o Alto Patriarca Daeron se manteve em silêncio por longos segundos. Seus olhos — frios como metal polido — repousavam sobre o mapa do império. Cada região marcada com um símbolo. Cada província sob controle. A ordem era o seu império. E qualquer rachadura devia ser esmagada.

— Uma mulher? — perguntou por fim.

— Sim. Jovem. Nenhuma família identificada. Mas os relatos falam de luz nos olhos. Relâmpagos nas mãos. O mesmo símbolo... o espiral.

O som que Daeron fez era entre um suspiro e um grunhido.

— Então não erramos. A linhagem sobreviveu. O selo se rompeu.

— Devo reunir os Caçadores de Silêncio?

Daeron assentiu lentamente.

— Todos.

Arik engoliu seco.

— Todos?

— Cada uma dessas meninas deve ser encontrada antes que saibam quem são. Antes que se unam. Uma pode ser contida. Mas juntas... — Seus olhos fitaram uma tapeçaria antiga: uma mulher de braços abertos sob uma tempestade. — Juntas, elas quebram o império.

Enquanto isso, Maire e Kaela se abrigavam sob um penhasco natural coberto por samambaias densas. Um pequeno fogo crepitava, e Maire tirava pão seco e folhas de chá de um alforje de couro envelhecido.

— Existem outras como eu? — Kaela perguntou, mãos espalmadas sobre os joelhos.

— Sim. Escondidas. Disfarçadas. Algumas nem sabem o que são. Mas o selo se partiu quando você despertou. Isso significa que todas podem sentir agora. E se uma começa... as outras vão seguir.

— E o que acontece se os Patriarcas as encontrarem primeiro?

Maire olhou o fogo.

— Eles as matarão. Como fizeram com nossas mães. Como fizeram com as que vieram antes delas. Queimaram livros. Reescreveram lendas. Transformaram poder em pecado.

— E por que tanto medo de nós?

— Porque não podem nos controlar.

Silêncio.

Kaela encostou-se a uma raiz exposta, os pensamentos em turbilhão. A dor nos pés, o medo da caçada, as palavras duras da matriarca Sira. Tudo agora parecia pequeno diante do que se abria à frente. Uma verdade muito maior do que o templo permitia sonhar.

Ela fechou os olhos. Sentiu o eco do trovão dentro do peito. Pulsando. Esperando.

Quando os abriu, fitou Maire com firmeza.

— Onde estão as outras?

Maire sorriu.

— Agora você está pronta.

Na Torre de Astrel, o Alto Patriarca Daeron aproximou-se da tapeçaria ancestral. Passou os dedos sobre o tecido onde uma mulher com olhos de raio erguia os braços para o céu.

— O trovão voltou a falar — murmurou.

E pela primeira vez em décadas, ele sentiu medo.

Capítulos
1 Capítulo 1 – A Serva da Tempestade
2 Capítulo 2 – As Correntes Invisíveis
3 Capítulo 3 – A Que Dança com Raios
4 Capítulo 4 – Ecos da Tempestade
5 Capítulo 5 – A Voz Esquecida
6 Capítulo 6 – Vozes Sob a Tempestade
7 Capítulo 7 – O Guardião de Pedra
8 Capítulo 8 – A Canção do Vento Antigo
9 Capítulo 9 – O Nome que Estava Esquecido
10 Capítulo 10 – O Espelho e o Sangue
11 Capítulo 11 – Os Lacradores
12 Capítulo 12 – Vozes Queimam Mais que Fogo
13 Capítulo 13 – O Homem que Escreveu o Trovão
14 Capítulo 14 – Ecos na Prisão do Sal
15 Capítulo 15 – A Cidade Que Flutua no Esquecimento
16 Capítulo 16 – Vozes de Sangue e Relâmpago
17 Capítulo 17 – O Templo da Memória e o Chamado do Relâmpago
18 Capítulo 18 – O Mapa Sob a Pele
19 Capítulo 19 – Onde o Tempo Sangra
20 Capítulo 20 – Vozes na Tempestade
21 Capítulo 21 – Ecos da Rebelião
22 Capítulo 22 – O Refúgio dos Círculos Livres
23 Capítulo 23 – O Peso do Relâmpago
24 Capítulo 24 – O Conselho de Ferro e Céu
25 Capítulo 25 – Sussurros de Ferro
26 Capítulo 26 – Estrada de Cinzas
27 Capítulo 27 – Os Túneis da Serpente
28 Capítulo 28 – O Despertar da Serpente
29 Capítulo 29 – As Sombras de Aurenhall
30 Capítulo 30 – Nas Forjas de Ferro
31 Capítulo 31 – As Garras da Armadilha
32 Capítulo 32 – Vozes contra o Trovão
33 Capítulo 33 – O Dia da Tempestade
34 Capítulo 34 – O Coração da Tempestade
35 Capítulo 35 – As Cinzas do Palácio
36 Capítulo 36 – O Sussurro das Chamas
37 Capítulo 37 – A Primeira Tempestade
38 Capítulo 38 – O Eco da Revolta
39 Capítulo 39 – A Noite das Forcas
40 Capítulo 40 – O Primeiro Raio da Revolta
41 Capítulo 41 – O Conselho da Tempestade
42 Capítulo 42 – As Sombras se Movem
43 Capítulo 43 – As Garras do Império
44 Capítulo 44 – O Eco da Tempestade
45 Capítulo 45 – O Peso das Escolhas
46 Capítulo 46 – O Rugido do Trono
47 Capítulo 47 – O Sussurro Antes da Tempestade
48 Capítulo 48 – O Cerco das Águas
49 Capítulo 49 – A Noite dos Sussurros
50 Capítulo 50 – O Fôlego do Relâmpago
51 Capítulo 51 – Ecos da Tempestade
52 Capítulo 52 – O Navio Negro
53 Capítulo 53 – A Lança e o Trovão
54 Capítulo 54 – A Cidade que Desperta
55 Capítulo 55 – O Chamado da Tempestade
56 Capítulo 56 – O Silêncio Antes da Tempestade
57 Capítulo 57 – A Marcha do Trovão
58 Capítulo 58 – O Rugido da Tempestade
59 Epílogo – Depois da Tempestade
Capítulos

Atualizado até capítulo 59

1
Capítulo 1 – A Serva da Tempestade
2
Capítulo 2 – As Correntes Invisíveis
3
Capítulo 3 – A Que Dança com Raios
4
Capítulo 4 – Ecos da Tempestade
5
Capítulo 5 – A Voz Esquecida
6
Capítulo 6 – Vozes Sob a Tempestade
7
Capítulo 7 – O Guardião de Pedra
8
Capítulo 8 – A Canção do Vento Antigo
9
Capítulo 9 – O Nome que Estava Esquecido
10
Capítulo 10 – O Espelho e o Sangue
11
Capítulo 11 – Os Lacradores
12
Capítulo 12 – Vozes Queimam Mais que Fogo
13
Capítulo 13 – O Homem que Escreveu o Trovão
14
Capítulo 14 – Ecos na Prisão do Sal
15
Capítulo 15 – A Cidade Que Flutua no Esquecimento
16
Capítulo 16 – Vozes de Sangue e Relâmpago
17
Capítulo 17 – O Templo da Memória e o Chamado do Relâmpago
18
Capítulo 18 – O Mapa Sob a Pele
19
Capítulo 19 – Onde o Tempo Sangra
20
Capítulo 20 – Vozes na Tempestade
21
Capítulo 21 – Ecos da Rebelião
22
Capítulo 22 – O Refúgio dos Círculos Livres
23
Capítulo 23 – O Peso do Relâmpago
24
Capítulo 24 – O Conselho de Ferro e Céu
25
Capítulo 25 – Sussurros de Ferro
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Capítulo 26 – Estrada de Cinzas
27
Capítulo 27 – Os Túneis da Serpente
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Capítulo 29 – As Sombras de Aurenhall
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Capítulo 30 – Nas Forjas de Ferro
31
Capítulo 31 – As Garras da Armadilha
32
Capítulo 32 – Vozes contra o Trovão
33
Capítulo 33 – O Dia da Tempestade
34
Capítulo 34 – O Coração da Tempestade
35
Capítulo 35 – As Cinzas do Palácio
36
Capítulo 36 – O Sussurro das Chamas
37
Capítulo 37 – A Primeira Tempestade
38
Capítulo 38 – O Eco da Revolta
39
Capítulo 39 – A Noite das Forcas
40
Capítulo 40 – O Primeiro Raio da Revolta
41
Capítulo 41 – O Conselho da Tempestade
42
Capítulo 42 – As Sombras se Movem
43
Capítulo 43 – As Garras do Império
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Capítulo 44 – O Eco da Tempestade
45
Capítulo 45 – O Peso das Escolhas
46
Capítulo 46 – O Rugido do Trono
47
Capítulo 47 – O Sussurro Antes da Tempestade
48
Capítulo 48 – O Cerco das Águas
49
Capítulo 49 – A Noite dos Sussurros
50
Capítulo 50 – O Fôlego do Relâmpago
51
Capítulo 51 – Ecos da Tempestade
52
Capítulo 52 – O Navio Negro
53
Capítulo 53 – A Lança e o Trovão
54
Capítulo 54 – A Cidade que Desperta
55
Capítulo 55 – O Chamado da Tempestade
56
Capítulo 56 – O Silêncio Antes da Tempestade
57
Capítulo 57 – A Marcha do Trovão
58
Capítulo 58 – O Rugido da Tempestade
59
Epílogo – Depois da Tempestade

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