Capítulo 3 – A Que Dança com Raios

Na vila de Vayenn, o céu parecia sempre um pouco mais azul. Distante dos centros imperiais, entre colinas suaves e campos de lavanda, o mundo parecia viver adormecido, alheio às guerras do passado e aos segredos que o império enterrava sob seus monumentos de pedra.

Era o fim da tarde, e Aurenya, filha de ferreiros e dona de uma risada escandalosa, caminhava sozinha pela encosta, colhendo galhos secos para o fogo da forja. A saia amarrada na cintura, os pés descalços, o rosto manchado de fuligem. Não se importava. Nunca fora como as outras garotas do povoado.

Desde pequena, ouvia os trovões como música.

— O som que os deuses fazem quando estão impacientes — dizia sua avó, entre uma gargalhada e outra.

Mas a avó morrera há dois invernos. E com ela, as histórias também se calaram.

Aurenya ajoelhou-se para pegar um ramo mais grosso, e quando o fez, sentiu a pontada: uma agulha de dor elétrica que percorreu seus dedos até o ombro. Gritou e recuou, soltando os galhos.

— Mas o quê…?

As mãos estavam formigando. Uma vibração quente percorreu seus braços. O vento ao redor pareceu mudar de direção, girando em torno dela como uma dança invisível.

O céu clareou.

Não com o sol, mas com um raio — que desceu, sem trovão, e atingiu o solo a poucos metros dela.

Aurenya ficou paralisada. O raio havia riscado o chão como um dedo traçando um símbolo.

Um espiral.

No alto da colina, dois homens de capas pretas observavam.

— É ela — disse um, com voz sem emoção.

— O selo está se rompendo mais rápido do que o previsto. Essa é a terceira em dois dias.

— O que faremos?

— O que sempre fazemos. Antes que ela compreenda o que é.

Os Caçadores de Silêncio se moviam como sombras. Os olhos ocultos, as espadas leves. Servos diretos do Trono. Nascidos para apagar rastros.

Aurenya corria de volta para a vila. Não sabia o que tinha acontecido, mas o raio… ele a chamara. Sentira isso. Como um sussurro antigo dentro de sua alma.

— Vó… — murmurou, quase sem fôlego. — Era isso que você queria dizer, não era?

Ao entrar no vilarejo, os olhares recaíram sobre ela.

— Aurenya? O que houve? — chamou o ferreiro Harvon, largando o martelo.

Ela hesitou. Todos a olhavam. Havia medo em seus olhos. Como se soubessem. Como se o céu tivesse contado.

— Nada — respondeu. — Eu só… caí.

Mas sua pele ainda tremia com faíscas. E quando tocou o chão da forja, ele vibrou sob seus pés.

Do outro lado do continente, Kaela acordava com um sobressalto.

— O que foi isso? — sussurrou, sentando-se.

Maire, já desperta ao lado da fogueira, apenas olhou para o céu, agora limpo, estrelado.

— Uma das suas irmãs sentiu o chamado — disse. — É assim que começa.

Kaela levou a mão ao peito. O espiral que antes só ardia agora pulsava, como um selo sendo quebrado do outro lado do mundo.

Ela não conhecia Aurenya.

Mas seu poder chamava.

Na vila de Vayenn, Aurenya se trancava no sótão da forja, as mãos ainda brilhando sob a luz do luar.

E enquanto os Caçadores se aproximavam pela escuridão, ela desenhava no chão — sem saber por que — o símbolo do trovão.

E pela primeira vez, quando a próxima rajada de vento soprou a janela… ela sorriu.

Capítulos
1 Capítulo 1 – A Serva da Tempestade
2 Capítulo 2 – As Correntes Invisíveis
3 Capítulo 3 – A Que Dança com Raios
4 Capítulo 4 – Ecos da Tempestade
5 Capítulo 5 – A Voz Esquecida
6 Capítulo 6 – Vozes Sob a Tempestade
7 Capítulo 7 – O Guardião de Pedra
8 Capítulo 8 – A Canção do Vento Antigo
9 Capítulo 9 – O Nome que Estava Esquecido
10 Capítulo 10 – O Espelho e o Sangue
11 Capítulo 11 – Os Lacradores
12 Capítulo 12 – Vozes Queimam Mais que Fogo
13 Capítulo 13 – O Homem que Escreveu o Trovão
14 Capítulo 14 – Ecos na Prisão do Sal
15 Capítulo 15 – A Cidade Que Flutua no Esquecimento
16 Capítulo 16 – Vozes de Sangue e Relâmpago
17 Capítulo 17 – O Templo da Memória e o Chamado do Relâmpago
18 Capítulo 18 – O Mapa Sob a Pele
19 Capítulo 19 – Onde o Tempo Sangra
20 Capítulo 20 – Vozes na Tempestade
21 Capítulo 21 – Ecos da Rebelião
22 Capítulo 22 – O Refúgio dos Círculos Livres
23 Capítulo 23 – O Peso do Relâmpago
24 Capítulo 24 – O Conselho de Ferro e Céu
25 Capítulo 25 – Sussurros de Ferro
26 Capítulo 26 – Estrada de Cinzas
27 Capítulo 27 – Os Túneis da Serpente
28 Capítulo 28 – O Despertar da Serpente
29 Capítulo 29 – As Sombras de Aurenhall
30 Capítulo 30 – Nas Forjas de Ferro
31 Capítulo 31 – As Garras da Armadilha
32 Capítulo 32 – Vozes contra o Trovão
33 Capítulo 33 – O Dia da Tempestade
34 Capítulo 34 – O Coração da Tempestade
35 Capítulo 35 – As Cinzas do Palácio
36 Capítulo 36 – O Sussurro das Chamas
37 Capítulo 37 – A Primeira Tempestade
38 Capítulo 38 – O Eco da Revolta
39 Capítulo 39 – A Noite das Forcas
40 Capítulo 40 – O Primeiro Raio da Revolta
41 Capítulo 41 – O Conselho da Tempestade
42 Capítulo 42 – As Sombras se Movem
43 Capítulo 43 – As Garras do Império
44 Capítulo 44 – O Eco da Tempestade
45 Capítulo 45 – O Peso das Escolhas
46 Capítulo 46 – O Rugido do Trono
47 Capítulo 47 – O Sussurro Antes da Tempestade
48 Capítulo 48 – O Cerco das Águas
49 Capítulo 49 – A Noite dos Sussurros
50 Capítulo 50 – O Fôlego do Relâmpago
51 Capítulo 51 – Ecos da Tempestade
52 Capítulo 52 – O Navio Negro
53 Capítulo 53 – A Lança e o Trovão
54 Capítulo 54 – A Cidade que Desperta
55 Capítulo 55 – O Chamado da Tempestade
56 Capítulo 56 – O Silêncio Antes da Tempestade
57 Capítulo 57 – A Marcha do Trovão
58 Capítulo 58 – O Rugido da Tempestade
59 Epílogo – Depois da Tempestade
Capítulos

Atualizado até capítulo 59

1
Capítulo 1 – A Serva da Tempestade
2
Capítulo 2 – As Correntes Invisíveis
3
Capítulo 3 – A Que Dança com Raios
4
Capítulo 4 – Ecos da Tempestade
5
Capítulo 5 – A Voz Esquecida
6
Capítulo 6 – Vozes Sob a Tempestade
7
Capítulo 7 – O Guardião de Pedra
8
Capítulo 8 – A Canção do Vento Antigo
9
Capítulo 9 – O Nome que Estava Esquecido
10
Capítulo 10 – O Espelho e o Sangue
11
Capítulo 11 – Os Lacradores
12
Capítulo 12 – Vozes Queimam Mais que Fogo
13
Capítulo 13 – O Homem que Escreveu o Trovão
14
Capítulo 14 – Ecos na Prisão do Sal
15
Capítulo 15 – A Cidade Que Flutua no Esquecimento
16
Capítulo 16 – Vozes de Sangue e Relâmpago
17
Capítulo 17 – O Templo da Memória e o Chamado do Relâmpago
18
Capítulo 18 – O Mapa Sob a Pele
19
Capítulo 19 – Onde o Tempo Sangra
20
Capítulo 20 – Vozes na Tempestade
21
Capítulo 21 – Ecos da Rebelião
22
Capítulo 22 – O Refúgio dos Círculos Livres
23
Capítulo 23 – O Peso do Relâmpago
24
Capítulo 24 – O Conselho de Ferro e Céu
25
Capítulo 25 – Sussurros de Ferro
26
Capítulo 26 – Estrada de Cinzas
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Capítulo 27 – Os Túneis da Serpente
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29
Capítulo 29 – As Sombras de Aurenhall
30
Capítulo 30 – Nas Forjas de Ferro
31
Capítulo 31 – As Garras da Armadilha
32
Capítulo 32 – Vozes contra o Trovão
33
Capítulo 33 – O Dia da Tempestade
34
Capítulo 34 – O Coração da Tempestade
35
Capítulo 35 – As Cinzas do Palácio
36
Capítulo 36 – O Sussurro das Chamas
37
Capítulo 37 – A Primeira Tempestade
38
Capítulo 38 – O Eco da Revolta
39
Capítulo 39 – A Noite das Forcas
40
Capítulo 40 – O Primeiro Raio da Revolta
41
Capítulo 41 – O Conselho da Tempestade
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Capítulo 42 – As Sombras se Movem
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Capítulo 43 – As Garras do Império
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Capítulo 44 – O Eco da Tempestade
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Capítulo 45 – O Peso das Escolhas
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Capítulo 46 – O Rugido do Trono
47
Capítulo 47 – O Sussurro Antes da Tempestade
48
Capítulo 48 – O Cerco das Águas
49
Capítulo 49 – A Noite dos Sussurros
50
Capítulo 50 – O Fôlego do Relâmpago
51
Capítulo 51 – Ecos da Tempestade
52
Capítulo 52 – O Navio Negro
53
Capítulo 53 – A Lança e o Trovão
54
Capítulo 54 – A Cidade que Desperta
55
Capítulo 55 – O Chamado da Tempestade
56
Capítulo 56 – O Silêncio Antes da Tempestade
57
Capítulo 57 – A Marcha do Trovão
58
Capítulo 58 – O Rugido da Tempestade
59
Epílogo – Depois da Tempestade

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