Prólogo

Villa Rossoverde, Toscana, Itália

Escondida entre as colinas douradas da Val d’Orcia, onde os vinhedos se perdiam no horizonte e o tempo parecia adormecer sob o calor do sol toscano, erguia-se a Villa Rossoverde. Uma construção grandiosa, silenciosa e cheia de segredos.

Cercada por muros cobertos de hera e protegida por homens que não usavam uniforme, mas cujos olhos vigiavam cada folha que caía, a mansão era conhecida apenas pelos locais como “a casa do vinho”. Mas ali dentro, entre bibliotecas subterrâneas e corredores de pedra fria, fermentava algo muito mais denso que uvas esmagadas.

Foi ali, cercada por muros altos e verdades ocultas, que crescia uma garotinha — silenciosa, solitária, e rodeada por inimigos. Lúcia.

Tinha os cabelos ruivos como chamas adormecidas, longos e finos, sempre escapando de tranças frouxas como se se recusassem a ser domados. A pele era tão pálida que parecia lutar contra o sol todas as manhãs — delicada demais para aquele mundo, como porcelana esquecida no escuro. Os olhos, de um verde quase líquido, carregavam a doçura dos que ainda não conhecem a maldade do mundo — ou fingem não conhecer.

Havia nela algo de irreal, como uma pintura antiga emoldurada pela pena. Uma beleza terna, quase angelical... que escondia, nas entrelinhas, o eco perigoso de uma linhagem esquecida, mas jamais extinta.

Criada e moldada pela família Costello. Emiliano, o patriarca da família, dizia para os quatro cantos que a tinha adotado por pena. Que a família mafiosa italiana, conhecida por sua frieza e código implacável, havia aberto um raro espaço para caridade. Mas as paredes da Villa Rossoverde sabiam a verdade: Lúcia não era uma mera filha postiça — era um segredo.

Don Emiliano, conhecido como “O Magnânimo” entre seus aliados, era um homem de aparências. Duro com seus inimigos, mas teatral diante da sociedade. Tinha duas filhas legítimas: Eleonora e Bianca, ambas não ligavam para a diplomacia e o jogo político, o que acabou enfraquecendo o legado dos Costello. Lúcia não era uma Costello de sangue, mas fora colocada entre as herdeiras como uma peça dissonante num tabuleiro de mármore. Um enigma incômodo, sem lugar, sem raízes — e, por isso mesmo, útil.

A menina cresceu como uma sombra, uma princesa sem reino presa na própria torre. Não lhe era permitido sair sozinha. Nem estudar fora, nem fazer amizades, nem sequer sonhar com a liberdade. Ela era bela, brilhante, inteligente e era herdeira de um sangue que não perdoava — e por isso, perigosa. Quanto mais crescia, mais sorrisos se tornavam tensos ao seu redor. Quanto mais suas perguntas ganhavam forma, mais portas se fechavam. Cresceu com livros ao invés de amigas, com silêncios ao invés de histórias sobre seus pais.

Ninguém ousava dizer quem ela realmente era. Mas todos sabiam que ela não era uma Costello de verdade. Avisos foram dados a Emiliano, de que ele estaria criando uma serpente em seu território e que logo lhe seria dado o bote, mas o patriarca não se absteve. Para ele, Lúcia seria a sua moeda mais preciosa de troca. A peça final para selar uma aliança que nem o sangue seria capaz de quebrar — Ou pelo menos era o que ele achava.

...--------------...

...Três anos atrás, Mansão Emiliano...

Na mesa longa da sala de jantar, coberta por castiçais de prata e guardanapos dobrados com perfeição militar, as filhas de Don Emiliano sorriam em sincronia. Sorriam demais. Sorriam como se estivessem treinadas para isso. Como se soubessem que, ao lado da perfeição, o erro seria sempre dela. De Lúcia. E realmente sempre era, não importava o que as irmãs fizessem, a culpa sempre recairia sobre Lúcia.

Lúcia mantinha a postura, a coluna ereta, os olhos atentos, se forçando a não ligar as provocações. Já havia completado 17 anos, já tinha a idade mais do que suficiente para saber exatamente onde deveria estar. E onde não era desejada. E até mesmo quando cometia erros hediondos.

Ter escolhido o vestido simples florido para a comemoração de mais um negócio da família Costello, não foi a melhor opção. Mas Lucia não fazia ideia de que seria um evento chamativo, em seu pensamento, a família estava quase falindo para dar uma festa tão grande, então seria mais viável uma roupa mais singela. E, de certo modo, a roupa está aceitável, mas para Constanza e suas exigências, não.

Na verdade, nada nunca estava bom o suficiente para Constanza.

— Vista-se melhor da próxima vez, Lúcia — sibilou Dona Constanza, a governanta da casa, enquanto segurava a taça de vinho com frieza — Desse jeito irão pensar que somos um orfanato, querida.

As filhas biológicas do Don riram mais uma vez. Lúcia não. Nunca ria. Não ali. Mas se prontificou a concordar com a cabeça apenas para que a deixassem em paz.

"Você é uma Emiliano agora", diziam. Mas a alcunha nunca veio sem espinhos e alem do mais, Lucia odiava esse sobrenome, não gostava da combinação silábica, muito menos de quem o carregava.

Ela aprendeu a se mover em silêncio, como os fantasmas que assombravam os corredores escuros da mansão. Assistia às reuniões do Don pela fresta da porta. Ouvia nomes. Adivinhava negócios. E às vezes, via sangue.

Naquela noite, ao deixar o salão de festa a procura de um lugar que pudesse descansar sem a presença de Constanza a policiando e as irmãs postiças insuportáveis, Lúcia, por acaso, acabou ouvindo mais do que devia ao passar perto de uma janela fechada do lado de fora da mansão, janela da qual se encontrava o escritório de Emiliano.

Ela parou, se agachou, e tentou olhar pela fresta quase tão pequena quanto seu mindinho.

— O russo aceitou — disse Emiliano, sentado no escritório com copo de uísque em punho. — Viktor Antonov quer a garota. Em troca, teremos acesso ao porto de São Petersburgo.

Lúcia, escondida atrás da fresta, apertou os olhos.

"A garota?" Pensou e seu coração acelerou. Talvez fosse dela que estavam falando, ou talvez não.

— Ela é valiosa — completou Emiliano. — Foi criada para isso.

Silêncio.

Ela teria ficado mais tempo se não fosse por ouvir os gritos ao longe de Constanza a procurando e a mandando direto para o seu quarto.

Lúcia voltou para seu quarto com os passos firmes, se negando a voltar para o grande salão. Ninguém notaria sua falta de qualquer forma, Constanza logo se cansaria de procurá-la. Naquela noite, além de medo, Lúcia sentiu algo mais denso. Algo mais quente.

Algo que queimava por dentro. E isso, mais cedo ou mais tarde, ela desejava que se tornasse em fúria.

E ela não sabia — ainda —, mas o tempo da torre estava prestes a acabar.

Porque longe dali, no leste gelado da Rússia, Viktor Orlov, o homem que mudaria tudo, já traçava os fios de um destino que viria buscar a garota esquecida da Itália. Um homem criado entre lobos, endurecido por guerras silenciosas, e que aprendeu desde cedo que sentimentos eram fraquezas — Viktor não fazia promessas, fazia pactos. E, mesmo sem saber, Lúcia seria o próximo.

E no instante em que seus caminhos se cruzassem, nenhum dos dois jamais seria o mesmo.

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Comments

Laura Bhering 🌺

Laura Bhering 🌺

Autora: faz Lúcia moretti , descobrir quem são seus pais biológico , que Emiliano castello , junto os seus inimigos filhas 🐍🐍 , mataram os pais biológicos Lúcia moretti com ajuda o anor verdadeiero viktor 💞💘vão destruir tudo principalmente máfia don Emiliano onde ela foi levado depois materem seus pais de sabgue assasinados . 💞🔫💘.

2025-10-09

2

Laura Bhering 🌺

Laura Bhering 🌺

Autora: Quero lúcia e viktor completamente apaixonados um pelo outro . Junto contruirem verdadeiro amor puro 🥰forte🥰 avassalador 💞💘 Ninguém consiga desruir .

2025-10-09

1

Amanda Larissa 💕💜

Amanda Larissa 💕💜

Brenda do céu cadê vc mulher

2025-09-10

1

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