Capítulo 4 – Infiltrados, estratégias e um café com tensão
— Você precisa me explicar por que está tão pensativa — disse Bruna, largando o copo de chá na mesa do café.
Isadora apoiou o queixo nas mãos, olhando pela janela do Café do Seu Zeca. O sol da tarde batia nos vidros, e Noah dormia pacificamente no colo dela, como se não estivesse cercado de caos humano.
— Talvez porque, em menos de uma semana, eu tenha sido contratada por um CEO sarcástico, reencontrado meu ex quase-sogra, e minha mãe decidiu que estou arruinando meu futuro.
Bruna abriu um sorriso.
— O que você chama de caos, eu chamo de conteúdo. Você já pensou que talvez o manual esteja se escrevendo sozinho?
— Estou com medo de que, dessa vez, o manual seja sobre como arruinar a própria sanidade por um homem bonito.
— Ou sobre como não se apaixonar por um chefe com cara de vilão sexy.
Isadora revirou os olhos.
— Você é uma péssima influência.
— E você adora isso.
Noah espreguiçou-se, se esticando todo, e bocejou como se também tivesse opinião sobre o assunto. Provavelmente desaprovava tudo.
Seu Zeca, do balcão, enxugava uma xícara, de olho nas duas.
— Meninas, só aviso que se isso virar enredo de livro, quero ser citado como fonte de sabedoria e fofocas — disse, piscando.
— Anotado — respondeu Bruna, rindo.
— E você, Isa, cuidado com o Ferraz. Conheci o pai dele. Gente com cara séria demais sempre esconde alguma coisa.
— Como por exemplo?
— Emoção. Ou contas em paraíso fiscal. Nunca se sabe.
Na Montez Co., Miguel encarava a tela do computador, tentando se concentrar em contratos, mas sua mente insistia em repetir a conversa com Isadora. Ela era afiada, imprevisível... e absurdamente atraente.
— Batendo ponto na sua própria distração? — disse Enzo, entrando com uma pasta de relatórios. — Porque seu rosto tá com cara de quem viu coisa boa.
— Vai trabalhar, Enzo.
— Isso foi um sim.
— Isso foi um cala a boca profissional.
— Aposto vinte que o nome dela começa com “I” e termina com “adora”.
Miguel não respondeu. Enzo se jogou na cadeira em frente à dele.
— Não me diga que você vai quebrar a regra de ouro dos Ferraz?
— Não estou quebrando nada. Ela é apenas uma colaboradora.
— Uma colaboradora com cara de problema delicioso.
Clarice Veloso entrou sem bater, como sempre fazia quando queria reafirmar seu posto de mulher silenciosamente eficiente.
— Senhor Ferraz, trouxe o relatório atualizado. E também a planilha de RH.
— Obrigado, Clarice.
— Se precisar de algo mais... qualquer coisa, estou à disposição.
Enzo lançou um olhar de canto. Assim que Clarice saiu, ele comentou:
— Apaixonada.
— O quê?
— Ela. Clarice. Sério, só falta escrever “eu te amo” com clipes no seu grampeador.
— Não seja infantil.
— Estou sendo realista. Você atrai pessoas como insetos na luz. O problema é quando se queima junto.
Na casa dos Monteiro, Gabriel batia na porta do quarto de Isadora.
— Posso entrar?
— Se for pra implicar, pode voltar — respondeu ela.
Gabriel entrou mesmo assim e sentou-se na beirada da cama.
— Ouvi a conversa com a mãe ontem.
— Ótimo. O comitê familiar de desestabilização tá completo.
— Só queria dizer que... eu entendo você. Não concordo com a maneira como ela tenta controlar tudo.
Isadora sentou-se ao lado dele.
— Sério?
— Sério. Mas cuidado com esse cara. Miguel parece... intenso.
— Intenso é a palavra que não sei se amo ou odeio.
— Então tá mesmo gostando dele?
— Eu não sei. Talvez. Ainda estou tentando entender se é atração, desafio ou pura loucura.
— Às vezes, são os três. Mas só lembra: nossa família tem histórico de escolhas impulsivas.
Ela riu, encostando a cabeça no ombro dele.
— Tipo quando você pintou o cabelo de verde na escola?
— Isso foi arte, não impulsividade.
Na mansão Ferraz, Marta encarava o marido com um plano nos olhos.
— Já liguei para a Helena. Estamos em sintonia. Nenhuma das duas quer esse relacionamento.
— Eles mal estão juntos — disse Alfredo, mexendo no uísque.
— É questão de tempo. Aquela garota é... carismática. E ele é teimoso.
— Então o que pretende?
— Plantar dúvidas. Propor reuniões com outros candidatos à vaga dela. Mostrar a Miguel que ela é substituível. Helena vai agir do lado dela também. Vamos sufocar esse romance antes que crie raiz.
— Você nunca gostou de perder controle, não é?
— Não quando se trata do futuro do nosso filho.
Enquanto isso, Lúcia cruzava o saguão da Montez Co. quando o viu de novo: Caio Nunes, terno ajustado, olhar de quem sabia demais e sorria de menos.
— O universo está testando minha paciência — murmurou.
— E eu só estou tentando conversar — disse ele, aparecendo ao lado dela.
— A gente não tem mais o que conversar, Caio.
— Mas ainda temos o que consertar.
— Algumas coisas quebram pra nunca mais colar. E você sabe disso.
Ele a segurou levemente pelo braço.
— Lú, eu não voltei só por causa do trabalho. Voltei por você.
Ela puxou o braço devagar, firme.
— Tarde demais.
Mas o olhar que ela lançou dizia o contrário.
À noite, Isadora voltou ao Café do Seu Zeca para escrever. Noah pulou na cadeira ao lado, como se fosse seu editor silencioso.
Ela abriu o caderno.
📖manual on
> Capítulo 3 – O erro mais encantador do escritório
📖manual off
Ele é um homem que devia vir com bula: perigoso, intenso e viciante. E eu, idiota o suficiente pra querer mais uma dose.
Ela suspirou.
— Estou escrevendo minha própria ruína, Noah. E tô adorando.
O gato miou. Concordando. Ou avisando. Vai saber.
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Atualizado até capítulo 25
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