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— Sorriso no rosto, profissionalismo na fala, sarcasmo no bolso... — Isadora repetia para si mesma enquanto atravessava os corredores da Montez Co. de salto alto.
Nunca se sentira tão fora de lugar e tão desafiada ao mesmo tempo. Estava ali como psicóloga, não como autora de manuais duvidosos sobre amor e caos emocional. Só precisava se lembrar disso. Só isso.
— Isadora Monteiro? — chamou uma recepcionista simpática. — O senhor Ferraz vai recebê-la pessoalmente na sala da diretoria.
Ela arregalou os olhos. Pessoalmente? Já estava suando em lugares que nem sabia que podiam suar.
— Tudo bem... — murmurou. — Que maravilha. Mal conheço o homem e já estou entrando direto na cova do leão.
A porta da sala se abriu automaticamente assim que ela se aproximou. Lá dentro, Miguel estava de pé, ao lado de uma janela panorâmica, com a cidade ao fundo. Terno cinza, postura impecável, expressão indecifrável.
— Senhorita Monteiro — ele disse, sem tirar os olhos do horizonte.
— Senhor Ferraz — ela respondeu, tentando parecer mais segura do que se sentia.
— Engraçado como o mundo gira, não? Um dia você joga café em alguém. No outro, pede emprego a ele.
— Só para constar, foi você quem colidiu comigo. E eu não pedi o emprego, fui convidada. Por méritos, aliás.
Miguel finalmente virou-se para encará-la. Os olhos estavam calmos, mas com aquele brilho que Isadora já identificava como provocação disfarçada de charme.
— Então vamos fingir que essa é uma conversa normal. Por que você acha que seria uma boa psicóloga para a Montez Co.?
Ela respirou fundo. Era ali, naquele momento, que precisava provar que era mais do que a garota do caderno azul.
— Porque sei ouvir, observar e identificar padrões de comportamento. Inclusive padrões destrutivos de chefes prepotentes que acham que empatia é perda de tempo.
Miguel arqueou uma sobrancelha.
— Tão profissional.
— Só estou sendo sincera. O senhor prefere bajuladores?
— Prefiro quem me desafia com inteligência. O que é raro.
Isadora sorriu. Primeiro ponto dela.
— Então está com sorte. Eu sou um manual ambulante de sarcasmo afiado.
Miguel sentou-se, cruzando os braços.
— E o que me garante que você não vai escrever sobre mim no seu... caderninho?
Ela hesitou.
— Não posso prometer. Mas garanto que, se aparecer, será com nomes fictícios.
Ele sorriu, e pela primeira vez, o sorriso pareceu genuíno.
— Contratada.
Ela piscou.
— Como é?
— A empresa precisa de alguém que não tenha medo de dizer verdades. E você claramente não tem medo de nada.
Isadora não respondeu. Porque, naquele instante, percebeu que estava com medo sim: de gostar daquele olhar.
— Você está trabalhando com o CEO?! — Camila quase derrubou o copo de suco.
— Fui contratada hoje — disse Isadora, largada no sofá, com Noah dormindo em cima da barriga. — A entrevista foi uma mistura de guerra fria com flerte passivo-agressivo.
— Ele é mesmo tão insuportável quanto parece?
— Sim. E perigoso.
— Perigoso como?
Isadora suspirou.
— Daqueles que te irritam tanto que você quer socar... ou beijar.
Camila arregalou os olhos.
— Isa...
— Eu sei. Cala a boca. Eu sei.
Enquanto isso, na Montez Co., Miguel observava o relatório de perfil profissional de Isadora. A papelada estava impecável, as recomendações mais ainda. E havia algo nela que o desafiava — não só intelectualmente, mas de forma visceral. Como se ela fosse uma interrogação que ele precisava decifrar.
— Você está com essa cara desde que ela saiu — disse Sofia Mendes, entrando sem bater.
— A psicóloga nova. Gostei dela.
— Você nem conhece.
— Justamente por isso gostei. Vai balançar esse escritório inteiro, principalmente você.
Miguel lançou um olhar desconfiado.
— O que está insinuando?
— Que talvez você esteja prestes a quebrar sua maior regra.
— Que é?
— Nunca misturar trabalho com... tentação.
Na mesma noite, Lúcia tentava digerir a notícia da contratação da melhor amiga quando Caio Nunes entrou no restaurante onde ela jantava com Rebeca e Felipe.
Ele parou na porta, como se o destino o tivesse empurrado para dentro. E o olhar dele encontrou o dela.
— Ah, não... — Lúcia murmurou.
Rebeca seguiu seu olhar.
— Quem é o bonitão?
— O caos em pessoa.
— Ex?
— Ex, erro e exorcismo mal feito.
Caio se aproximou devagar, como se não quisesse assustá-la.
— Lúcia — disse com um sorriso tímido. — Você tá bem?
— Tava, até você aparecer. O que está fazendo aqui?
— Fui transferido. Montez Co. me chamou de volta. Estou trabalhando com... o Miguel.
— Claro que está. O universo me odeia mesmo.
Rebeca e Felipe se entreolharam como se assistissem a um filme.
— Podemos conversar depois? — Caio perguntou.
— Conversar ou confundir minha cabeça de novo?
Ele não respondeu. Mas o sorriso torto dizia tudo.
Na casa dos Monteiro, Helena observava a filha com olhar calculista.
— Você está diferente, Isadora.
— Engraçado. Eu diria que estou exatamente igual.
— Está trabalhando com um homem que mal conhece. E que tem... um certo histórico.
— E qual seria esse histórico?
— É o filho da Marta Ferraz. Você sabe como são esses Ferraz. Frio, metódico. Arrumam e descartam mulheres como contratos.
— Mãe...
— Só estou tentando te proteger. Não quero que se machuque. Ou que vire motivo de vergonha.
Isadora sentiu o estômago revirar.
— Talvez o problema não seja ele, mãe. Talvez o problema seja a sua obsessão por controle.
Helena ficou em silêncio. Mas o recado estava dado.
Do outro lado da cidade, Marta Ferraz desligava o telefone e se voltava para Alfredo.
— Ela foi contratada.
— Quem?
— A filha da Helena. Aquela garota que o Miguel conheceu no café. Está na Montez Co. agora.
— Isso não pode acontecer.
— Eu sei. Vamos dar um jeito.
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Atualizado até capítulo 25
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