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— Então quer dizer que ele simplesmente... entrou, esbarrou em você, estragou seu café e foi embora como se fosse o dono do mundo? — Lúcia perguntou, entre um gole de chá gelado e um suspiro indignado.
Isadora encolheu os ombros, sentada à mesa do café de sempre. O caderno azul repousava aberto diante dela, ao lado de uma nova xícara de café — cortesia do Seu Zeca, que agora limpava as mesinhas e fingia que não escutava cada palavra.
— Foi exatamente isso. E ainda teve a audácia de perguntar se eu sabia quem ele era.
— Acha que ele é famoso?
— Famoso ou apenas egocêntrico. Talvez os dois. Ele tinha cara de quem compra seguidores e acha que gentileza é item opcional.
— E bonito? — Lúcia perguntou com um sorriso malicioso.
Isadora suspirou.
— Infelizmente, sim. Daqueles que o universo cria só pra testar a nossa fé na humanidade.
— Então já sei como esse capítulo do manual vai terminar. — Lúcia pegou o caderno e leu em voz alta:
📖 manual on
Regra nº1: Nunca confie em um homem bonito com sapatos caros e ego inflado. Especialmente se ele arruinar seu café.
📖manual off
— Estou pensando em transformar em cartaz e colar na entrada — disse Isadora, cruzando os braços.
— E você tem certeza de que não sabe o nome dele?
— Ele parecia o tipo de homem que só se apresenta se achar que você merece. Eu, felizmente, não mereci.
— Menina esperta. — Seu Zeca se aproximou com duas fatias de bolo de cenoura. — Pra toda desgraça existe um pedaço de bolo como consolo.
— O senhor deveria escrever autoajuda. — disse Lúcia.
— Eu preferia escrever fofocas, mas Deus não me deu canal no YouTube — retrucou ele, colocando os pratos na mesa.
— O senhor viu o cara que esbarrou nela ontem?
— Vi sim. Cara de rico, terno ajustado, relógio que vale mais que meu carro. E ainda por cima, bonito. Um perigo ambulante.
— Ele vai voltar aqui, você vai ver — disse Lúcia, quase profética.
Isadora bufou.
— Se ele voltar, eu mudo de café. Ou de planeta.
Em outro canto da cidade, Miguel estava mergulhado em planilhas. Mas a imagem da mulher do café surgia entre uma fórmula e outra. A irritação que ela provocara não era exatamente comum. E a forma como ela o enfrentou...
— Clarice, me lembra de nunca mais aceitar reuniões presenciais em bairros com cafés hipsters.
— Foi o senhor quem insistiu em ir pessoalmente — respondeu Clarice, séria, sentada do outro lado da sala. Ela observava Miguel com a atenção de quem conhecia cada respiração dele. Mas ele... não notava.
— Esse bairro é caótico. Pessoas sem noção. Mulheres que jogam café em você e ainda te culpam.
— Ela jogou café em você?
— Tecnicamente, não. Mas moralmente? Com certeza. E ainda anotou meu nome num caderno, como se eu fosse personagem de um livro de terror.
Clarice tentou conter o sorriso. Era raro ver Miguel tão... humano.
— Bom, se servir de consolo, sua mãe ligou duas vezes hoje. Está preocupada com sua "exposição pública".
— Ótimo. Mais uma pessoa me culpando por viver. — Ele se levantou, impaciente. — Tem alguma reunião importante hoje?
— A única que você aceitou: com a psicóloga do novo projeto social da empresa. Lembra? Montez Co. quer expandir para áreas de apoio emocional aos funcionários.
Miguel fez uma careta.
— Psicólogos. Nunca sei se estão me analisando ou esperando que eu desabe. Quem é?
— Isadora Monteiro.
Miguel congelou.
— Perdão?
— Isadora Monteiro. A psicóloga indicada pelo conselho. Está no currículo aqui. — Clarice girou o laptop e mostrou o rosto de Isadora, estampado na tela. A mesma mulher do café.
— Isso é uma piada cósmica. — ele murmurou.
Clarice observou a expressão dele mudar. Do choque ao riso irônico. E então algo novo: curiosidade.
— Confirma o horário da reunião.
— Hoje às 15h. Na sala do andar superior.
Miguel sorriu.
— Ótimo. Vai ser... interessante.
— O quê?! — Isadora gritou ao telefone. — Você está dizendo que minha entrevista é com ele?
— Eu não sabia que vocês já se conheciam — disse Caio, do outro lado da linha, tentando soar inocente.
— Você indicou meu currículo sabendo disso!
— Eu não sabia que ele era "aquele cara do café". Só que o CEO do projeto era alguém exigente. Eu achei que você tinha o perfil perfeito.
— Perfeito? Ele quase me atropelou com um mocaccino!
— Talvez vocês só precisem conversar. Com civilidade.
Isadora olhou para Noah, que lambia a pata como se a vida fosse simples.
— Ok. Eu vou. Mas só porque você acredita em mim. E porque preciso do trabalho.
— E também porque você adora um desafio — disse Caio, rindo. — Vai dar tudo certo.
Isadora desligou e caiu sentada no sofá.
— Ou tudo errado, como sempre — murmurou. — Talvez eu devesse escrever um capítulo sobre aceitar empregos em empresas amaldiçoadas.
Noah miou. Ela respondeu:
— Eu sei, eu sei... :Regra nº2: Nunca aceite um emprego onde o seu quase-inimigo é seu chefe.
📖manual off
Ela pegou o caderno e rabiscou.
E, ao contrário do que dizia seu manual, sentiu um frio estranho no estômago.
Como se, lá no fundo, soubesse que essa história estava apenas começando.
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Atualizado até capítulo 25
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