...Marina...
O jantar estava impecável. Pratos milimetricamente organizados, talheres alinhados como soldados. Os empregados andavam como fantasmas silenciosos entre os convidados, e a mesa... a mesa era um teatro.
E eu, a atriz principal, prestes a surtar no palco.
— Você está com essa cara desde que sentou. Vai estragar as fotos de família. — sussurrou Gleice, ao meu lado, com a voz carregada de veneno.
Ignorei. Respirei fundo, cortei o salmão como se fosse o pescoço dela.
Jennifer, sentada em dois lugares à frente, trocou um olhar rápido comigo. A única ali que conhecia as explosões internas que eu tentava conter. Ela estava deslumbrante — como sempre — com aquele vestido vinho que parecia esculpido no corpo.
Minha boca secou.
Não pela comida.
Os pais de Gleice conversavam com os meus sobre o contrato. Frases como “fusão entre famílias”, “herança”, “imagem pública” soavam como grilhões entre cada taça de vinho.
Gleice ria.
Ela gostava disso. Gostava de me ver enjaulada.
— Acho que estou com calor. — falei, empurrando o prato meio intocado e me levantando com calma. — Com licença.
Fui para o corredor da ala leste, onde a luz era mais baixa e as câmeras da casa não cobriam tudo. Esperei. Um. Dois. Três minutos.
Ela apareceu.
Jennifer sempre aparecia.
— Você está péssima. — disse ela, parando na minha frente. — E incrivelmente sexy quando está prestes a explodir.
— Não faz piada. Eu tô... — passei a mão no cabelo, frustrada. — Eu não sei o que eu tô. Mas se eu tiver que ouvir a voz da Gleice por mais trinta segundos, eu juro que quebro um copo na cara dela.
Jennifer sorriu, mas foi um sorriso cúmplice. Ela se aproximou, sua mão tocou minha cintura com naturalidade demais.
Como se nunca tivesse deixado de ser minha.
— Quer que eu te distraia? — sussurrou, seus lábios quase roçando os meus.
— Só me tira da minha cabeça. Agora.
Ela me puxou pela mão até o quarto de hóspedes no fim do corredor. Um que raramente era usado. Fechou a porta devagar e, no segundo seguinte, nossas bocas se chocaram com fome. Eu estava tão tensa, tão cheia, que qualquer toque era um alívio.
As mãos dela encontraram meu corpo com precisão. O vestido caiu no chão. As unhas riscaram minhas costas, e eu gemi contra sua pele, como se pudesse calar a raiva, a frustração e o desejo que me consumia há semanas.
Jennifer me beijou como se lembrasse de cada parte minha.
E eu deixei.
Deixei que ela me lembrasse também.
Era errado.
Mas naquela casa, tudo era.
E quando desabei em seus braços, por um instante, Gleice, contrato e família desapareceram.
Mas só por um instante.
Jennifer me tinha entre as mãos como se eu fosse dela desde sempre.
Firme, dominante, segura... era quase humilhante o quanto meu corpo respondia só ao toque dela. E ela sabia. Deus, como ela sabia.
Eu tentei me manter de pé, mas quando seus dedos pressionaram minha cintura, guiando-me até o sofá do quarto de hóspedes, minhas pernas cederam. Não havia mais espaço pra orgulho.
Jennifer me empurrou gentilmente, mas com autoridade. Seus olhos diziam: fica.
E eu fiquei.
Ela se abaixou à minha frente, explorando cada parte minha com uma fome silenciosa. Quando suas mãos encontraram o centro do meu corpo, um gemido escapou — abafado, quase suplicante.
— Abre as pernas. — ordenou baixinho, mas era impossível não obedecer.
Mesmo assim, instintivamente, meu corpo resistiu. A tensão, a vergonha, o desejo acumulado... tudo se embaralhava em mim. Minhas pernas tentaram se fechar por reflexo, mas ela foi mais rápida.
Jennifer puxou meus cabelos com uma mão e com a outra segurou meu queixo, me forçando a encará-la.
— Você quer, não quer? Então para de fugir. Eu sei quando você tá quase lá... — seu sussurro era ácido e doce, ao mesmo tempo. — Fica aberta pra mim. Agora.
Meus olhos se fecharam, a respiração falhava.
Eu obedeci.
Os toques ficaram mais intensos, mais certeiros, e eu gemia contra o ombro dela, buscando apoio em seus braços enquanto tremores me atravessavam como ondas. Eu já não sabia onde acabava e onde ela começava.
Jennifer me dominava com maestria, como se fosse minha dona.
E, naquele instante, era.
Quando minha cabeça tombou para trás, e meu corpo todo se arqueou em resposta ao ápice iminente, ela segurou meu rosto com firmeza, quase dura, e disse ao meu ouvido:
— Isso... se entrega. Toda minha, Marina. Toda. Minha.
E foi assim que eu gozei.
Com a alma despedaçada, mas o corpo inteiro.
As mãos ainda tremiam quando terminei de me recompor. Jennifer estava de costas, arrumando o cabelo, como se nada tivesse acontecido. Como se não tivesse me destruído em silêncio naquela sala.
Eu me vesti devagar, sentindo o suor na pele, o calor entre as pernas, a vergonha pairando no ar como fumaça de vela recém-apagada. O batom manchado, o olhar pesado no espelho, e o gosto dela ainda na minha boca.
Jennifer me lançou um último olhar pelo ombro, sorrindo com a mesma calma maliciosa de sempre.
— Você ainda vai casar com ela, mesmo depois disso?
— Eu... não sei. — minha voz saiu baixa, quase um sussurro arranhado.
— Você nunca soube. — disse, e saiu, como se tivesse vencido mais uma guerra entre tantas que travamos no escuro.
Eu respirei fundo. Puxei o vestido até o fim, ajeitei o cabelo, e voltei pelo corredor em silêncio, sentindo o coração latejar no fundo da garganta. Era o jantar oficial. O contrato. A família. E ela...
Gleice.
Quando entrei na sala de jantar, todos já estavam servidos. Meus pais tentavam manter a pose, Jennifer estava de volta à mesa como se tivesse ido apenas retocar o batom. E Gleice...
Estava sentada bem ao centro, de braços cruzados, os olhos fixos em mim. Um sorriso torto no rosto, e um brilho desconfiado nos olhos.
— Se atrasou, boneca. Algum problema pra encontrar o caminho até a mesa... ou se perdeu em outros cômodos? — ela falou alto o suficiente pra todos ouvirem.
A colher da minha mãe caiu no prato. Jennifer manteve a taça nos lábios, disfarçando um riso contido. E eu...
Eu engoli seco.
— Só fui refrescar a mente. Estava... um pouco quente.
— Engraçado... achei que você estivesse mais molhada do que quente. — ela sussurrou só pra mim, quando me aproximei da cadeira.
Meus olhos se arregalaram, e ela piscou.
Sarcasmo. Veneno. Odiava a maneira como ela me lia, mesmo de longe.
Sentei, forçando a compostura, mas minhas pernas ainda tremiam.
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Atualizado até capítulo 93
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