Capítulo 5 - As peças se movem

Entrada da Casa de Show “Diamond Club” – 20h58

Eve observa o movimento da rua encostada à moto, o capacete em uma das mãos e o vento leve bagunçando seus cabelos. Ela encara o letreiro neon com desdém. “Diamond Club”. Um nome bonito pra esconder podridão.

Ela coloca o fone no ouvido.

— James, tô na área.

A voz dele vem rápida:

— Te localizei. Mas esquece a entrada principal, tá muito movimentado. Consegui acesso às plantas antigas do prédio. Tem uma janela grande no banheiro feminino, lateral norte. É o único lugar sem câmera ativa. Se você for rápida, dá pra entrar sem precisar se... embelezar pra ninguém.

Eve arqueia a sobrancelha e sorri de canto.

— Que cavalheiro, obrigada.

Ela contorna o prédio, passando despercebida pelos becos escuros. Chegando à lateral norte, vê a tal janela — grande, com o vidro ligeiramente aberto para ventilação.

Com movimentos ágeis e silenciosos, ela escala a estrutura lateral de ferro, se apoiando em uma caixa de energia. Em poucos segundos, já estava dentro do banheiro feminino, os saltos das outras mulheres batendo no chão de mármore e as luzes piscando como estroboscópio.

Eve ajeita o cabelo, respira fundo e empurra a porta.

Interior do Clube – 21h00

Assim que ela atravessa a porta do banheiro e entra no salão, é como mergulhar em outro mundo. O som é ensurdecedor — batidas graves sacudiam o chão e a multidão dançava, bêbada, suada, caótica.

Luzes coloridas cortavam o ar, enquanto pessoas gritavam, riam e tropeçavam por todo lado. O cheiro de bebida alcoólica, suor e cigarro enchia o ambiente.

Eve avança entre a multidão como uma sombra, olhos varrendo o ambiente. Ela analisava tudo: saídas de emergência, escadas, posicionamento de câmeras, rotas alternativas. Já havia contado pelo menos três seguranças pesados circulando com olhos atentos.

Até que... seus olhos pousam nele.

Marcelo Gervásio. Camisa branca parcialmente aberta, pulseira de ouro no braço, cercado de mulheres, rindo como um rei do submundo. Ele está no camarote elevado, cercado por dois seguranças firmes. Atrás, a entrada para a sala VIP.

Eve ativa o comunicador.

— Achei ele. Camarote esquerdo, dois seguranças fixos. Sala VIP atrás.

James responde:

— Entendido. Se precisar, posso causar uma sobrecarga nas luzes do setor três. Vai gerar confusão. Mas só uma vez. Quer que eu prepare?

Eve sorri, olhos fixos no alvo.

— Ainda não... quero brincar um pouco antes disso.

Eve se afasta um pouco do foco de luz, encostando-se a uma parede lateral menos iluminada. Ela respira fundo, abre a jaqueta de couro até onde o zíper permite, revelando parte de seus seios por baixo da blusa justa. Seus dedos passam pelo cabelo solto, jogando-o para o lado com um movimento elegante e sedutor. A transformação era sutil, mas mortal.

Ela ergue os olhos na direção da área VIP novamente, medindo cada detalhe, cada movimento.

— Nossa… — murmura com um sorrisinho sarcástico, ativando o comunicador. — Um dos seguranças parece uma parede. O cara é do tamanho de um guarda-roupa com raiva.

Do outro lado, James solta uma gargalhada abafada.

— Hahaha, que bom que você reparou nisso antes de bater de frente com ele. Parece que o chefão não economiza na proteção.

— Hm... proteção é relativa — diz Eve, com voz baixa e maliciosa, os olhos ainda fixos no alvo. — Todo mundo tem uma fraqueza. Só preciso encontrar a dele.

Ela começa a andar entre a multidão com o andar de quem sabe que todos estão olhando. Os olhares se viram na direção dela, mas Eve não se distrai. Tudo parte do disfarce. Um passo de cada vez, se aproximando do camarote, calculando o momento certo para agir.

James observa pelas câmeras, atento.

— Me avisa quando quiser a distração. Você tá chamando atenção como uma estrela cadente... perigosa e linda.

— Foca no trabalho, James — diz ela com uma risada rouca e contida. — Esse tipo de elogio só vai me custar mais caro depois.

Ela para a poucos metros do acesso lateral do camarote, inclinando-se no balcão próximo como quem pede uma bebida... mas seus olhos continuam observando cada gesto do segurança que parecia uma montanha viva.

Eve congela. Seus olhos arregalam levemente ao ver Lívia, radiante e sorridente, subindo a escada da área VIP com outras duas amigas. Todas estavam arrumadas, com vestidos justos e maquiagem impecável. Riam alto, completamente alheias ao perigo ao redor.

Mas Eve não ria.

Ela vê Marcelo, o alvo da missão — um homem de terno azul-marinho, aparência de boa pinta e olhos vazios de empatia — aproximando-se. Ele segura uma taça, esbanjando charme, e então passa a mão pela perna de Lívia enquanto sussurra algo no ouvido dela, fazendo a garota rir com nervosismo, como se não tivesse certeza de como reagir.

O sangue de Eve gela. Ela leva a mão ao comunicador e sussurra, firme:

— James... Lívia está aqui.

Do outro lado, James leva um tempo para processar.

— O quê?! Merda. Você tem certeza?

— Olhos nela. Vestido vermelho, cabelo preso com presilhas douradas. Ela tá com outras duas meninas.

James digita freneticamente, alternando câmeras.

— Droga, Eve, o que ela tá fazendo aqui? Ela nunca sai.

— Ela me disse que ia sair com as amigas hoje. Eu nunca imaginei que fosse aqui. — A voz de Eve agora carregava uma raiva fria. — E agora ela tá com ele.

Ela vê Marcelo oferecendo uma bebida para Lívia. Lívia hesita... mas aceita.

Eve respira fundo, lutando contra o impulso de agir por emoção. Seus olhos agora ardiam com algo entre fúria e pânico.

— James, preciso de opções. Agora.

— Tô localizando uma saída de emergência mais próxima da área VIP. Se a coisa piorar, vou puxar o alarme de incêndio. Mas isso vai detonar seu disfarce.

Eve estala os dedos, já pensando em alternativas.

— Se eu não fizer algo agora, ela pode não sair daqui do mesmo jeito que entrou.

James suspira.

— Me dá dois minutos. Só dois. Vou hackear o sistema de luz e som... vamos fazer essa casa de show virar um caos coordenado.

Eve dá um leve sorriso, sombrio.

— Dois minutos. Depois disso, eu explodo tudo.

As luzes piscam em vermelho. Um estampido alto ecoa — tiros.

Eve vira o rosto com o impacto da explosão sonora. Antes que pudesse reagir, uma gangue mascarada invade o local, armas em punho, gritando ordens desconexas. O caos se instala. A música para bruscamente. O som de vidros quebrando se mistura ao pânico generalizado.

Pessoas gritam e correm em todas as direções, empurrando cadeiras, derrubando copos e tropeçando umas nas outras.

— Que merda é essa?! — Eve rosna, virando o corpo e protegendo a cabeça com o braço.

No fone, James grita:

— Eve! Sai daí agora! Você vai ser pega no fogo cruzado!

Mas ela não responde.

Seus olhos se fixam numa única coisa: Lívia.

A amiga parece em choque, tentando entender o que está acontecendo. E então, Marcelo agarra seu pulso, com força, e a puxa para trás, rumo a uma porta lateral na área VIP, fugindo no meio do caos.

— Não... Merda! — Eve empurra um homem que tropeçava à sua frente, tentando abrir caminho.

James, do outro lado, percebe que Eve tirou o fone. Ele grita no sistema:

— EVE!? RESPONDE! EVE! MERDA!

No meio da multidão em pânico, Eve avança com dificuldade, os ombros sendo golpeados por pessoas que tentavam fugir. Sua respiração está ofegante, e ela usa toda sua força e treinamento para não cair.

Seus olhos continuam presos na silhueta de Lívia, sendo levada por Marcelo por uma porta ao fundo.

— LÍVIA! — Eve grita, mas sua voz é engolida pelo pânico coletivo.

Alguém esbarra forte em Eve, quase a derrubando. Ela gira no próprio eixo, cai de joelhos, mas se levanta rápido, furiosa, seus olhos fixos na direção onde Marcelo sumiu com Lívia.

Ela vai atrás.

Mesmo sem plano. Mesmo sem suporte. Mesmo sozinha.

Porque Lívia... era a única parte inocente da sua vida.

O caos continua. Sirenes distantes começam a se aproximar, mas ainda é cedo demais.

Eve empurra a última porta de emergência com força, saindo no beco lateral.

Ela vê a van fechando as portas com um baque metálico, Lívia lá dentro, desesperada, batendo nos vidros enquanto Marcelo dá um sorriso debochado e entra pela porta traseira.

— LÍVIA!! — grita Eve, correndo na direção da van.

Mas os pneus giram no asfalto, e o veículo some na escuridão do beco, levantando fumaça e cheiro de borracha queimada.

Antes que possa sacar a arma ou pegar o celular, algo a impede — uma mão agarra seus cabelos por trás, puxando-a com violência. Ela é jogada contra a parede de tijolos, o impacto forte.

— Agh! — Eve rosna, caindo de joelhos, ofegante.

Ela levanta o rosto... e o vê.

Um brutamontes careca, rosto marcado por cicatrizes, dente de ouro brilhando quando ele sorri. Era um dos seguranças da área VIP — Eve sabia que ele a observava antes de tudo começar.

— Ahh... — diz ela, limpando o canto da boca com o polegar. — Sabia que você era um dos vermes dele. Tava me encarando como um cachorro farejando perigo.

— Você não devia ter vindo aqui, “Sombra”. — diz ele com a voz rouca, avançando.

Ele desfere um soco. Rápido. Brutal.

Eve desvia por pouco, gira o corpo com leveza e acerta um cruzado no queixo dele.

Ele recua, mas sorri, o dente dourado reluz sob a luz do beco.

— É só isso que tem? Esperava mais da famosa fantasma da cidade...

Ele avança de novo. Eve ergue o joelho, acertando-o no estômago. Quando ele se curva, ela dá um chute alto em seu rosto, fazendo-o tombar por um segundo — mas o homem ri de novo, cuspindo sangue e se levantando.

— Você vai ter que fazer melhor do que isso.

Eve cerra os punhos, olhando ao redor, pensando rápido. O chão molhado. Um cano jogado perto da parede. A lixeira metálica à sua esquerda.

Ela respira fundo, seus olhos agora cheios de fúria.

— Então vem. Vamos ver se esse teu sorrisinho de ouro aguenta mais um chute.

O beco está abafado, com as luzes piscando de uma sirene distante que reflete nos prédios ao redor.

Eve leva o soco direto no rosto.

Seu pescoço vira para o lado, sangue escorrendo do nariz. Ela cambaleia, dá dois passos para trás, quase tropeça.

O homem sorri com escárnio, achando que a venceu.

Mas Eve levanta o rosto devagar, limpando o sangue da boca com o dorso da mão, os olhos brilhando com raiva pura.

— Nossa… que soco de menininha. Tua mãe não te ensinou direito?

O brutamontes ruge, agora tomado pela fúria. Ele avança como um touro, braços prontos pra esmagar.

Mas Eve gira o corpo com agilidade, desviando para o lado com um passo firme e acerta o cotovelo com força na têmpora dele.

Ele grunhe, mas não para — tenta agarrá-la pelo tronco.

Ela se abaixa num movimento rápido, sai por baixo dos braços dele e dá uma rasteira violenta que o faz perder o equilíbrio e bater com o ombro contra a parede.

Eve aproveita a chance, salta sobre ele, desferindo socos rápidos no rosto.

— Onde levaram a van?! FALA! — grita entre os golpes.

Ele segura o braço dela e a joga no chão com brutalidade. Eve cai, o impacto tirando o ar de seus pulmões, mas ela rola para o lado a tempo de evitar um chute que teria esmagado suas costelas.

Ela se ergue com dificuldade, respiração pesada. O homem também sangra agora, um corte no supercílio.

— Você é durona… mas vai cair igual os outros.

Eve cospe no chão. — Fala muito.

Os dois se encaram, sujos, sangrando, arfando.

Então ela parte pra cima — um ataque direto, violento. Ela acerta o queixo dele com um soco de baixo para cima, e quando ele se curva, dá um chute lateral no joelho, o fazendo gritar de dor.

Ele cai de lado, gemendo, e Eve sobe sobre ele, segurando uma faca escondida na bota.

— Última chance. Onde levaram a van?

O homem engasga, sangue nos dentes.

— Você chegou tarde… Marcelo já cruzou a cidade. E a garota… vai ser leiloada.

Eve arregala os olhos.

Ela crava a lâmina no ombro dele, o fazendo gritar.

— ONDE?!

O homem sorri, mesmo sangrando, mesmo caído.

— Você nunca mais vai ver ela... — diz com deboche, cuspindo sangue.

Eve trava o maxilar.

Seus olhos negros brilham com um ódio contido. Ela olha bem no fundo dos olhos dele, sem piedade.

— Errado. Eu vou achar. E você… vai dormir.

Ela desfere um soco seco e brutal no queixo dele.

A cabeça do homem vira para o lado e ele apaga no mesmo instante, caindo desacordado sobre o chão do beco.

Eve se levanta ofegante, a mão latejando pelo impacto. O sangue escorre de seu nariz ainda, se misturando com o suor em sua pele. Ela limpa com o braço, respirando fundo, e então…

A voz de James surge no fone, rouca, nervosa:

— Eve! Me escuta, caralho! Sai daí agora, a polícia tá cercando a área! Repetindo: eles tão vindo!

Eve olha ao redor.

Sirenes começam a soar mais próximas. Luzes vermelhas e azuis dançam nas paredes.

— Merda… — murmura.

Ela se agacha rapidamente ao lado do corpo do brutamontes e pega o celular dele, bloqueado. Mas ela sabia que James conseguiria algo dali.

— Vou te mandar um celular. Extrai tudo que conseguir.

James responde — “Só sai daí viva. Vai, Eve!”

Ela sai correndo pelo beco, o casaco balançando atrás de si.

Desvia das ruas principais, conhece bem os becos da cidade.

Chega até sua moto — seu precioso demônio preto com adesivos riscados e a placa coberta de sujeira proposital.

Ela monta com firmeza, liga o motor e arranca com tudo, deixando para trás o som das sirenes, os gritos da noite e o rastro de sangue.

No espelho retrovisor, as luzes da viatura brilham ao longe… mas ela já era apenas uma sombra na madrugada.

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