Eve chegou em casa ainda com o cheiro da madrugada na pele. Largou as chaves no balcão, tirou as botas e foi direto para o banheiro. A água quente escorria pelos ombros, levando embora o cheiro de cigarro, suor e luxúria da noite passada.
Ao sair, enrolada numa toalha, passou pelo espelho e notou uma marca avermelhada na clavícula.
— Desgraçado... — murmurou, rolando os olhos, e seguiu para o quarto.
Abriu a gaveta para pegar uma camiseta quando ouviu um som abafado na sala.
Passos.
Movimento.
Seu corpo reagiu como sempre: instinto.
Sem pensar duas vezes, puxou a pistola oculta no fundo da gaveta, destravou e seguiu em silêncio. Cada passo medido, respiração contida, até que virou o corredor com a arma apontada para o invasor.
E então... lá estava ele.
Lian.
De pé no meio da sala, impecável em seu terno escuro e sobretudo preto, como se tivesse saído de um desfile. As mãos nos bolsos, o sorriso presunçoso nos lábios.
— Então é aqui que a famosa Sombra mora... Meio pequeno, não acha? — provocou com olhar afiado, observando os detalhes do ambiente.
Eve, ainda com a arma apontada para ele, soltou um riso seco.
— Que isso... Agora você além de mafioso tem hobby de invasor de casa também?
Lian deu um passo à frente, como quem inspeciona uma peça rara.
— Digamos que minha curiosidade venceu minha educação. — os olhos dele deslizaram pelas paredes até pousarem de novo nela. — E também... você me deixou no vácuo. Não achei justo.
— Ah, que pena. Manda flores na próxima vez, talvez eu atenda a porta. — disse ela, sarcástica, ainda sem abaixar a arma.
— Você sempre recebe visitas assim? Só de toalha e com uma pistola na mão?
— Você sempre invade a casa de mulheres perigosas? — retrucou com um arqueamento de sobrancelha.
O clima era como um fio esticado ao máximo — tenso, elétrico e... curioso.
Lian não parecia intimidado.
Eve não parecia surpresa.
Apenas dois predadores se estudando.
— Então, Eve Wong... O que vai ser? Vai me matar aqui mesmo? Ou vai me oferecer um café?
Eve mantinha a arma firme, o dedo no gatilho, o olhar afiado cravado em Lian.
— Tô decidindo se meto uma bala na sua perna ou na sua cabeça. — disse com frieza, sem desviar os olhos.
Lian apenas sorriu, aquele sorriso irritantemente calmo e cheio de malícia. Seus olhos percorreram o corpo dela, ainda coberto apenas pela toalha branca.
— Ah... acho que sem essa toalha seria uma visão bem mais interessante.
Eve soltou uma risada curta, irônica.
— Quer logo dizer o que faz aqui? Ou vai continuar com essas cantadas baratas? Por que invadiu minha casa, Lian?
Ele ergueu uma sobrancelha, tirando lentamente uma das mãos do bolso e mostrando que estava desarmado.
— Relaxa, sombra. Se eu quisesse te matar, não teria entrado pela porta da frente. — deu de ombros e continuou, se aproximando devagar, ainda mantendo uma distância segura. — Eu vim conversar. Só isso.
— Invadir minha casa é o seu jeito de pedir um café?
— Com você, Eve, o tradicional não funciona.
Eve suspirou, sem baixar a arma.
— Última chance: ou fala o que quer, ou vai sair daqui mancando.
Lian a encarou sério por um segundo, então o sorriso voltou aos poucos.
— Eu quero entender você. Saber por que uma assassina tão eficiente trabalha sozinha, sem passado, sem registros, com um hacker limpando seus rastros como um fantasma. Por que você existe, Eve Wong?
O nome dela dito por ele soou quase íntimo, como se ele tivesse saboreado as sílabas.
Eve apertou mais o punho da arma, mas não atirou.
— Você entrou na minha casa só pra dizer isso?
— Não. Eu vim pra fazer uma proposta. — Lian deu mais um passo, ousado, o olhar preso ao dela. — Trabalhe pra mim.
Silêncio.
A tensão era palpável.
Eve ainda estava de toalha, com uma arma apontada para o homem mais perigoso da cidade, e ele... estava sorrindo.
— Vai me deixar falar? Ou vai me dar o tiro agora?
Eve soltou uma risada curta, cheia de sarcasmo.
— Trabalhar pra você? — ela ergueu uma sobrancelha. — Por que eu faria isso, Lian?
Lian encostou casualmente no balcão da cozinha, ajeitando o sobretudo com calma, como se não estivesse com uma arma apontada pra ele.
— Hm… Porque eu posso te pagar melhor. Muito melhor. — ele respondeu com aquele tom confiante que beirava a arrogância.
Eve não se moveu, os olhos cravados nele, ainda segurando a arma firme.
— Dinheiro nunca foi o problema. — murmurou.
Lian sorriu de lado e inclinou o queixo levemente, como quem revela uma carta valiosa.
— É… Mas tem um probleminha que tem me incomodado ultimamente. — disse, enquanto começava a andar devagar em direção ao balcão da sala, como se estivesse em casa.
Eve o seguiu com o olhar, o cano da arma acompanhando cada passo.
— O cara pra quem você faz os serviços… — continuou ele, pegando uma maçã da fruteira com a ousadia de quem sabe que ainda não vai morrer — …ele está tentando me atingir. Pra ser mais específico… ele tá te mandando matar alguns dos meus.
Eve arqueou uma sobrancelha, ainda sem expressão.
— É mesmo? — perguntou, com um tom quase entediado. — E por que eu deveria me importar com a sua treta de mafioso mimado?
Lian deu uma mordida na maçã, mastigando com calma, depois apontou com ela na direção dela.
— Porque você está no meio. E se ele tá te usando pra chegar em mim… significa que você também está sendo manipulada. E eu sei que você odeia isso.
Os olhos de Eve se estreitaram, a menção à manipulação acendendo algo em seu olhar.
— Você não sabe nada sobre mim.
— Ainda não. — respondeu ele, com um meio sorriso. — Mas quero saber. E, sinceramente, Eve… você merece muito mais do que ser uma peça no jogo de outro homem.
Silêncio. A tensão entre os dois agora era uma linha fina prestes a se romper.
— Então? Vai me ouvir ou me matar? — perguntou Lian, dando outro passo à frente, desafiador.
Eve respirou fundo… mas não respondeu de imediato.
— Então quer dizer que eu acabei envolvida nessa merda de guerra entre mafiosos… — disse Eve, soltando uma risada seca e cheia de sarcasmo. — Que maravilha.
Ela finalmente abaixou a arma, mas seus olhos ainda estavam cravados em Lian com desconfiança.
Lian, confortável demais no ambiente que não era dele, deu mais uma mordida na maçã e falou com a calma de quem já sabia que venceria aquele argumento:
— É, Eve. Aquele desgraçado tava te colocando na linha de fogo. — ele deu de ombros. — Te mandando fazer o serviço sujo que ele não tem coragem de sujar as próprias mãos.
Eve se encostou na parede, cruzando os braços, ainda só de toalha, como se ponderasse a informação — mas por dentro, sua mente já trabalhava a mil por hora.
— Covarde. — ela murmurou, mais pra si mesma.
Lian assentiu, jogando o resto da maçã fora na pia como se fosse lixo irrelevante.
— E pior… ele sabia que, se desse errado, quem estaria com o rosto na mira seria você. Não ele. — Lian a encarou com seriedade agora. — Ele já sabe que você é boa. Boa demais. O tipo de arma que se usa até o fim e depois descarta.
Eve apertou o maxilar, o olhar ficando mais duro.
Ela odiava ser usada. Mais ainda, odiava perceber que estava sendo usada há muito mais tempo do que imaginava.
— Então você tá aqui por empatia, é isso? — disse com ironia. — Veio salvar a alma da pobre assassina contratada?
Lian riu, sacudindo a cabeça.
— Não me faça rir. Eu vim porque prefiro você do meu lado do que no time de um covarde.
Ele se aproximou mais um passo.
— E… porque se alguém vai pagar bem pra você fazer o que já faz com perfeição, que seja alguém honesto sobre o jogo.
Eve o encarou por longos segundos. Depois, soltou um suspiro impaciente e foi até o sofá, jogando-se ali como se estivesse cansada do mundo.
— Você não é honesto, Lian.
— Mas sou melhor do que ele. — rebateu, firme.
Silêncio. O relógio da parede fazia tique-taque abafado.
— Você quer que eu mate ele? — perguntou Eve, direto ao ponto.
Lian sorriu de canto, os olhos brilhando com algo perigoso.
— Ainda não. Antes disso, quero que você me ajude a desmontar o império dele. Peça por peça. E quando ele estiver de joelhos… aí sim, Eve, aí é você quem decide o fim.
Ela ficou em silêncio. A proposta estava feita.
Lian se inclinou mais, apoiando uma mão de cada lado do sofá, prendendo Eve entre seus braços. Seu rosto ficou a poucos centímetros do dela. Ele falava baixo, firme, como se cada palavra fosse uma promessa — ou uma ameaça.
— Trabalhe pra mim, Eve. — murmurou. — Sei que vai se sair melhor comigo. Mais dinheiro. Mais liberdade. E zero mentiras.
Eve soltou uma risada abafada, carregada de deboche.
— Ah, que merda... — ela sussurrou, o olhar preso nos olhos dele. — Por que eu deveria acreditar em você, Lian?
Ele sorriu. Aquele sorriso dele, perigoso e cínico, como se já soubesse que ela estava perto demais da beirada.
Lian observou cada traço do rosto dela. Os cabelos ainda úmidos escorriam pela pele quente, e gotas de água desciam pelo pescoço de Eve até sumirem na toalha amarrada em seu corpo. O cheiro adocicado de erva-doce do sabonete tomava conta do ar entre eles.
— Porque, diferente do outro, eu não escondo quem sou. — disse Lian, a voz baixa, quase um sussurro rouco. — Eu não jogo pelas costas. Eu te digo exatamente quem vai morrer. E por quê.
Eve não desviava o olhar. Ela também era predadora, e agora os dois estavam frente a frente, avaliando quem morderia primeiro.
— Você é o tipo de perigo que olha nos olhos, é isso? — provocou ela.
Lian se inclinou mais, o rosto quase colado ao dela. O hálito quente roçando sua pele.
— E você é o tipo de mulher que não corre do fogo. — disse, com aquele tom de desafio.
Silêncio.
O coração de Eve batia firme. A adrenalina misturada com desejo, raiva e curiosidade. Ela sabia que ele era um problema — do tipo que te arrasta até o fundo, mas que você quer provar só pra saber se sobrevive.
Ela encostou a mão no peito dele, firme, como quem mede o limite.
— Você quer que eu trabalhe pra você, Lian?
— Quero. — respondeu ele, sem hesitar.
— Então... — Eve arqueou a sobrancelha, um sorriso debochado nos lábios. — Tira a droga da sua mão do meu sofá e espera eu me vestir.
Lian sorriu e recuou devagar, com as mãos erguidas, como quem acaba de sair ileso de uma negociação com uma fera.
— Sabia que era inteligente.
Eve se levantou com calma, caminhando até o quarto.
Antes de entrar, olhou por cima do ombro.
— Só não me faça me arrepender, Lian. Ou a próxima bala não vai errar.
Ele sorriu. Aquilo soava quase como um flerte entre eles.
— Eu adoraria ver você tentando.
Após alguns segundos de silêncio, Eve saiu da frente dele e desapareceu no corredor. Quando voltou, vestia uma blusa de moletom preta e jeans. Os cabelos soltos, quase secos. Lian desligou o celular ao vê-la.
— Desembucha. Que tipo de trabalho você quer que eu faça?
Lian sorriu.
— Nada que você já não tenha feito... Mas quero devolver pra ele na mesma moeda.
Eve cruzou os braços, desconfiada.
— Ah... Você quer que eu mate os homens dele?
Lian assentiu.
— Sim. Mas não só isso. Você vai me ajudar a pegar ele também. Eu quero matar aquele desgraçado. Ele está fazendo algo que não tolero.
Eve estreitou os olhos.
— Do que você tá falando?
Lian se aproximou da bancada e falou com frieza:
— Ele tem uma casa noturna. Promete a meninas uma carreira como modelos. Diz que vai lançá-las... mas tudo é fachada. Ele trafica essas mulheres. Algumas desaparecem. Outras nunca mais voltam pra casa.
Eve ficou em silêncio por alguns segundos. Sua expressão mudou. O sarcasmo desapareceu. Agora havia ódio.
— Você tá me dizendo que aquele verme... pra quem eu trabalhei... tá traficando mulheres?
— Mais de vinte só no último ano — Lian confirmou.
Eve desviou o olhar. Fechou os olhos com força por um segundo. Quando voltou a encará-lo, sua voz saiu firme e baixa:
— Ele vai pagar por isso.
— Então estamos fechados? — perguntou Lian.
Eve se aproximou, o olhar penetrante.
— Estamos. Mas eu escolho como ele morre. E quero olhar nos olhos dele quando puxar o gatilho.
Lian sorriu.
— Negócio fechado.
Eve se encostou no batente da porta da cozinha, cruzando os braços com o celular na mão.
— Ah, tem mais uma coisa — disse, olhando diretamente para Lian. — O James vai trabalhar comigo. Ele é meu parceiro e ponto final.
Lian sorriu, ainda com aquela calma arrogante que o irritava e atraía ao mesmo tempo.
— Tudo bem. Seu amigo pode vir junto. — Ele se aproximou da janela e abriu um pouco, deixando o vento da madrugada entrar. — Que tal... 80 milhões por serviço feito?
Eve ergueu uma sobrancelha, surpresa, mas sem perder o ar sarcástico.
— Hm... não é um mau valor. — disse, fingindo desinteresse enquanto digitava algo no celular. — Acho que posso lidar com isso.
Lian virou-se para encará-la, apoiando-se no sofá.
— Mas tem um detalhe importante, senhorita Sombra...
Ela levantou os olhos do celular devagar, já esperando algo.
— Você não vai poder ficar aqui.
Eve franziu o cenho, confusa.
— Como assim? Vai pagar um hotel cinco estrelas pra mim?
— Não exatamente — ele respondeu com um sorriso malicioso. — Quero que vá morar comigo.
Eve deu uma risada irônica, quase debochada.
— Você só pode estar brincando. Quer que eu vá morar com você? O mafioso agora quer uma colega de quarto?
Lian se aproximou com passos lentos e confiantes, parando a poucos centímetros dela. Seu perfume forte se misturava ao cheiro do sabonete ainda fresco em sua pele.
— Claro. É melhor ter você por perto. Confiança, Eve, é uma coisa escassa nesse jogo. E você... você é valiosa demais pra ficar solta por aí.
Eve o encarou por longos segundos, avaliando cada palavra, cada intenção oculta por trás daquele sorriso.
Suspirou fundo, desviando o olhar por um instante, pensando em James, na grana e, principalmente, no que aquele outro mafioso tinha feito com tantas mulheres.
Então respondeu num tom neutro, mas com os olhos brilhando de decisão:
— Tá... mas eu levo meu próprio travesseiro. E se roncar, eu atiro.
Lian soltou uma gargalhada.
— Feito. Mas aviso logo: eu falo dormindo.
Eve virou as costas, pegando a jaqueta.
— Vai se preparando, mafioso... porque agora você tem uma sombra dentro da sua casa.
Eve pegou o celular, digitou rapidamente e apertou “enviar”.
Eve: “Vem aqui agora. E traz seu bom humor, preciso de você.”
Minutos depois, o som da tranca digital soando mal ressoou pela sala. Lian, que ainda estava encostado no batente da janela, ergueu o olhar para a porta ao mesmo tempo que Eve.
O painel de senha apitou, a maçaneta girou... e a porta se abriu com um estalo seco.
James entrou como um furacão, já reclamando:
— Eve, sua porta parece que foi atropelada por um caminhão. Tava tão bêbada que quase arrombou a por—
Ele parou, travado no meio do corredor, com os olhos fixos na figura elegante de Lian ali no centro da sala, usando um sobretudo preto e um olhar afiado.
James piscou algumas vezes, virou para Eve, depois voltou o olhar para Lian.
— ...Ué. Tem um mafioso plantado no meio da sua sala ou eu tô sonhando?
Eve caiu na risada, jogando a cabeça pra trás.
— Essa é nova. Mas sim, James. Mafioso. Planta decorativa. Escolhe o que preferir.
James olhou de volta pra Lian, cruzou os braços e disse num tom desconfiado:
— Ah, então é ele o “Lian”? O que tava te oferecendo trabalho?
Lian sorriu com um toque de ironia, inclinando levemente a cabeça.
— O próprio. Prazer.
James olhou de cima abaixo, depois para Eve.
— Tu transou com ele, né?
Eve arqueou uma sobrancelha, com aquele sorrisinho de canto de boca.
— Eu nunca misturo trabalho com prazer... a menos que o prazer venha primeiro.
Lian sorriu, sem negar nem confirmar.
James revirou os olhos.
— Tá. Isso aqui já tá estranho o suficiente. Agora me explica: a gente vai trabalhar pro mafioso agora? Que diabos você andou fazendo enquanto eu dormia?
Eve pegou uma maçã da fruteira e deu uma mordida, andando pela sala como se não fosse nada demais.
— Aparentemente, a gente andou matando gente errada. Lian aqui quer consertar isso. E pagar muito bem, diga-se de passagem.
James suspirou, coçando a nuca.
— Isso ainda soa como uma péssima ideia. Mas se tem pagamento, tô dentro.
Eve sorriu com aprovação.
— Sabia que ia dizer isso.
Lian os observava com atenção, como quem assiste um jogo de pôquer entre dois veteranos. Finalmente, ele se aproximou de James e estendeu a mão.
— Bem-vindo à guerra.
James olhou a mão por um segundo, deu um leve aperto e respondeu:
— Desde que eu possa atirar em alguém, acho que vai ser divertido.
Lian arqueou levemente a sobrancelha ao ouvir a fala de James. Ainda com a mão guardada no bolso do sobretudo, se inclinou um pouco na direção dele, analisando com curiosidade.
— Achei que você fosse só um hacker — disse, com um leve tom de surpresa. — Mas também sabe mexer com armas?
James abriu um sorriso travesso, relaxando os ombros.
— Eve me ensinou — respondeu com orgulho, lançando um olhar de lado para a amiga. — Disse que eu seria inútil se não soubesse me defender sozinho. Como foi que você disse, Eve?
Eve, ainda encostada na bancada da cozinha, mordeu mais um pedaço da maçã e respondeu de boca cheia, com um olhar malicioso:
— "Uma pedra no meu sapato."
Ela mastigou e deu de ombros, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.
Lian soltou uma risada genuína, daquela que quase não cabia no personagem frio e controlado que costumava ser. Seus olhos se voltaram para Eve com um brilho divertido.
— Você realmente é um problema interessante, senhorita sombra.
Eve piscou, sarcástica.
— Acha que só você pode ser cheio de surpresas?
James riu, apontando com o polegar para si mesmo.
— E só pra constar, também sei desativar bombas. Às vezes até as que eu mesmo fiz.
Lian olhou para os dois, depois fez um gesto com as mãos como se dissesse “tá bom, me convenceram”.
— Vocês vão me dar dor de cabeça. Mas pelo menos não vão morrer rápido. Isso já é algo.
Eve lançou a maçã pela janela aberta da sala e bateu as mãos como se encerrasse o assunto.
— Ótimo. Agora que já se apaixonou pelo nosso talento e charme irresistível… vamos logo ver esse plano, chefia.
James bufou com humor.
— E vê se não me faz usar terno. Eu odeio terno.
Lian deu um meio sorriso malicioso.
— Vamos ver... depende de como você se comportar.
E os três riram.
O celular de Eve começou a vibrar em cima da bancada. Ela pegou o aparelho e viu o nome na tela: Lívia. Suspirou e atendeu com naturalidade:
— Oi, Liv. Já chego aí. Dez minutos — disse com a voz prática de quem equilibra mundos diferentes com a maior naturalidade.
Sem esperar resposta, desligou.
Então se virou para os dois homens em sua sala com um olhar afiado e tom autoritário:
— Bom… eu tenho uma vida durante o dia. Vocês dois, sumam da minha casa.
James ergueu as mãos em rendição, como se dissesse “tô indo”. Lian, por outro lado, deu um sorriso sacana, quase divertido.
— Eu sei que você já tem meu contato, Lian — Eve disse, pegando sua bolsa. — Se sabe meu nome, provavelmente já pegou meu número também.
Lian deu uma risadinha baixa, confirmando com um aceno de cabeça.
— Claro que sim, sombra.
James apenas bufou e saiu pela porta, murmurando algo como “essa mulher ainda vai matar a gente do coração”. Lian foi logo atrás, mas antes de sair, virou-se para encará-la uma última vez.
— Nos vemos, Sombra — disse num tom baixo e provocante, os olhos percorrendo Eve de cima a baixo mais uma vez.
Eve revirou os olhos, fechou a porta assim que ele saiu e suspirou fundo. Jogou o celular no sofá, amarrou rapidamente o tênis preto, pegou os óculos escuros e saiu também.
Seu destino agora: a cafeteria onde Lívia a esperava — e onde a vida comum, aquela que ela fazia parecer normal, ainda existia… por enquanto.
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Atualizado até capítulo 30
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