Ela Dorme em Mim

Elijah

O quarto estava silencioso, exceto pelo som suave da nossa respiração entrelaçada a luz da cidade entrava pela fresta da cortina, banhando a pele dela com um brilho prateado, como se até a lua quisesse tocá-la. Ela dormia nua sobre o meu peito, com a perna jogada sobre as minhas, o rosto calmo, entregue, como se estivesse segura em mim a cada segundo que passava, eu me sentia mais imerso naquele momento. Nunca dormi com alguém até o amanhecer, literalmente dormir mesmo só dormir, querer amanhecer ao lado de alguém sempre fui do tipo que busca prazer e vai embora sem perguntas, sem promessas, sem memórias e, no entanto, ali estava eu, acordado, com o coração batendo feito um maldito tambor, admirando uma mulher que eu nem sabia, nem um décimo da sua vida, mas eu sabia o suficiente, o suficiente para querer mais sabia o gosto dela, sabia o som que ela fazia quando o prazer a tomava sabia como sua pele reagia ao toque, como ela gemia o meu nome entre suspiros e isso já era mais do que qualquer uma me deu em toda a minha vida fazia tempo que o sexo não era só pele que um toque não me deixava assim tão estúpido de emoção lembrei de outras noites, outros corpos beijos apressados, roupas no chão, respiração ofegante e depois o silêncio vazio de um quarto qualquer nada daquilo se comparava a ela, ela era diferente tão doce quanto provocante tão leve quanto intensa uma contradição deliciosa um furacão com cheiro de perfume floral e alma de estrela, cara eu realmente não sei onde eu me meti a cada minuto que eu passava com ela, sentia meu coração derretendo, os meus muros ruindo e ela não fazia ideia do poder que tinha sobre mim ou talvez soubesse, talvez aquele sorrisinho enviesado escondesse mais mistério do que eu poderia imaginar ela pode ser uma jogadora muito habilidosa que me deu um xeque mate em apenas um olhar o meu jogo já estava perdido não tinha movimentos possíveis que me fizesse ganhar esse jogo.

Com muito cuidado, deslizei a mão por sua cintura nua, me libertando devagar para não acordá-la ela se mexeu levemente, suspirando algo incompreensível antes de se enroscar no travesseiro, cobri seu corpo com o lençol, sorrindo ao ver as marcas que deixei nela: chupões, arranhões, mordidas suaves ela parecia uma obra de arte assinada por mim, eu ainda podia sentir o gosto dela na boca o cheiro da nossa noite ainda pairava no ar. Peguei meu celular e vesti o roupão que estava jogado próximo à cama, caminhei descalço até a varanda do quarto do hotel, sentindo a brisa gelada bater no rosto a cidade já começava a despertar lá fora, mas dentro de mim tudo estava silencioso calmo de um jeito que eu nunca tinha sentido toquei o número da Maria ela atendeu no segundo toque.

— Senhor Beaumont? — a voz dela soou alerta, mesmo sendo tão tarde da madrugada, acho que vou lhe dar um aumento.

— Oi, Maria. Preciso que mande para o hotel Graal, suite imperial as roupas que vou selecionar no app aquelas da coleção de primavera. — Pausei por um segundo, encarando o céu que começava a clarear. — Para mim e para uma acompanhante.

— Claro! Alguma instrução específica?

— Ah, e mande um brunch bem caprichado para o quarto, algo de casal com frutas, doces, e café forte com aquelas coisas românticas, mas nada cafona.

— Entendido, mais alguma coisa?

— Reserve uma mesa no L'Étoile para o almoço quero a mesa com vista e Maria...

— Sim?

— Avise que essa reserva é para um encontro, romântico. Também quero um buquê de flores vermelhas fresca as que tiverem o melhor cheiro e mas uma coisa amanhã eu não existo não quero receber ligações de trabalho, reuniões a menos que a empresa esteja pegando fogo, cancela toda a minha agenda.

— Senhor e as reuniões com os árabes, estamos esperando a meses por isso.

— Manda outra pessoa sei lá se virem amanhã é um dia especial então tudo tem que ser perfeito.

Houve uma breve pausa do outro lado da linha antes dela responder.

— Está apaixonado, senhor Beaumont?

Sorri sozinho, olhando para o céu rosado da manhã.

— Nada disso, e só cortesia. — Eu estava tentando convencer quem? Talvez eu esteja com vergonha de ter caído tão rápido ou sei lá ainda é cedo, ainda tenho a questão do casamento para resolver e eu ainda preciso conhecer ela melhor vai que ela é diferente ao acordar ou algo que ela pode vir a fazer me lembre o porquê de eu nunca namorar.

Desliguei e voltei para o quarto, observando por um instante o corpo dela sob os lençóis, dormia feito um anjo cansado tão pequena, tão fofa o cabelo bagunçado, os cílios longos quase tocando as bochechas. Abri o aplicativo e selecionei o conjunto de roupas que imaginei nela: um conjunto preto, bolsa, sapato e óculos nada muito chamativo na verdade ela ficaria linda de qualquer forma ela chamaria atenção até usando uma burca, para mim, uma camisa preta de linho e uma calça preta com detalhes clara. Queria que parecêssemos um casal de capa de revista, mas quero que pareça coincidência, não quero parecer desesperado e assustar ela, não quero bombardear ela com tanto gestos. Voltei para a cama e me deitei devagar ao lado dela ela se mexeu, murmurando algo sem sentido antes de se encaixar de novo no meu peito acariciei seus cabelos com carinho, como se aquilo fosse rotina.

— Você é tão fofa dormindo — murmurei, mesmo sabendo que ela não ouviria.

Beijei sua testa com ternura e fechei os olhos, sentindo meu coração bater mais devagar, mais tranquilo, por um instante, desejei que o mundo inteiro desaparecesse e que só restasse aquele quarto, aquele lençol bagunçado, aquele corpo colado ao meu e aquela paz silenciosa que eu jamais pensei que encontraria nos braços de uma desconhecida, mas ela já não era só uma desconhecida ela era aquela noite ela era esse sentimento novo ela era o começo de algo e eu?

Eu estava apenas começando a descobrir que é bom viver. Dormir tão rápido, mesmo tendo poucas horas de sono, eu pude descansar de uma forma surreal, acordei com ela beijando o meu pescoço, ela estava sentada sobre o meu corpo, ao abrir os olhos dei de cara com um largo sorriso dela os cabelos bagunçados o corpo nú.

— Que tal uma rapidinha de bom dia? — O sorriso dela era enorme, cabia o universo inteiro nele eu posso facilmente me acostumar com isso.

— Droga!

Ela me olhou intrigada

— Algum problema?

O maior de todos, eu não posso enganar ninguém, eu não posso me enganar, aconteceu eu simplesmente me apaixonei por ela, então isso que se chama de amor à primeira vista?

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