Acordo de Casamento

Acordo de Casamento

Fantasias e Acasos

Elijah Beaumont

Duas da manhã e eu estava em um bar lotado, rodeado por fantasias absurdas, luzes coloridas piscando em intervalos frenéticos e música eletrônica vibrando no meu peito como se quisesse tomar o lugar do meu coração, e eu me perguntava, com toda a sinceridade possível: como diabos eu vim parar aqui? A resposta estava logo à frente, rindo enquanto equilibrava dois copos de uísque e usava um chapéu de pirata ridiculamente torto Tiago, meu melhor amigo desde a adolescência o tipo de cara que não sabe aceitar um "não" como resposta e que, por algum motivo, sempre acha que festas são a solução para tudo especialmente para meus problemas empresariais ou, no caso mais recente, meu noivado arranjado com uma garota que eu nunca vi na minha vida e nem pretendo ver, conhecer ou ter algum tipo de contato com ela, não por causa dela óbvio nada contra eu só não quero ninguém descido com quem eu devo ou não devo me relacionar.

— Olha quem resolveu sair da caverna de relatórios e reuniões — Ele disse com aquele sorriso maroto de sempre, estendendo um dos copos na minha direção.

Aceitei, precisei de um gole inteiro antes de conseguir responder.

— Não me pergunte como você me convenceu a vir, mas aqui estou.

Tiago deu um passo para trás e me olhou de cima a baixo, eu usava minha habitual camisa social preta, blazer preto, calça de alfaiataria e sapatos italianos, o contraste com o ambiente era gritante.

— Tá, mas cadê sua fantasia? — ele perguntou, rindo.

— Tô usando, não está vendo? Tô fantasiado de empresário em crise existencial — rebati, sem alterar o tom.

Ele gargalhou alto, batendo levemente no meu ombro.

— Você é muito careta, irmão.

— Careta? Eu estou aqui, não estou?

— Mal-humorado também — ele respondeu, já virando o restante do uísque. — Relaxa o lugar tá cheio de mulheres bonitas, fantasias curtas, clima leve aproveita vai te fazer bem.

Aproveitar essa palavra não fazia muito sentido ultimamente atravessamos o salão para perto do bar, e o cheiro de bebida, suor e algum perfume frutado tomou conta das minhas narinas o ambiente estava decorado com teias falsas penduradas no teto, abóboras iluminadas nos cantos e uma neblina artificial rastejando pelo chão, pessoas dançavam com fantasias de diabinhas, vampiros, personagens de filmes, monstros coloridos e até um cara vestido de banana, luzes vermelhas e roxas piscavam no ritmo da batida ensurdecedora, criando sombras vivas por todo lado. Tudo me dizia para sair dali, voltar para casa, abrir meu notebook, resolver os contratos pendentes ou, melhor ainda, escrever um e-mail para o meu pai exigindo que parasse com essa história ridícula de casamento arranjado. Eu não queria me casar muito menos com uma desconhecida asiática que eu nunca tinha visto na vida, escolhida estrategicamente por nossos pais para fortalecer laços empresariais, era absurdo medieval coisa de milênios estamos no mundo moderno os tempos mudaram a sociedade não e mas a mesma.

Me afastei de Tiago e caminhei até o balcão para pegar outra bebida, talvez um segundo uísque me fizesse aguentar mais quinze minutos naquele lugar, o atendente estava distraído, então encostei ali, esperando foi quando a vi. Uma garota com cabelos longos, soltos, levemente ondulados, e uma maquiagem meio borrada que a deixava perigosamente linda, a roupa, bom? Algo entre o macabro e o sensual, um vestido preto rasgado propositalmente, com detalhes em sangue falso, uma faixa amarrada na coxa, botas, correntes zumbi sexy?

— Ah é Halloween — pensei alto, quase rindo da própria obviedade. Bom seja o que for ela era a mulher mais linda e sexy de todo o bar e melhor ainda ela estava sozinha ali na minha frente.

Pedi mais um uísque, mas antes que o atendente pudesse me ouvir, algo nela me prendeu um cheiro um perfume doce, sutil, quase inocente, flores e baunilha, doce, mas nada enjoativo apenas suave olhei para o lado. Ela estava ali, com uma cerveja na mão, os olhos perdidos em algum ponto do nada, como se estivesse longe, muito longe daquele caos.

— Sua fantasia é legal — falei, sem pensar.

Ela se virou lentamente e, por um segundo que pareceu eterno, o mundo todo silenciou a música ficou abafada, as luzes se apagaram no meu campo de visão, e tudo o que eu podia ouvir era meu próprio coração batendo com força absurda os olhos dela encontraram os meus claros e brilhantes, cheio de curiosidade. Então o atendente tocou meu braço e me entregou a bebida, o transe quebrou, respirei fundo e limpei a garganta.

— Obrigada — ela respondeu, sorrindo de canto. — Mas não é bem uma fantasia… Bom, é uma fantasia, sim. É que... eu vim direto do trabalho.— Ela estava nervosa era nítido em sua voz.

— Trabalho? — perguntei, intrigado.

— Eu tava fazendo figuração pra um filme. — Ela apontou pra roupa. — Como dá pra notar eu era um zumbi sexy ou sei lá o roteiro e meio duvidoso.

Soltei um riso leve.

— Nossa, você é atriz?

Ela deu de ombros, mas o sorriso continuou.

— Mais ou menos. E você? — ela perguntou. — Tá fantasiado de quê?

Sorri.

— Almofadinha.

Ela riu, e o som foi como música natural, leve.

— Também vim direto do trabalho — completei.

Ela assentiu e tomou outro gole da cerveja eu a observei discretamente não era o tipo de beleza óbvia, era encantadora a forma como ela mordia o lábio inferior enquanto pensava, como a franja caía sobre os olhos como ela parecia deslocada no meio da festa, mas ao mesmo tempo em paz com isso.

— Você tá sozinha? — perguntei.

— Tô com uma amiga. — Ela apontou discretamente para o canto do bar, onde uma loira se agarrava com um cara vestido de policial.

— Hm... posso te pagar uma bebida?

Ela me encarou com aquele olhar divertido, arqueando uma sobrancelha.

— Você é solteiro?

A pergunta me pegou de surpresa, pensei por um instante, tecnicamente, meus pais estão organizando meu casamento mas nada estava assinado nenhuma aliança, nenhuma foto de noivado publicada nada oficial então.

— Sim! Estou.

Ela sorriu e, pela primeira vez em muito tempo, alguma parte de mim se sentiu viva de novo.

— Ótimo! Eu também.

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Comments

Rozeli do carmo Ribeiro

Rozeli do carmo Ribeiro

tô gostando muito,

2025-08-08

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