A luz do meio-dia infiltrava-se pelas janelas altas da sede da Lux Prime Hotels Bernocchi, lançando reflexos frios sobre a mesa de ébano que dominava a sala de reuniões. O ambiente era um santuário de poder, com paredes de vidro que refletiam a cidade lá fora e um silêncio que parecia amplificar a gravidade do momento. Robert Beaumont, com o terno impecável, mas o rosto marcado por linhas de exaustão, segurava uma caneta com dedos que tremiam quase imperceptivelmente.
Do outro lado da mesa, Evert Bernocchi, com seus cabelos grisalhos penteados para trás e olhos que pareciam enxergar além da carne, exalava uma calma que era mais uma ameaça do que um conforto. Sobre a mesa, um contrato repousava como uma sentença, suas páginas brancas carregadas de palavras que prometiam salvar um império e condenar um destino.
O silêncio entre os dois homens era denso, quebrado apenas pelo leve tique-taque de um relógio de parede, como se o tempo estivesse contando os segundos até a decisão final. Evert, com um movimento deliberado, deslizou o documento em direção a Robert, os dedos longos roçando o papel com uma precisão que parecia calculada para intimidar.
Evert: Tudo está especificado aqui — disse ele, a voz grave, ecoando como um trovão baixo. Ele fez uma pausa, deixando as palavras pairarem, antes de continuar, o tom carregado de uma certeza fria. — O aporte financeiro para salvar a Beaumont Holding, a parceria estratégica entre nossas empresas, o casamento. E a cláusula, claro. Vinte bilhões, caso o acordo seja quebrado. Espero que você compreenda o peso disso.
Robert sentiu o ar ficar mais pesado, como se a sala estivesse se fechando sobre ele. Vinte bilhões. A cifra era um abismo, uma ameaça que tornava qualquer recuo impensável. Ele olhou para o contrato, as palavras impressas dançando diante de seus olhos, cada linha um lembrete do sacrifício que estava prestes a impor.
Ele pensou em Yurie, em sua recusa veemente na noite anterior, e então em Yudie, o filho que nunca importava, o que carregaria o fardo que Yurie rejeitara. A culpa era uma sombra em seu peito, mas ele a esmagou com a mesma determinação que o levara a construir um império. Ele pigarreou, a garganta seca, e murmurou, quase para si mesmo:
Robert: É… um preço alto.
Evert inclinou a cabeça, os olhos semicerrados, como se estivesse avaliando a alma do homem à sua frente.
Evert: Tudo tem um preço, Robert — disse ele, a voz suave, mas com uma borda afiada que cortava como uma lâmina. — Assine, e salvaremos sua empresa. Recuse, e… bem, você sabe o que acontece.
Robert segurou a caneta com mais força, os dedos tremendo enquanto traçava sua assinatura. O som da tinta contra o papel era um sussurro que parecia selar não apenas um contrato, mas um destino. Ele deslizou o documento de volta, os olhos evitando os de Evert, como se temesse o que poderia ver ali. Evert pegou a caneta, assinou com um movimento fluido, e reclinou-se na cadeira, o rosto impassível.
Evert: Feito — disse ele, a palavra caindo como uma pedra no silêncio. — Para selar isso, um jantar. Amanhã à noite, na minha residência. Nossas famílias precisam… se conhecer melhor.
Robert assentiu, o movimento mecânico, o coração apertado pela ideia de um jantar que parecia mais uma armadilha do que uma celebração.
Robert: Estaremos lá — murmurou, a voz rouca, enquanto se levantava, a pasta de couro com o contrato pesando como chumbo em suas mãos. Ele deixou a sala, o som de seus passos ecoando no corredor de mármore, cada um carregando o peso de uma decisão que ele sabia que mudaria tudo.
.........
Na mansão Bernocchi, a noite caía como uma cortina de veludo, envolvendo a casa em um silêncio que parecia vivo, pulsando com segredos não ditos. A residência, com seus corredores de mármore e quadros que pareciam observar os passantes, era um testemunho da riqueza da família, mas também de sua frieza. Helena, a esposa de Evert, estava, como sempre, ausente, provavelmente em um spa ou em algum evento beneficente, gastando a fortuna do marido com uma despreocupação que beirava a arte. Sua ausência era uma constante, sua presença reservada para momentos de ostentação, deixando Evert e Edwin, o filho agora prodígio, reinarem sobre as decisões da casa.
No escritório, Evert estava sentado em sua poltrona de couro, os dedos tamborilando na mesa de mogno, o olhar perdido na escuridão além da janela. Ele mandou chamar Edward, o filho que vivia nas sombras, relegado a um canto da família desde o acidente que o deixara preso a uma cadeira de rodas. Edward era uma figura enigmática, sua presença um lembrete incômodo do que a família preferia esquecer. Quando o criado bateu à porta de seu quarto.
Edward estava lá, envolto pela penumbra, os olhos verdes fixos em um livro que ele não lia de verdade.
— Senhor Edward!
Ele ajustou a postura na cadeira de rodas, o movimento quase mecânico, e murmurou, com uma voz que escondia uma tempestade:
Edward: Meu pai quer me ver?
— Sim, senhor!
.........
Na sala de estar, Evert e Edwin esperavam, sentados em poltronas que pareciam tronos, o ar carregado de uma tensão que parecia vibrar nas paredes. Evert, com sua postura imponente, exalava uma superioridade que fazia o ambiente parecer menor. Edwin, ao seu lado, exibia um sorriso presunçoso, os olhos brilhando com a satisfação de quem sabia que o jogo estava a seu favor. Quando Edward entrou, a cadeira de rodas deslizando silenciosamente pelo chão de mármore, os dois o olharam com um misto de pena e desdém. Evert inclinou a cabeça, como se estivesse avaliando algo de pouco valor, enquanto Edwin cruzou os braços, o sorriso se alargando em uma expressão que beirava a crueldade.
Evert: Chamei você para discutir algo importante... algo que será... benéfico para você. — disse Evert, a voz grave, pausando entre as palavras como se estivesse pesando cada uma delas. Ele fez um gesto lento, quase teatral, e Edwin entregou a Edward uma cópia do contrato, o papel parecendo queimar sob a luz suave da sala.
Edward pegou o documento, os dedos longos folheando as páginas com uma calma que escondia o turbilhão em seu peito. Ele leu as cláusulas, os detalhes do acordo com os Beaumont, e seus olhos se detiveram na linha que falava do casamento com Yurie Beaumont. Seu rosto endureceu, a mandíbula tensa, e quando ele ergueu o olhar, havia uma fúria contida em seus olhos verdes, como uma tempestade prestes a explodir.
Edward: O que significa isso? — perguntou, a voz baixa, mas carregada de uma intensidade que fez o ar na sala parecer mais pesado.
Evert cruzou as mãos, o olhar frio como o mármore sob seus pés.
Evert: Uma aliança, Edward — disse ele, a voz suave, mas com uma borda que cortava como uma faca. — Você se casará com Yurie Beaumont. Ele é… adequado. Um passo para fortalecer nossa família, para garantir nosso lugar.
Edwin inclinou-se para frente, o sorriso agora uma linha fina e cruel.
Edwin: Pense bem, irmão — disse ele, o tom carregado de sarcasmo, as palavras escolhidas com cuidado para ferir. — Porque vamos ser honestos. Quem mais iria querer você preso a uma cadeira de rodas?
A raiva que Edward mantinha tão cuidadosamente guardada irrompeu como um vulcão. Ele jogou o contrato na mesa, o som ecoando como um trovão na sala silenciosa.
Edward: Vocês acham que podem decidir minha vida assim? — exclamou, a voz vibrando com uma fúria que parecia incendiar o ar. — Me jogar em um casamento como se eu fosse uma peça em seu tabuleiro? Isso é um insulto!
Evert se levantou, a presença imponente dominando a sala, os olhos brilhando com uma autoridade que não admitia contestação.
Evert: Cuidado, Edward — disse ele, a voz fria como gelo, cada palavra um peso que parecia esmagar o filho. — Você é um Bernocchi, mas isso não lhe dá imunidade. Recuse, e estará fora desta casa. Sem nada. Sem ninguém. Será deserdado. É isso que você quer?
Edward apertou os braços da cadeira de rodas, os nós dos dedos brancos, os olhos brilhando com uma mistura de raiva e dor. Ele queria gritar, desafiar o pai, cuspir a verdade que queimava em seu peito, mas ele sabia que isso seria jogar fora o pouco controle que ainda tinha. Em vez disso, ele engoliu a raiva, o rosto voltando a uma máscara de frieza.
Edward: Vocês não sabem quem eu sou — murmurou, a voz tão baixa que era quase um sussurro, mas carregada de uma promessa sombria. — Não sabem do que sou capaz.
Edwin riu, um som curto e nervoso, como se tentasse mascarar o desconforto que as palavras de Edward causaram.
Edwin: Você não é capaz de nada. Ainda mais preso numa cadeira de rodas, sendo inválido. Não complique as coisas — disse ele, o tom agora menos seguro. — É o que você tem. Aceite.
Evert não disse mais nada, apenas observou o filho com um olhar que parecia atravessá-lo. Edward segurou o olhar do pai por um momento, a tensão entre eles tão densa que o ar parecia crepitar. Então, sem outra palavra, ele girou a cadeira de rodas e deixou a sala, o som das rodas contra o mármore ecoando como um aviso de algo que ainda não havia sido revelado.
.........
Na mansão Beaumont, enquanto isso, Yudie permanecia alheio ao destino que o aguardava. Ele passava a noite na cozinha, ajudando Eulália a organizar os armários, o coração carregado por um pressentimento que crescia como uma sombra. Ele não sabia que, em poucas horas, sua vida seria lançada em um jogo de poder onde ele seria o sacrifício final, um peão em um tabuleiro que ele nem sabia que existia.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 34
Comments