Cap.3

De volta à mansão Beaumont, o ar estava carregado de uma tensão que parecia viva, pulsando nas sombras dos corredores. Robert e Eve se reuniram novamente no escritório, o mesmo espaço onde, na noite anterior, haviam enfrentado a realidade da ruína iminente. Agora, a conversa era ainda mais sombria. Yurie foi chamado, e quando ele entrou, o rosto ainda brilhando com aquela confiança inata, Robert sentiu o coração apertar. Explicar a situação a Yurie seria como pedir a uma estrela que descesse do céu.

Eve tomou a frente, como sempre fazia quando as palavras eram difíceis.

Eve: Yurie, meu amor — começou ela, a voz doce, mas com uma fissura de nervosismo que ele captou imediatamente. — A empresa está em uma situação crítica, como você sabe. Precisamos de um parceiro forte, alguém com recursos. Evert Bernocchi está disposto a ajudar, mas…

Yurie: Mas o quê? — Yurie interrompeu, os olhos estreitados, o tom afiado. Ele não estava acostumado a ser pego desprevenido, e a hesitação da mãe era um alarme que ele não podia ignorar.

Robert pigarreou, assumindo o peso da conversa.

Eve: Ele quer que você se case com Edward, o filho dele — disse, a voz firme, mas com um tremor que traía seu desconforto. — É o preço para salvar a empresa.

Yurie riu, um som curto e amargo, a postura rígida.

Yurie: Casar-me com Edward? Aquele… monstro? — perguntou, a voz carregada de descrença e indignação. — Vocês não podem estar falando sério.

Eve se aproximou, colocando a mão no braço dele, os olhos brilhando com uma mistura de medo e determinação.

Eve: É a única maneira, Yurie. A Beaumont Holding não sobrevive sem isso. E Edward… ele é… complicado. Mas é isso, ou perdemos tudo.

Yurie ficou em silêncio, os olhos fixos nos pais, o rosto pálido. Ele parecia estar processando a ideia como se fosse um veneno.

Yurie: E se eu me recusar? — perguntou, a voz baixa, quase um sussurro, mas carregada de uma raiva contida.

Robert se levantou, a raiva mal contida na voz.

Robert: Então você estará jogando fora seu futuro, Yurie. E o nosso. Não temos escolha.

O silêncio na sala era ensurdecedor. Yurie cruzou os braços, o corpo tenso, como se estivesse se preparando para uma batalha.

Yurie: Eu não vou fazer isso — disse ele, a voz firme, mas com um tremor que traía sua angústia. — Vocês não podem me obrigar a casar com Edward Bernocchi.

Eve se aproximou ainda mais, a mão no ombro dele agora firme, quase autoritária.

Eve: Yurie, meu amor, você precisa entender. Isso é pelo futuro da Beaumont Holding. Edward… ele não é o que dizem os rumores. É um preço que temos que pagar para manter o que construímos.

Yurie balançou a cabeça, os olhos brilhando com uma mistura de raiva e dor.

Yurie: Eu não vou fazer isso — repetiu, a voz agora mais alta, mais desafiadora. — Eu sou Yurie Beaumont. Não vou me jogar nos braços de um monstro por causa dos seus erros.

Robert bateu a mão na mesa, o som ecoando como um trovão.

Robert: Chega, Yurie! — gritou, o rosto vermelho de fúria. — Você acha que isso é um jogo? Estamos falando do nosso legado, do seu futuro! Você vai fazer o que é necessário, quer queira, quer não.

Yurie recuou um passo, os olhos arregalados, como se tivesse sido atingido. Por um momento, ele pareceu vulnerável, o menino que raramente aparecia por trás da fachada de arrogância. Mas então, ele endireitou os ombros, o queixo erguido em desafio.

Yurie: Não vou — disse ele, a voz agora fria, cada palavra cortante como gelo. — Encontrem outra maneira.

Ele virou-se e saiu do escritório, a porta batendo atrás dele com um estrondo que reverberou pela casa. Robert e Eve ficaram em silêncio, o peso da recusa de Yurie pairando entre eles como uma tempestade que se formava no horizonte. Eve olhou para o marido, os olhos brilhando com um cálculo frio.

Eve: Ele vai mudar de ideia — disse ela, a voz baixa, quase um sussurro. — Ele tem que mudar.

Mas, no fundo, ambos sabiam que Yurie não cederia tão facilmente. E, enquanto o silêncio se instalava, uma outra ideia começava a tomar forma na mente de Eve, uma ideia que envolvia outro filho, aquele que sempre fora invisível, aquele que poderia ser moldado para carregar o peso que Yurie rejeitava.

...

O jantar na mansão Beaumont era um ritual de aparências, onde a opulência da sala de jantar contrastava com o vazio que permeava as relações à mesa. O lustre de cristal lançava uma luz dourada sobre a toalha de linho impecável, os talheres de prata reluziam, e o aroma de carne assada com ervas pairava no ar, misturado ao peso de uma tensão que parecia sufocar o ambiente. Robert estava sentado à cabeceira, o rosto endurecido, as mãos segurando o garfo com uma força desnecessária, como se estivesse tentando esmagar a própria frustração. Eve, ao seu lado, mantinha a postura elegante, mas seus olhos estavam inquietos, dançando entre o prato intocado e o filho favorito, Yurie, que estava reclinado na cadeira, os lábios curvados em uma expressão de desdém que não fazia questão de esconder.

Na cozinha, a poucos metros dali, Yudie comia sozinho, como sempre. A pequena mesa de madeira, marcada por anos de uso, era seu refúgio, o único lugar onde ele podia respirar sem sentir o peso dos olhares da família. Eulália, a governanta, havia preparado para ele um prato simples de ensopado com pão caseiro, e o vapor quente subia da tigela, aquecendo suas mãos enquanto ele mexia a comida com uma colher. Seus olhos, grandes e azuis, estavam fixos no líquido escuro, como se pudesse encontrar ali respostas para a solidão que o acompanhava. Ele ouvia, ao longe, o murmúrio das vozes na sala de jantar, mas não conseguia distinguir as palavras. Ainda assim, algo no tom — grave, cortante, carregado de urgência — fazia seu coração apertar, um pressentimento que ele não conseguia explicar.

Na sala de jantar, o silêncio entre os pratos tilintando era tão pesado quanto o próprio ar. Robert tomou um gole de vinho, o copo tremendo levemente em sua mão antes de colocá-lo na mesa com um baque seco. Ele limpou a garganta, o som ecoando como um aviso.

Robert: Yurie — começou, a voz firme, mas carregada de uma urgência que não deixava espaço para rodeios. — Precisamos falar sobre a proposta dos Bernocchi. Você sabe o que está em jogo. A empresa, nosso nome, nosso futuro. Tudo depende disso.

Yurie, que estava cortando um pedaço de carne com uma precisão quase teatral, parou, o garfo suspenso no ar. Seus olhos se estreitaram, e o sorriso que ele exibia momentos antes se transformou em uma linha tensa.

Yurie: Eu já disse, pai — respondeu, a voz fria, cada palavra cortante como gelo. — Não vou me casar com Edward. Não vou jogar minha vida fora por causa dos seus erros.

Robert bateu o punho na mesa, o som reverberando pela sala, fazendo os copos tremerem.

Robert: Meus erros? — exclamou, o rosto vermelho de fúria. — Você acha que construí este império para jogá-lo fora? Você acha que vou deixar tudo desmoronar porque você não quer fazer um sacrifício? Isso não é sobre você, Yurie. É sobre a família!

Yurie se levantou, a cadeira raspando contra o chão de madeira polida. Ele jogou o guardanapo na mesa, os olhos brilhando com uma mistura de raiva e indignação.

Yurie: Sacrifício? — retrucou, a voz alta, quase um grito. — Você está me pedindo para me jogar nos braços de um monstro! Todo mundo sabe o que dizem sobre Edward. Ele é deformado, cruel, um… um ninguém! Eu sou Yurie Beaumont. Não vou me rebaixar por causa de uma empresa que vocês não souberam gerir!

Eve, que até então observava a troca com uma calma calculada, ergueu a mão, um gesto delicado, mas autoritário, que fez ambos se calarem. Seus olhos, brilhando com uma intensidade que parecia iluminar a sala, fixaram-se em Yurie, depois em Robert.

Eve: Chega — disse ela, a voz suave, mas com uma firmeza que não admitia contestação. — Vocês dois estão olhando para o problema errado. Há uma solução mais… prática.

Robert franziu o cenho, a raiva ainda pulsando em suas veias, mas a curiosidade o fez inclinar a cabeça.

Robert: O que você quer dizer, Eve? — perguntou, a voz rouca, como se temesse a resposta.

Yurie, ainda de pé, cruzou os braços, o olhar desconfiado.

Yurie: É melhor que não envolva me forçar a fazer algo que já recusei — disse ele, o tom carregado de desafio.

Eve sorriu, um sorriso frio, quase predatório, que fez o ar na sala parecer mais pesado. Ela se levantou, caminhando lentamente até o centro da sala, o vestido de seda sussurrando contra o chão.

Eve: Não, querido, você não precisará se casar com Edward — disse ela, as palavras saindo com uma precisão calculada. — Yudie o fará. No seu lugar.

O silêncio que se seguiu foi tão profundo que parecia engolir o próprio tempo. Robert piscou, como se estivesse tentando processar a ideia, enquanto Yurie ergueu uma sobrancelha, o rosto iluminado por uma mistura de surpresa e alívio.

Robert: Yudie? — perguntou Robert, a voz hesitante, mas com um traço de esperança. — Você está sugerindo que… ele finja ser Yurie?

Eve assentiu, os olhos brilhando com uma determinação que beirava a crueldade.

Eve: Exatamente — disse ela. — Eles são gêmeos. Ninguém notará a diferença. Yudie é… maleável. Ele fará o que mandarmos. Sempre fez. E Yurie poderá continuar livre, como deve ser.

Yurie riu, um som curto e satisfeito, como se a ideia fosse a solução perfeita para um problema que nunca deveria ter sido dele.

Yurie: Isso é brilhante, mamãe — disse ele, o tom agora leve, quase jocoso. — Deixe o pequeno Yudie carregar esse fardo. Ele nunca foi útil para nada mesmo.

Robert hesitou por um momento, o peso da decisão pesando em seu peito. Ele pensou em Yudie, o filho que sempre fora invisível, o que nunca reclamava, nunca exigia. A ideia de usá-lo como peão em um jogo tão perigoso era desconfortável, mas a alternativa — perder tudo — era insuportável.

Robert: Você tem razão, Eve — disse ele, finalmente, a voz firme, mas com um traço de culpa que ele rapidamente suprimiu. — Yudie será perfeito para isso. Ele não tem escolha.

Na cozinha, Yudie terminava seu ensopado, alheio ao destino que acabara de ser selado a poucos metros dali. Ele limpou a tigela com um pedaço de pão, o gesto mecânico, enquanto seus pensamentos vagavam para o futuro, para a esperança tola de que, algum dia, sua família o veria. Ele não ouviu as palavras que ecoavam na sala de jantar, não viu o sorriso calculista de Eve, nem a aprovação fria de Robert e Yurie. Mas o pressentimento que o acompanhava desde a manhã cresceu, como uma sombra que se alargava em seu peito, sussurrando que algo estava vindo, algo que mudaria sua vida para sempre.

Na manhã seguinte, o sol nascia pálido, encoberto por nuvens que pareciam refletir o peso das decisões tomadas na noite anterior. Robert estava em seu escritório, o telefone pressionado contra o ouvido, a voz firme, mas carregada de uma tensão que ele não conseguia disfarçar. Do outro lado da linha, Evert Bernocchi ouvia com sua costumeira calma, o tom grave e autoritário.

📲 Está bem, Evert — disse Robert, após um longo silêncio. — Aceitamos sua condição. Yurie se casará com Edward.

Evert fez uma pausa, o som de sua respiração ecoando na linha.

📲 Excelente — respondeu Evert, a voz desprovida de emoção, mas com um toque de satisfação. — Vamos marcar uma reunião para discutir os detalhes. Digamos, amanhã, na minha sede, às dez da manhã.

Robert assentiu, embora Evert não pudesse vê-lo, o coração pesado com a decisão que acabara de tomar.

📲 Combinado — disse ele, antes de desligar, o clique do telefone ecoando como o som de uma porta se fechando sobre o destino de Yudie.

Enquanto isso, na cozinha, Yudie ajudava Eulália a lavar os pratos do café da manhã, o som da água corrente abafando o murmúrio de seus próprios pensamentos. Ele não sabia que, naquele momento, sua vida estava sendo rearranjada, como peças em um tabuleiro onde ele era apenas um peão. Ele secou as mãos no avental, os olhos fixos na janela, onde o céu cinzento parecia prometer uma tempestade. E, no fundo de seu coração, ele sentia que algo estava vindo, algo que ele não podia evitar, mas que mudaria tudo.

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StarryOwO

StarryOwO

Personagens autênticos.

2025-07-21

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