Cap.2

A noite caíra sobre a mansão Beaumont, trazendo consigo um silêncio pesado que parecia amplificar o peso das decisões não ditas. No escritório de Robert, uma sala de paredes escuras forradas com livros que ninguém lia e um tapete persa que absorvia os passos nervosos, o ar era denso com a tensão do dia. A luz suave de um abajur de bronze lançava sombras longas sobre a mesa de mogno, onde Robert estava sentado, os ombros curvados como se carregassem o peso de um império em ruínas. Eve, ao seu lado, tamborilava as unhas perfeitamente cuidadas na superfície polida, o som rítmico ecoando como um tique-taque de um relógio que contava o tempo que lhes restava. O aroma de uísque pairava no ar, o copo meio vazio na mão de Robert um testemunho de sua tentativa de afogar a ansiedade que o consumia.

Eles haviam passado o dia revisando números, relatórios, e opções, mas cada caminho parecia levar ao mesmo beco sem saída. A Beaumont Holding, o orgulho de Robert, o legado que ele construíra com suor e ambição, estava à beira do colapso. Ele esfregou as têmporas, os olhos fundos de quem não dormia há dias, e murmurou, quase para si mesmo: — Como chegamos a isso, Eve? Como deixei isso acontecer?

Eve ergueu o queixo, o rosto rígido, mas os olhos brilhando com uma determinação fria.

Eve: Não é hora de lamentações, Robert — respondeu ela, a voz firme, mas com um leve tremor que traía sua própria inquietação. — Precisamos de uma solução, não de arrependimentos. Temos que encontrar uma saída, custe o que custar.

Antes que Robert pudesse responder, a porta do escritório se abriu com um rangido, e Yurie entrou, a postura confiante, os cabelos loiros impecavelmente penteados reluzindo sob a luz. Ele usava uma camisa de seda que parecia gritar sua superioridade, e o sorriso em seu rosto era o de quem sabia que o mundo girava ao seu redor.

Yurie: O que está havendo aqui? — perguntou, a voz carregada de curiosidade, mas com um toque de desdém, como se qualquer problema fosse indigno de sua atenção. — Vocês dois parecem que estão planejando um funeral.

Robert e Eve trocaram um olhar, a hesitação palpável. Por um momento, o silêncio entre eles foi tão pesado quanto o próprio ar da sala. Robert tomou um gole do uísque, o líquido queimando sua garganta enquanto ele buscava coragem para falar.

Robert: A empresa… — começou, a voz rouca. — Estamos em apuros, Yurie. Apuros sérios.

Yurie franziu o cenho, o sorriso desaparecendo. Ele cruzou os braços, inclinando-se contra a porta.

Yurie: Apuros? Que tipo de apuros? — perguntou, o tom agora mais sério, mas ainda carregado de uma arrogância que parecia inabalável.

Eve suspirou, levantando-se da cadeira e Caminhando até a janela, onde a escuridão do jardim se estendia como um reflexo do futuro que temiam.

Eve: A Beaumont Holding está à beira da falência — disse ela, as palavras cortando o ar como lâminas. — As dívidas se acumularam, os investidores estão se retirando, e sem um aporte financeiro imediato, tudo que construímos vai desmoronar.

Yurie ficou em silêncio por um momento, os olhos arregalados, processando a informação. Ele riu, um som curto e incrédulo, como se a ideia fosse absurda.

Yurie: Falência? Isso é ridículo. A Beaumont Holding é intocável. Somos nós. Somos o topo.

Robert bateu o copo na mesa, o som ecoando como um trovão.

Robert: Não somos mais, Yurie! — exclamou, a voz carregada de frustração. — Não sem ajuda. Não sem… sacrifícios.

O silêncio voltou, mais opressivo do que antes. Yurie se endireitou, os olhos estreitados, como se estivesse tentando decifrar um enigma.

Yurie: E o que vocês estão pensando? Um empréstimo? Vender ativos? — perguntou, o tom agora mais prático, mas ainda com um traço de impaciência.

Eve virou-se da janela, os olhos brilhando com uma ideia que começava a tomar forma.

Eve: Um empréstimo — disse ela, lentamente, como se estivesse testando a palavra. — Mas os bancos já nos viraram as costas, Robert. Eles sabem que estamos enforcados. Mas… há outra opção.

Robert ergueu os olhos, o cenho franzido.

Robert: Outra opção? — perguntou, a voz carregada de desconfiança.

Eve cruzou os braços, o rosto iluminado por um sorriso calculista.

Eve: Evert Bernocchi — disse ela, o nome caindo como uma pedra no silêncio da sala. — Ele tem o capital, o poder, os contatos. Se alguém pode nos salvar, é ele.

Yurie inclinou a cabeça, um brilho de interesse nos olhos.

Yurie: Bernocchi? O dono da Lux Prime Hotels? — perguntou, a voz tingida de curiosidade. — Ele não é de fazer favores por caridade. Ele vai querer alguma coisa em troca.

Robert balançou a cabeça, os ombros tensos.

Robert: Não sei, mas se há uma chance, temos que tentar — disse ele, a voz firme, mas com um toque de desespero. — Não temos escolha.

Yurie sorriu, o ego inflado pela ideia de que, mesmo em crise, a família Beaumont ainda tinha cartas para jogar.

Yurie: Então façam. Marque uma reunião com ele. Se alguém pode convencê-lo, somos nós — disse, o tom cheio de confiança, como se sua mera presença fosse suficiente para dobrar qualquer homem.

Eve olhou para o filho, o orgulho evidente em seu rosto, mas seus olhos ainda carregavam aquele brilho calculista.

Eve: Vamos fazer isso — disse ela, decidida. — Amanhã mesmo.

Na manhã seguinte, o sol brilhava sobre a cidade, mas o interior da Lux Prime Hotels Bernocchi era um mundo à parte, um templo de opulência onde cada detalhe — dos lustres de cristal aos tapetes de veludo — gritava riqueza. Robert e Eve, vestidos com a elegância que a situação exigia, atravessaram o saguão com passos determinados, mas o nervosismo era evidente no modo como Robert apertava a pasta de couro contra o peito e Eve ajustava o colar de pérolas com dedos inquietos.

Eles foram conduzidos a uma sala privativa no topo do edifício, onde Evert Bernocchi os esperava. Ele era um homem imponente, com cabelos grisalhos penteados para trás e olhos que pareciam enxergar além das palavras. Sua presença dominava o ambiente, e mesmo sentado atrás de uma mesa de ébano, ele parecia maior do que a sala.

Evert: Robert, Eve — disse ele, a voz grave, quase um ronco baixo que reverberava na sala. — Imagino que não estão aqui por uma visita social.

Robert pigarreou, o peso da situação visível em suas mãos trêmulas enquanto abria a pasta.

Robert: Evert, somos amigos há anos. Você sabe o quanto a Beaumont Holding significa para mim. Mas… estamos em uma situação delicada — começou ele, a voz firme, mas com um tremor que traía seu desespero.

Ele expôs os números, a queda nas ações, as dívidas que cresciam como uma avalanche, e o risco iminente de insolvência. Cada palavra parecia arrancar um pedaço de sua alma, mas ele continuou, os olhos fixos em Evert, buscando um sinal de compaixão.

Eve, ao seu lado, mantinha a postura ereta, mas seus dedos apertavam o colar com força, como se pudesse extrair dele a força que precisava.

Eve: Precisamos de sua ajuda, Evert — disse ela, a voz suave, mas carregada de urgência. — Um aporte financeiro, uma parceria. Qualquer coisa que nos mantenha de pé.

Evert ouviu em silêncio, os olhos semicerrados, as mãos cruzadas sobre a mesa. Ele era um homem que não se comovia facilmente, e a frieza em seu olhar fez o coração de Robert apertar.

Evert: Vocês sabem que não faço negócios por sentimentalismo — disse Evert, finalmente, a voz cortante como uma lâmina. — Vou pensar na proposta. Darei uma resposta em breve.

Robert e Eve trocaram um olhar, a esperança misturada com o medo. Eles se levantaram, agradeceram com formalidades tensas, e deixaram a sala, o peso da incerteza os seguindo como uma sombra.

.........

De volta ao império da Lux Prime, Evert permaneceu em sua sala, o olhar perdido na vista da cidade que se estendia além da janela. Ele convocou Edwin, seu filho mais jovem, o prodígio que assumira o centro das atenções após o acidente de Edward. Edwin entrou com a confiança de quem sabia que o futuro lhe pertencia, os cabelos escuros penteados com precisão, o terno impecável.

Edwin: O que foi, pai? Por que está com essa cara? — perguntou, a voz firme, mas com um brilho nos olhos que sugeria que ele já farejava uma oportunidade.

Evert recostou-se na cadeira, tamborilando os dedos na mesa.

Evert: Os Beaumont estão desesperados. Pediram ajuda para salvar a empresa deles — disse ele, resumindo a situação com a precisão de um homem que não desperdiçava palavras. — O que acha?

Edwin sorriu, um sorriso lento e calculista. Ele viu, naquele momento, uma chance de resolver dois problemas de uma vez.

Edwin: Aceite, pai — disse ele, a voz suave, mas carregada de intenção. — Mas com uma condição.

Evert: Condição? Que condição?

Edwin: Faça com que Edward se case com Yurie Beaumont. Seria… vantajoso para todos nós. Nós dois sabemos que ninguém vai querer um aleijado como o Edward. Esse casamento vai ser ótimo para nos livrar do peso que ele é.

Evert ergueu uma sobrancelha, intrigado. A ideia era ousada, quase cruel, considerando os rumores que cercavam Edward — o filho quebrado, o monstro que vivia nas sombras. Mas Evert conhecia o valor de alianças estratégicas, e a proposta de Edwin acendeu uma faísca em sua mente.

Evert: É uma condição interessante — murmurou ele, o tom pensativo. — Vou considerar.

.........

Naquela noite, Evert pegou o telefone e ligou para Robert, a voz firme enquanto convocava um encontro para o dia seguinte.

📲 Evert: Temos o que discutir — disse ele, sem revelar mais.

Robert, do outro lado da linha, sentiu um misto de alívio e apreensão, sem saber que o preço da salvação seria mais alto do que imaginava.

No dia seguinte, o encontro aconteceu em um café discreto, mas elegante, onde o aroma de expresso se misturava ao peso das negociações. Robert e Eve sentaram-se à mesa, a tensão visível em seus rostos. Evert, impecável em seu terno cinza, tomou um gole de café antes de falar.

.........

Evert: Estou disposto a ajudar a Beaumont Holding — disse ele, a voz calma, mas firme. — Mas há uma condição.

Eve: Condição? Qual?

Evert: Yurie, seu filho, deve se casar com meu filho, Edward.

O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Robert engoliu em seco, os olhos arregalados, enquanto Eve apertava a bolsa contra o colo, o rosto pálido.

Robert: Edward? — perguntou Robert, a voz quase um sussurro, como se o nome sozinho trouxesse à tona os rumores sombrios que cercavam o filho de Evert.

Evert: Sim — confirmou Evert, o tom inflexível. — É o preço.

Eve olhou para Robert, os olhos brilhando com cálculo, mas também com um traço de pavor. Eles sabiam que não tinham escolha, mas a ideia de sacrificar Yurie, o filho perfeito, era um golpe que não estavam preparados para absorver. Ainda assim, eles assentiram, as palavras presas na garganta, selando um acordo que mudar.

Eve: Yurie? — repetiu Eve, a voz quase inaudível, como se o nome do filho favorito fosse uma corda apertando seu peito. Ela se inclinou para a frente, os dedos apertando a bolsa com tanta força que as articulações ficaram brancas.

Eve: Mas… Edward? Os rumores… Ele não é… — Ela parou, incapaz de pronunciar as palavras que dançavam em sua mente: monstro, deformado, sem escrúpulos.

Os boatos sobre Edward Bernocchi eram como sombras que se moviam no canto dos olhos, impossíveis de ignorar, mas difíceis de confirmar. Ele era o filho rejeitado, o que vivia recluso, envolto em mistérios que ninguém ousava desvendar.

Evert recostou-se na cadeira, o olhar frio como o mármore da mesa entre eles.

Evert: Meu filho é um Bernocchi — disse ele, a voz carregada de um orgulho que parecia mais defensivo do que genuíno. — Ele é digno do nome da família, e o casamento com Yurie será uma aliança que beneficiará a todos. Vocês salvam sua empresa, e nós fortalecemos nossa posição. É um acordo justo.

Robert sentiu o chão sob seus pés desaparecer. Ele imaginou Yurie, com sua beleza estonteante, seu charme que fazia corações se curvarem, preso a um homem que a sociedade pintava como um espectro. A ideia era um veneno lento, corroendo a imagem de perfeição que ele construíra para o filho favorito. Ele olhou para Eve, buscando nos olhos dela uma faísca de resistência, mas encontrou apenas cálculo. Ela estava pesando o custo, medindo o valor do império Beaumont contra o futuro de Yurie. Robert sabia o que ela estava pensando: Yurie é forte. Ele sobreviverá a isso. Mas a empresa... A empresa é tudo.

Robert: E se Yurie recusar? — perguntou Robert, a voz rouca, como se estivesse tentando agarrar uma última tábua de salvação.

Evert sorriu, um sorriso que não alcançava os olhos.

Evert: Então, suponho que a Beaumont Holding terá que enfrentar seus credores sozinha — disse ele, cada palavra um golpe preciso. — Vocês sabem o que está em jogo. Não me façam perder tempo.

O café parecia menor agora, as paredes se fechando sobre Robert e Eve enquanto eles absorviam a proposta. Robert sentiu o peso do legado que construíra, as noites insones, as decisões implacáveis que o levaram ao topo. Perder tudo isso era inconcebível. Ele olhou para Eve, e o leve aceno de cabeça dela foi o suficiente.

Robert: Está bem — disse ele, finalmente, a voz tão pesada quanto o futuro que temiam. — Vamos discutir com Yurie e voltar com uma resposta formal.

Evert assentiu, levantando-se com a fluidez de um homem que sabia que a vitória já era sua.

Evert: Espero sua ligação até o fim da semana — disse ele, antes de se retirar, deixando Robert e Eve sozinhos com o eco de suas palavras.

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