Isabel sonhou com ele.
Sonhou com aqueles olhos cinzentos e intensos, com o toque das mãos dele descendo pelas costas dela naquela noite em que tudo começou. Mas, no sonho, havia algo diferente. Não era mais desejo. Era uma cobrança muda. Uma presença que apertava o ar ao redor, como se dissesse: você me escondeu algo precioso.
Acordou suando, a respiração acelerada.
As mãos deslizaram por instinto até a barriga. Agora era visível, ainda discreta, mas impossível de negar se alguém olhasse com atenção. E Declan... ele estava olhando.
Mais do que isso. Ele estava vasculhando.
A manhã começou com um e-mail.
Assunto: Reunião com o CEO – URGENTE.
Isabel sentiu o estômago afundar. Aquilo não era normal. Ninguém, nem mesmo gerentes, era convocado diretamente por Declan Hudson sem aviso prévio ou contexto.
O coração martelava quando ela entrou na sala de reuniões do último andar, onde ele a esperava. Vestido impecavelmente em um terno escuro, Declan estava de pé, parado ao lado da janela de vidro que exibia a vista de toda a cidade. De costas para ela.
— Senhor Hudson? — chamou, com a voz mais firme que conseguiu.
Ele se virou devagar. O olhar estava diferente — sem frieza, sem arrogância, mas com uma tensão quase... pessoal.
— Sente-se, Isabel.
Ela obedeceu. Cada passo ecoava em sua cabeça como um alarme. O silêncio pesava. Ele se aproximou, sentou na cadeira ao lado, cruzou as mãos e encarou-a como se tentasse lê-la por inteiro.
— Você está escondendo algo de mim.
As palavras caíram como um soco no peito.
Isabel engoliu em seco, desviando os olhos.
— Eu não entendo, senhor...
— Está mentindo — ele interrompeu. — E não gosto quando mentem para mim.
O tom era grave, mas havia uma sombra de inquietação atrás dele. Como se o próprio Declan ainda tentasse entender o que o perturbava tanto.
— Não é pessoal — disse ela, baixinho. — Só... é complicado.
— A nossa noite foi real? — ele perguntou, direto. — Ou você só está me enganando para conseguir algum benefício dentro da empresa?
Ela o olhou, ofendida. A dor nos olhos dela foi genuína, e ele percebeu.
— Eu nem sabia quem você era, Declan — disse, com o peito erguido. — Eu estava tentando esquecer a dor de uma perda. Você apareceu. Foi um acidente. Um erro. Que teve consequências...
Ele franziu o cenho.
— Consequências?
O silêncio caiu como uma lâmina entre os dois.
Ela hesitou. A mão escorregou de leve para o ventre, como se fosse automático, mas ele viu. E o olhar dele afundou ali, depois subiu de volta para o rosto dela.
— Você está...
— Eu não queria que fosse assim — interrompeu, quase chorando. — Eu juro que ia contar. Mas... como contar a um homem como você que ele vai ser pai de gêmeos? Quando você jurou nunca poder ter filhos?
Declan ficou imóvel.
O tempo pareceu congelar.
Os olhos dele se arregalaram num instante, mas logo se estreitaram. O impacto da revelação batia com força no peito dele. O ar ficou denso. A mandíbula dele se moveu, apertada, como se estivesse tentando entender o que era verdade e o que era loucura.
— Gêmeos?
Ela assentiu, os olhos marejados.
— Eu não queria esconder... só não sabia como dizer.
Declan se levantou de repente, começou a andar de um lado para o outro da sala.
— Isso é impossível... Eu fiz exames, Isabel. Anos atrás. Eu sou infértil.
Ela tirou da bolsa dois papéis dobrados. As ultrassonografias.
Colocou sobre a mesa, com a mão trêmula.
— Talvez o impossível só estivesse esperando a hora certa pra acontecer.
Declan olhou os exames. Por longos segundos, ele não disse uma única palavra. A respiração dele estava pesada, como se o mundo tivesse mudado de lugar.
— Você sabe o que isso significa?
— Que a sua vida vai mudar?
— Que você vai se casar comigo.
Isabel congelou.
— O quê?
— Você está grávida de dois filhos meus. Num escândalo como esse, a mídia destruiria sua imagem, a minha empresa, minha reputação. Você trabalha aqui. Já imaginou o que diriam? Que você seduziu o CEO por dinheiro? Que é uma oportunista?
Ela abriu a boca, mas ele continuou.
— Eu não vou permitir que esses bebês nasçam em meio ao caos. Vamos nos casar. Em segredo. Depois decidimos como e quando contar ao mundo.
Isabel se levantou, abalada.
— Eu não quero me casar com você por obrigação!
— E eu não quero filhos que cresçam sem meu nome, Isabel.
Isabel levou a mão à boca, tentando processar o que acabara de ouvir. Um casamento?
A proposta de Declan pairava no ar como uma sentença. Não havia romantismo, nem um pedido gentil. Era uma decisão, como tudo que ele fazia. Um comando, não um convite.
— Eu não estou pedindo, Isabel. Estou dizendo o que vamos fazer — ele insistiu, mais calmo agora, mas com a firmeza de sempre.
Ela cruzou os braços, o peito arfando.
— Você acha mesmo que isso resolve tudo? Que casar comigo às escondidas vai apagar o caos que sua arrogância criou?
— Isso não tem nada a ver com arrogância. Tem a ver com controle de danos. Com responsabilidade. Com... — ele se interrompeu, olhando para a barriga dela. — Com fazer o certo.
Isabel caminhou até a janela. Lá fora, a cidade seguia seu ritmo normal, como se a vida dela não estivesse virando do avesso. Lá embaixo, carros cruzavam avenidas, pessoas iam e vinham, rindo, brigando, vivendo... livres.
Ela não.
— Você sabe o que é perder o controle da própria vida, Declan?
Ele não respondeu.
— Foi assim quando descobri a gravidez. E agora... mais uma vez. Você quer se casar, esconder tudo, me controlar. Me proteger, talvez. Mas não é assim que se vive. Eu não sou um escândalo ambulante que precisa ser contido.
Declan se aproximou, mais próximo do que ela esperava. O calor dele a envolveu como uma corrente invisível.
— Eu não estou tentando te prender. Eu... — hesitou. — Eu não sei o que estou tentando fazer. Mas esses bebês são meus. E eu vou lutar por eles.
— E por mim, vai lutar? — ela perguntou, com os olhos úmidos.
O silêncio dele foi a resposta.
— É isso que eu pensei.
Ela pegou as ultrassonografias da mesa, guardou de volta na bolsa. O coração batia tão alto que doía nos ouvidos.
— Eu vou sair dessa sala. Você tem o meu número, o meu endereço e acesso a todas as minhas informações, afinal, é o CEO, não é? Pode mandar um contrato, ou um acordo, ou o que quiser. Mas saiba de uma coisa, Declan Hudson...
Ela se virou com uma força que nem sabia que ainda tinha.
— Eu não sou uma das suas empresas. Eu não sou uma funcionária pra ser promovida ao título de esposa só porque engravidei. Se quer casar comigo, vai ter que me conquistar. Porque os meus filhos não vão crescer assistindo a mãe ser humilhada.
Ele a olhou, com algo diferente nos olhos. Algo que nem ele soube nomear.
— Você é mais forte do que eu imaginava.
Ela sorriu, amarga.
— Pois se prepare, porque vai descobrir que sou ainda mais.
Naquela noite, Isabel não conseguiu dormir. A cabeça girava em círculos, tentando entender o que faria a seguir. Se aceitasse o casamento, o que viria depois? Seria uma prisão de luxo, uma união por conveniência, um segredo perigoso entre quatro paredes?
Mas e se recusasse?
Declan era poderoso demais. Se quisesse, poderia tomar a guarda das crianças, inventar mentiras, manipular a justiça...
Ela precisava de um plano. Precisava de aliados. Precisava de tempo.
Mas acima de tudo, precisava proteger seus filhos. E isso significava, talvez, encarar o lobo no covil.
Do outro lado da cidade, no luxuoso apartamento de cobertura que mais parecia um império privado, Declan Hudson estava sentado à beira da cama. As mãos entrelaçadas, os exames em cima do criado-mudo.
A imagem dos pequenos corações batendo em sincronia no papel era mais poderosa do que qualquer contrato que ele já assinara.
Gêmeos.
Era como se o mundo tivesse aberto uma rachadura e deixado algo impossível escapar por ela. Por anos ele acreditara ser infértil. Por anos ouvira que nunca seria pai. E agora, duas vidas se formavam dentro de uma mulher que ele só conheceu numa noite, mas que desde então vinha assombrando seus pensamentos.
Isabel.
Ela era diferente. Não apenas bela ou inteligente — havia nela uma força silenciosa, uma raiva contida, uma integridade que ele não sabia lidar.
E agora... ela era mãe dos seus filhos.
Declan se deitou, mas não pregou os olhos. Pela primeira vez em muito tempo, havia incerteza dentro dele. Pela primeira vez, ele não sabia o que fazer. Não de verdade.
Mas de uma coisa ele tinha certeza.
Ele não deixaria que ninguém, nem mesmo ela, o afastasse daqueles bebês.
Nem que para isso precisasse aprender a amar.
Mesmo que isso fosse seu maior desafio.
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Atualizado até capítulo 46
Comments
Salete Michels de Gracia
Ela teve muita sorte dele acreditar pois pra uma mulher que vai pra cama de alguém sem nem saber o nome,o mínimo era ele pedir o DNA...
2025-07-23
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