O som dos saltos de Isabel ecoava pelos corredores da Hudson Enterprises, mais lentos do que o habitual. Seu corpo já começava a dar sinais claros de que não poderia continuar no ritmo frenético por muito tempo. As tonturas eram mais frequentes, os enjoos já não escolhiam horário, e seu corpo, antes invisível na multidão de funcionários, agora atraía olhares discretos, como se algo estivesse diferente nela.
Mas ela se esforçava para parecer normal.
Trabalho, foco, silêncio.
Era tudo que queria. E tudo que precisava — ao menos até descobrir como contar a um CEO bilionário, frio e calculista, que a mulher com quem ele passou uma única noite estava grávida de seus filhos.
Só de pensar na reação dele, o estômago revirava. E não por culpa da gravidez.
Declan Hudson não era um homem fácil de se ignorar. Isabel percebeu isso ainda mais nos dias que seguiram.
Ele começou a circular com mais frequência pelos andares inferiores — algo raro, já que o CEO quase nunca deixava o topo da torre. Conversava com chefes de equipe, fazia anotações em seu celular e observava. Sempre observava.
E quando os olhos dele encontravam os dela, era como se todo o resto do mundo desaparecesse.
Isabel evitava contato. Mantinha distância, desviava os olhos, fingia ligações imaginárias, e passava pelos corredores com a cabeça baixa. Mas era impossível fingir que não sentia a presença dele. Ela podia sentir. Sempre.
E Declan sentia que ela o estava evitando. E não era do tipo que deixava perguntas sem resposta.
— Hudson, você anda muito interessado na base da empresa ultimamente — comentou Marcus, seu sócio e amigo de infância, durante uma reunião a portas fechadas. — Está desconfiando de alguém?
Declan ajeitou a manga do terno, olhando o reflexo do próprio relógio.
— Estou... curioso.
— Sobre?
— Uma funcionária nova. Do setor financeiro.
— Você está... interessado?
— Não — respondeu rápido demais. Depois corrigiu, em tom mais brando: — Eu a conheço de outro lugar. Mas ela está fingindo que não.
Marcus soltou um assobio baixo.
— Isso cheira a passado mal resolvido. Ela te deve alguma coisa?
— Talvez.
Mas a verdade era que Declan não conseguia parar de pensar nela. A forma como ela o evitava, o jeito como tremeu ao vê-lo, a forma como suas mãos apertavam os documentos como se precisasse se segurar em algo... tudo nele gritava que havia um segredo escondido por trás daqueles olhos assustados.
E Declan não descansaria até descobrir o quê.
Na semana seguinte, Isabel passou mal de novo. Uma cólica súbita no fim do expediente a fez sentar-se no chão da copa da empresa, com a testa suada e a mão sobre o ventre. Duas colegas se aproximaram, preocupadas.
— Você está bem? Quer que chame alguém?
— Não... não. Eu só preciso de ar.
Mas ao se levantar, viu a silhueta dele parada à entrada da sala.
Declan.
Ele a olhava de longe, o maxilar tenso, os olhos fixos na mão dela pousada sobre a barriga.
Isabel se recompôs rápido, se endireitou e forçou um sorriso.
— Senhor Hudson...
— Está tudo bem com você? — ele perguntou, sem desviar o olhar. O tom era calmo, mas havia algo de afiado por trás da voz.
— Só uma queda de pressão. Nada grave.
Ele deu dois passos à frente.
— Você parece fraca há dias. Tem se alimentado direito?
Ela sentiu o chão balançar com a preocupação forçada na pergunta. Não era comum ele se envolver com funcionários. Não era comum ele demonstrar qualquer tipo de atenção pessoal.
— Estou bem, senhor — insistiu. — Obrigada pela preocupação.
Ele a olhou mais alguns segundos. Depois, assentiu e saiu sem dizer mais nada.
Mas Isabel sabia: ele estava mais atento do que nunca.
Naquela noite, quando chegou em casa, tirou a blusa e encarou o espelho. A barriga começava a tomar forma. Pequena ainda, mas visível o bastante para causar dúvidas.
Ela sentou-se na cama e colocou os dois exames de ultrassom sobre os joelhos. As imagens em preto e branco pareciam pequenas obras de arte. Dois perfis minúsculos. Dois coraçõezinhos pulsando ali.
— Eu estou tentando proteger vocês — sussurrou. — Mas não sei até quando vou conseguir esconder isso.
Ela sabia que não podia manter aquele segredo para sempre.
Mas também sabia que, quando ele descobrisse, não haveria volta. Declan Hudson não era um homem que aceitava ser enganado. Muito menos quando envolvia algo que ele jamais acreditou ser possível: filhos.
E o que Isabel ainda não sabia... é que ele já havia iniciado sua própria investigação.
Do outro lado da cidade, Declan digitava no notebook com a frieza de quem comanda empresas, não sentimentos.
Tinha acabado de autorizar uma busca completa nos registros internos da empresa: nome completo, histórico profissional, contatos de emergência, e o mais importante... exames médicos apresentados no processo de admissão.
Tudo seria analisado.
Ele não estava com raiva. Ainda não.
Mas estava prestes a descobrir que o impossível — ser pai — não era mais impossível.
E que a mulher que ele pensou ter esquecido... estava prestes a virar a maior reviravolta da sua vida.
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Atualizado até capítulo 46
Comments
lua 🌙
por isso sempre falo não confiem em homens, porque nunca lembram da camisinhas. e isso não só trás gravidez, como doenças
2025-07-20
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