CAPÍTULO – 4

Bento

Assim que meus pés tocam o chão do mercadinho do seu Zé, sou empurrado para trás, com força.

— Qual é a tua com a minha irmã, seu palhaço?! — rosna Pablo, com o dedo na minha cara. — Se você estiver brincando com os sentimentos dela, eu quebro você na porrada. E vê se entende: não quero mais saber de você entrando no quarto da Rosa de noite. Minha irmã não é uma qualquer, Bento.

Os amigos dele, parados atrás como cães de guarda, também me encaram, prontos pra briga.

— Se quiser, a gente arrebenta ele agora mesmo, Pablo — diz um deles.

Mas seu Zé surge de trás do balcão num rompante.

— Eu não quero saber de pancadaria dentro do meu mercado! Conheço tua família, Pablo, respeito muito. Mas aqui dentro, quem manda sou eu.

Ele se posiciona entre mim e Pablo, firme como sempre, e completa:

— E toda Pinguirim sabe que o seu pai deu permissão para o namoro deles dois. Agora, se não vão comprar nada, saiam.

Pablo me encara mais uma vez. Dessa vez com um olhar mais duro, sem falar alto — quase num aviso silencioso:

— Levei a Rosa pra escola hoje. E o tempo todo ela divagava… querendo entender você. Esse seu jeito estranho, esses sumiços. Ela tá tentando acreditar em você, Bento.

E então ele vira as costas e sai, com os outros colados atrás. Solto o ar em um sopro pesado, o peito ainda meio fechado. Seu Zé bate de leve no meu ombro.

— Toma cuidado, rapaz… o irmão tá só tentando proteger a irmã. Errado ele não tá.

Mas aí tudo muda.

A voz do seu Zé começa a ficar distante, como se entrasse embaixo d’água. Meu coração acelera. Os pelos dos meus braços se eriçam. O ar ao redor muda. Tem… algo.

Dou alguns passos, como puxado por instinto, até a porta do mercado. E vejo: um carro preto, brilhante como obsidiana, deslizando devagar pela rua de Pinguirim.

O vidro escuro abaixa lentamente.

E então eu vejo ele. Me encarando.

Um vampiro.

Meu sangue gela.

— Um vampiro? Aqui em Pinguirim?… mas por quê?

Seu Zé assobia ao meu lado, impressionado.

— Nossa… que carrão. Nunca vi igual por aqui. Quem será que são, hein?

Ainda sem tirar os olhos do carro, murmuro:

— Problemas. Eles são problemas.

É nesse instante que escuto um assobio do outro lado da rua. Me viro. Reconheço na hora. Um dos meus. Um da irmandade. Um que eu preferia nunca mais ver.

— Preciso ir, seu Zé. Até depois — digo, já saindo apressado.

— Mas não vai comprar nada, garoto?! — grita ele. Mas eu já virei a esquina.

Me aproximo do homem alto, de roupas escuras, parado sob a sombra de um pé de ipê. Meus olhos se estreitam.

— O que faz por aqui, Arnold?

Ele dá um passo à frente.

— São os Wister. Eles quebraram o acordo. O clã deles acaba de entrar em nosso território.

Encosto no muro da calçada, cruzando os braços, o coração pesado.

— Eu sei — digo. — Acabei de ver um deles.

Arnold me encara com algo entre respeito e cobrança.

— Então você sabe que tem que reassumir seu posto. É descendente direto dos Blood. Esse território é da sua família, Bento. A irmandade precisa de você. Seu povo precisa do alfa.

Me viro, com raiva, cerrando os punhos.

— Não me chama assim, Arnold. Eu abandonei isso faz tempo. Você sabe que eu odeio essa maldição no meu sangue.

— Você pode até fingir que não é mais um de nós. Pode viver entre os humanos, fingir que é um deles. Mas não pode negar o que é.

Ele se aproxima mais, voz baixa:

— E agora que os vampiros estão aqui… talvez a gente precise lembrar a eles de quem manda nesse território.

Engulo em seco. E no meio da confusão, do dever, da raiva, só consigo pensar nela.

Rosa.

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