Ela não sabia que essa luz estava prestes a entrar em sua vida, trazendo mudanças que ela jamais imaginara.
Isadora não chorava mais como antes. Não porque estava melhor — mas porque até as lágrimas pareciam ter se cansado. Era como se tudo dentro dela estivesse entorpecido, adormecido, desligado. Às vezes, olhava para o teto do quarto durante horas, se perguntando se alguém sentiria falta caso ela simplesmente desaparecesse.
Ninguém percebia.
A dor dela era silenciosa demais para ser notada num mundo tão barulhento.
À noite, deitava-se com o travesseiro apertado contra o rosto, tentando sufocar os pensamentos que gritavam em sua mente. Os medos, as comparações, a sensação constante de inadequação — tudo a pressionava, esmagava, consumia.
Havia dias em que não queria levantar. Outros, em que se levantava apenas por obrigação. Escovava os dentes como um robô, passava a escova no cabelo sem se olhar no espelho, colocava qualquer roupa e saía com passos arrastados. Estar viva era um esforço.
Na escola, os colegas a viam como "a estranha". Aquela que mal falava, que andava sozinha, que parecia sempre cansada. Alguns cochichavam pelas costas, outros riam alto demais perto dela — como se tentassem lembrar Isadora de que ela era diferente, como se o riso alheio fosse uma forma de exclusão.
Ela não respondia. Já havia se acostumado com o rótulo. Com o peso. Com a solidão.
O que ninguém sabia é que ela gritava por dentro.
Isadora desenhava pequenas linhas no papel da última página do caderno. Rabiscos repetitivos, quase compulsivos. Tentava organizar sua mente assim. Às vezes escrevia palavras soltas: "ninguém", "vazio", "escuro", "fim".
Outras vezes, rabiscava cruzes. Era estranho, porque não era de frequentar igreja, mas tinha algo nas cruzes que a fazia sentir-se estranhamente segura. Talvez uma lembrança vaga da infância, de quando sua avó orava por ela antes de dormir. Talvez um instinto, um chamado que ela ainda não entendia.
Em casa, Helena — sua mãe — não sabia como lidar. Dizia que era só uma fase, que Isadora precisava de foco, de ânimo, de vontade. Mas essas palavras, ao invés de ajudar, machucavam mais. Isadora não queria pena. Queria ser entendida.
Mas como explicar o inexplicável?
Como dizer que estava viva, mas não se sentia viva?
E mesmo assim, havia aquela fagulha. Tão pequena quanto uma estrela distante. Mas viva. Uma centelha de algo que ela nem sabia nomear, mas que parecia prometer: “Ainda não acabou.”
E foi num sábado qualquer, quando sua mãe insistiu para que ela saísse com a prima Aurora para um encontro de jovens na igreja do bairro, que tudo começou a mudar. Isadora recusou de primeira. Bufou, rolou os olhos, tentou protestar.
Mas sua mãe foi firme.
E talvez — só talvez — aquela centelha no fundo do peito tenha sussurrado baixinho: "Vai."
E ela foi.
Arrastando os pés, com o coração pesado, mas foi.
Ela só não imaginava que, naquele lugar, entre cânticos e sorrisos estranhos, ela encontraria o olhar que mudaria tudo.
Essa luz vai salvar Isadora,desse mundo escuro.
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Atualizado até capítulo 30
Comments
Solange Araujo
Todos guardamos algo que faz os sentimentos ficarem distorcidos , mas a fé reconstrói tudo..
2025-07-26
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Delvina Machado
quero ver o restante do enredo 🤗
2025-07-18
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