O domingo amanheceu com o céu levemente encoberto, e Isadora sentia que aquele clima combinava com seu estado de espírito. Não era tristeza profunda como antes, mas também não era alegria. Era algo entre o cansaço e o silêncio. Ela se sentia como quem carrega muito, mesmo sem sair do lugar.
Passou um bom tempo deitada, enrolada no cobertor, olhando para o teto como se esperasse que algo mudasse. As vozes em sua mente ainda apareciam de vez em quando, sussurrando inseguranças, dúvidas, desânimos. Mas agora, havia também uma outra voz, bem baixinha, quase imperceptível, dizendo: “Talvez as coisas possam melhorar.”
Ela não saiu do quarto durante o café da manhã. Preferiu ficar quieta, com o celular na mão, rolando a tela sem realmente ver o que passava. O quarto estava silencioso, e apesar do peso no peito, ela não se sentia exatamente sozinha. Era como se, em algum lugar lá dentro, uma pontinha de esperança estivesse tentando brotar.
No início da tarde, enquanto o céu ficava mais claro do lado de fora, seu celular vibrou. Um número desconhecido.
Ela franziu a testa, hesitante. Leu a mensagem:
“Oi, aqui é o Miguel. Aurora me passou seu número. Tudo bem por aí?”
Isadora encarou a tela por um instante, sem saber o que pensar. Foi pega de surpresa, mas não de forma ruim. Ela não esperava aquilo, mas, curiosamente, gostou.
Miguel havia lembrado dela. E se importado.
Ela quase deixou a mensagem sem resposta, mas então digitou, pensou um pouco, e enviou:
“Não tá tudo bem. Mas obrigada por perguntar.”
Logo veio a resposta, rápida e gentil, como tudo que Miguel fazia:
“Quer conversar? Pode ser por aqui mesmo. Ou posso te ligar, se quiser.”
Ela sorriu de leve. Um sorriso quase imperceptível, mas verdadeiro. O tipo de reação que já não tinha há dias. Pensou em responder que não, como costumava fazer. Mas não quis. Dessa vez, quis aceitar.
“Aqui tá bom.” — escreveu.
E então a conversa começou. Aos poucos, ela foi contando sobre os dias difíceis, os sentimentos confusos, o cansaço que às vezes parecia não ter explicação. Não precisava entrar em detalhes — Miguel compreendia. Suas respostas eram simples, mas profundas, como quem realmente ouve e não tenta resolver tudo com frases prontas.
— “A gente não precisa entender tudo de uma vez. Às vezes só de saber que não estamos sozinhos, já faz diferença.” — ele disse em uma das mensagens.
Isadora sentiu algo aquecer dentro do peito. Era conforto. Algo discreto, mas presente.
Conforme as mensagens iam e voltavam, ela começou a se permitir sentir. Apenas sentir, sem culpa, sem pressa. Falou sobre a sensação de estar parada, como se a vida estivesse passando e ela apenas assistisse. Miguel não questionou nem apressou. Apenas acolheu.
Ela ficou surpresa ao perceber o quanto se sentia à vontade com ele. Era como se, mesmo com poucas palavras, ele dissesse: "Você pode ser você aqui." E aquilo era raro. Quase ninguém sabia lidar com suas pausas, seus silêncios, suas respostas curtas nos dias difíceis. Mas Miguel parecia entender que nem sempre era falta de vontade — às vezes era só cansaço mesmo.
Depois de um tempo, a conversa mudou de tom. Começaram a falar de coisas leves, pequenas curiosidades, memórias aleatórias. Miguel contou que gostava de dias nublados, porque eles traziam uma calma diferente. Isadora sorriu com isso. Nunca tinha pensado assim, mas de repente aquele domingo, com o céu cinza, já não parecia tão pesado.
Antes de se despedirem, Miguel mandou mais uma mensagem que ficou gravada na mente dela:
“Mesmo nos dias nublados, o sol continua lá. Você também. Mesmo que agora pareça difícil, só de continuar, já é força.”
Ela leu e respirou fundo. Ainda não se sentia bem, mas pela primeira vez, o peso parecia um pouco mais leve. Não era milagre. Não era mágica. Era só uma conversa simples... com alguém que olhou para ela de verdade.
Naquele domingo, Isadora descobriu que não precisava resolver tudo sozinha. E que, às vezes, uma mensagem com carinho era o primeiro passo para começar a florescer por dentro.
O céu ainda estava nublado, mas agora ela conseguia ver que, por trás das nuvens, havia luz. E essa luz, por menor que fosse, também morava dentro dela.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 30
Comments
Dzakwan Dzakwan
Me identifiquei tanto com a personagem principal, me senti acolhida.
2025-07-20
0
Solange Araujo
Esse Miguel é muito especial 🤩 Caracas
2025-07-26
0