Contrato Obsessivo
lLorena Duarte sempre teve sede de liberdade. Desde criança, seu corpo parecia pequeno demais para conter os sonhos que rodopiavam em sua mente inquieta. Em cada traço que desenhava, havia um grito silencioso por espaço, por ar, por vida. O lápis era seu instrumento de fuga. O design, sua forma de protesto. Cresceu em um lar onde o afeto era tão raro quanto as flores em um deserto. A mãe, rígida, moldava sua rotina com uma frieza quase clínica. O pai, uma sombra ausente, aparecia e desaparecia, deixando no ar o cheiro de promessa quebrada.
Mas Lorena aprendeu cedo que sua maior proteção era o silêncio. O silêncio e a arte.
Quando tinha 15 anos, conheceu Leonardo Ferraz. Ele era o garoto que morava na casa ao lado, um jovem com os ombros carregados de um peso que ninguém via. Parecia esculpido em granito, sempre observando de longe, com olhos de um homem que carregava segredos grandes demais para a idade. Lorena se incomodava com o modo como ele a olhava, uma mistura de curiosidade faminta e cuidado não dito.
Ela, impulsiva e teimosa, costumava ignorá-lo. Chegava a rir de suas tentativas de aproximação, lançando comentários cortantes que o faziam estremecer. Não era maldade. Era defesa. Lorena sempre acreditou que amar era um risco que ela não estava disposta a correr. E, no fundo, talvez porque sentia a força magnética dele a puxando para um lugar do qual ela não sabia se sairia inteira.
Numa tarde de verão, Leonardo tentou se aproximar. Ofereceu um presente simples: um sketchbook, com capa preta, comprado com as poucas economias que tinha. Ele sabia do amor dela pelos desenhos, sabia que aquele caderno poderia abrigar o universo particular de Lorena. Mas ela, dominada pelo medo de se deixar tocar, rejeitou. Riu. Disse que não precisava de esmolas.
Naquele momento, Leonardo aprendeu a lição mais dolorosa da juventude: às vezes, a pessoa que mais queremos proteger é aquela que mais nos fere.
Ele partiu na semana seguinte. Uma viagem repentina para estudar no exterior, anunciada como uma oportunidade de ouro, mas que, na verdade, era fuga. Uma tentativa de calar o coração que pulsava alto demais toda vez que a via caminhar pela rua, com o cabelo solto, como uma chama viva.
Anos se passaram. Lorena cresceu, ergueu-se sozinha. Tornou-se uma designer de interiores requisitada, colecionando prêmios, contratos e admiradores. Mas por trás dos sorrisos ensaiados em eventos, existia uma mulher exausta de lutar contra as próprias emoções. Cada ambiente que criava era um reflexo do refúgio que ela mesma buscava. Cada textura, cada cor, era um convite silencioso para alguém que ela fingia não esperar mais.
Lorena acreditava que finalmente havia enterrado todas as memórias do garoto vizinho. Ela construiu muros tão altos ao redor do coração que se esqueceu de que, por trás de cada muralha, existe apenas uma mulher ainda querendo ser vista.
Então, Leonardo voltou.
Ele não era mais o adolescente calado, de olhos tristes. Agora, era o CEO de uma das maiores corporações do país, um homem de presença esmagadora, com passos que reverberavam pelo chão como um trovão contido. O terno escuro parecia uma extensão da própria pele. E o olhar... ah, o olhar. Ainda o mesmo: devorador, protetor, devastador.
O reencontro aconteceu num evento de gala. Lorena estava lá para assinar um contrato com uma nova construtora, sem saber que Leonardo era o rosto por trás do império. Quando o viu, o ar se dissolveu nos pulmões. O mundo girou. Ele caminhou em direção a ela com uma calma perigosa, como se soubesse exatamente onde cada célula do corpo dela estava.
Ela tentou fingir indiferença, mas falhou no primeiro segundo. Leonardo sorriu. Não um sorriso gentil ou amigável. Um sorriso que gritava vitória silenciosa.
— Lorena Duarte.
Ele disse seu nome como se saboreasse cada sílaba.
— A mulher que transformava espaços, mas sempre deixou o próprio coração vazio.
Ela estremeceu. O tom baixo, firme, arranhou a pele dela por dentro.
— Achei que você estivesse perdido em algum canto do mundo.
Ella retrucou, erguendo o queixo.
— E que fosse inteligente o bastante para ficar lá.
Ele aproximou-se mais. O perfume amadeirado, intenso, invadiu os sentidos dela. Leonardo inclinou-se, seus lábios quase roçando a orelha de Lorena.
— Inteligente?
Ele murmurou.
— Eu sempre fui inteligente. Por isso estou aqui. Por você.
Aquela noite foi o começo de uma guerra silenciosa.
Leonardo fez questão de se tornar o maior cliente da empresa de Lorena. Ela tentou recusar. Não conseguiu. O contrato era irrecusável, financeiramente, artisticamente, emocionalmente. Ele sabia exatamente o que fazer para prendê-la. Não apenas com cláusulas legais, mas com cada palavra, cada olhar.
Nos dias que se seguiram, Lorena tentou se manter fria. Mas Leonardo era uma tempestade elegante, impossível de evitar.
Havia momentos em que ele a observava trabalhar em silêncio. Ela sentia os olhos dele percorrendo suas costas, o pescoço, cada curva, como se já a tivesse decorado em outra vida. Ele falava pouco, mas quando falava, derrubava cada escudo.
— Você ainda desenha?
Ele perguntou uma tarde, segurando o sketchbook preto, intacto, que ela havia recusado anos antes.
Lorena perdeu o ar. O objeto parecia carregar toda a dor do passado. Ele segurava com cuidado, como se fosse um pedaço do coração dela.
— Eu não preciso disso.
Ela murmurou, virando o rosto.
Leonardo se aproximou, puxando-a suavemente pelo queixo para encará-lo.
— Não é uma questão de precisar. É sobre querer. E eu sempre quis você.
O toque dele queimava. O corpo dela, traidor, inclinava-se, pedindo mais. Mas a mente gritava para fugir.
A relação entre os dois se tornou um campo minado. A cada passo, uma provocação. A cada silêncio, um grito contido. O desejo era tão denso que parecia material, preenchendo o ar como fumaça.
Ele a provocava com gestos mínimos: um roçar de dedo na cintura ao passar, um olhar demorado que incendiava cada parte dela. Lorena respondia com farpas afiadas, tentando se agarrar ao orgulho. Mas, em cada confronto, deixava um pedaço de si mesma.
Em um dia chuvoso, presos juntos em um estúdio de projeto, aconteceu o que ambos fingiam evitar. Lorena reclamava da cláusula absurda do contrato que previa disponibilidade para reuniões a qualquer hora. Ele apenas a olhava, com a calma predadora de quem já ganhou a batalha antes mesmo de começar.
— Você me odeia tanto assim?
Ele perguntou, a voz baixa como um trovão distante.
— Eu não te odeio, Leonardo. Eu só me odeio por querer você.
As palavras escaparam antes que ela pudesse contê-las. Foi como soltar uma corrente invisível. Ele avançou, colou os lábios nos dela. O beijo não pediu licença. Não pediu desculpas. Era urgente, voraz, um reencontro de almas e feridas.
Lorena se agarrou ao terno dele, como se fosse a última âncora. Ele a ergueu facilmente, pousando-a sobre a mesa de trabalho, espalhando plantas e desenhos pelo chão.
Ali, entre rabiscos e projetos, eles se redescobriram. A entrega foi absoluta, sem roteiros. Ele explorava cada centímetro dela como se quisesse tatuar sua marca em cada curva. Lorena sentia o corpo inteiro vibrar, cada músculo em guerra com a razão.
Quando tudo terminou, ela chorou. Não pelas mãos dele, não pelo desejo. Mas porque, naquele instante, entendeu que nunca mais seria livre dele.
Leonardo segurou o rosto dela com as duas mãos, olhando direto em seus olhos, como se enxergasse até a alma.
— Eu sempre estive aqui. Mesmo quando você não me queria. Mesmo quando você ria de mim. Eu sempre voltei por você.
Ela não conseguiu responder. Não havia palavras que coubessem na garganta.
Depois daquela noite, nada foi igual. O contrato se tornou mais do que um papel. Tornou-se um elo invisível, feito de lembranças, beijos, suspiros e segredos. Lorena tentava resistir, mas cada toque, cada confissão, era uma nova corrente.
O passado deles, que ela jurava ter enterrado, voltou a florescer. As memórias do garoto de olhos famintos, do sketchbook rejeitado, dos olhares silenciosos na adolescência, invadiram cada pensamento.
E pela primeira vez, Lorena sentiu medo de si mesma. Medo de quem ela era ao lado dele. Medo do poder que Leonardo tinha para despedaçar e reconstruir seu mundo.
Eles não eram apenas um CEO e uma designer. Eram duas almas costuradas por um destino impiedoso, atraídas por uma força maior do que orgulho ou razão.
Lorena não sabia se aquilo era amor ou condenação. Só sabia que, de algum modo, sempre pertenceu a ele.
E Leonardo? Ele nunca teve paciência para amores frágeis. Não queria um romance suave. Queria guerra. Queria alma. Queria Lorena inteira, mesmo que isso significasse reduzi-la em cinzas antes de reconstruí-la.
Essa era a dança deles: um passo à frente, dois para trás, e um mergulho profundo no desejo que consumia ambos.
Quando Lorena finalmente percebeu que não podia mais fugir, já era tarde. O contrato não era apenas profissional. Era um laço escrito em pele, suor, memórias e sonhos interrompidos.
E, no silêncio do quarto, entre a respiração entrecortada e as mãos que a seguravam firme, ela entendeu: não existia saída. Só existia ele.
A partir dali, cada escolha seria um risco. E cada risco, um convite para se perder mais um pouco.
Era o começo de uma história que queimaria cada resistência.
Uma história de rendição, de cicatrizes e de um amor que jamais aceitou ser domado.
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Atualizado até capítulo 33
Comments
Dulce Gama
começando 22/07/25 já estou adorando parabéns autora 👍👍👍👍👍❤️❤️❤️❤️❤️🎁🎁🎁🎁🎁🌹🌹🌹🌹🌹🌟🌟🌟🌟🌟
2025-07-22
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