Lorena saiu do prédio sentindo o ar da noite morder sua pele quente. O vestido parecia colar ao corpo, como se fosse testemunha silenciosa de cada toque, cada respiração presa, cada olhar que Leonardo cravara nela horas antes.
Ela seguiu até o carro, as mãos ainda trêmulas. O motorista a esperava, mas ao abrir a porta, hesitou. Não queria voltar para casa. Não queria enfrentar o eco da própria respiração em um quarto silencioso. Queria distância dele, mas, ao mesmo tempo, ansiava pelo calor que só ele parecia ser capaz de acender.
— Para onde, senhorita?
O motorista perguntou, com a calma profissional que parecia um insulto à tormenta que se agitava dentro dela.
Lorena respirou fundo, afundando no banco de trás.
— Dirija. Só… dirija.
Ela disse, olhando a cidade que se desenhava como um campo de batalhas silenciosas.
O carro avançou pelas avenidas iluminadas. Os semáforos piscavam como sinais de alerta, mas Lorena não queria parar. Queria movimento, velocidade, qualquer coisa que a fizesse esquecer o toque dele na sua nuca, o calor dos lábios roçando sua pele.
Ela fechou os olhos. E, como uma chama acesa em silêncio, lembrou do olhar dele no momento em que ela ameaçou sair da sala. Não era apenas desejo. Era dor, era saudade, era um grito que ela fingia não ouvir desde os quinze anos.
O carro parou em frente ao prédio dela. Lorena subiu sozinha, ignorando os olhares curiosos do porteiro. Quando entrou no apartamento, jogou as chaves no aparador e foi direto para a cozinha.
Abriu uma garrafa de vinho, despejou no copo com mãos trêmulas. O primeiro gole desceu queimando, mas não era suficiente para silenciar os pensamentos.
Caminhou até o quarto, abriu as janelas para deixar o vento noturno invadir. O vestido escorregou pelos ombros, caindo como uma confissão silenciosa. Ela se olhou no espelho, os cabelos desgrenhados, o batom borrado.
E lá, na imagem refletida, ela viu a verdade: Lorena não era apenas uma mulher irritada com um contrato abusivo. Ela era uma mulher faminta por algo que a assombrava desde a adolescência.
O rosto dele voltou à mente. O garoto que ela rejeitou, que foi embora sem olhar para trás. O mesmo garoto que agora voltava como um homem capaz de incendiar o mundo com um único olhar.
Lorena mordeu o lábio, os dedos passeando pela pele do pescoço, lembrando da sensação da respiração dele ali. Um arrepio a percorreu inteira.
Ela pegou o celular, hesitou. O nome dele piscava na tela como uma tentação viva. Não deveria, mas abriu a mensagem.
Leonardo: Espero que tenha chegado bem. Imagino que esteja tremendo agora.
Lorena bufou, jogando o celular na cama. A audácia dele a deixava furiosa, mas, no fundo, cada provocação era um sopro quente na chama que ela fingia não existir.
Ela caminhou até o banheiro, ligou o chuveiro. A água quente caiu sobre a pele como dedos invisíveis, despertando memórias que ela não queria revisitar.
Quando saiu, enrolada na toalha, encontrou outra mensagem.
Leonardo: Eu ainda posso sentir seu cheiro daqui.
O coração dela disparou. O corpo inteiro pareceu se acender.
Ela pegou o celular com raiva, os dedos digitando sem filtro.
Lorena: Você é patético.
A resposta veio em segundos.
Leonardo: E você é deliciosa quando fica brava.
Ela arremessou o celular na poltrona, o peito subindo e descendo num ritmo irregular. Caminhou até a varanda, sentindo o ar fresco colidir com a pele quente.
A cidade parecia suspensa, silenciosa e cúmplice. E, de repente, Lorena lembrou de como tudo começou.
Na adolescência, Leonardo era o garoto quieto, que observava nos corredores da escola com olhos escuros demais para a idade. Ela era a menina que sorria alto, que falava demais, que encantava todo mundo com a mesma facilidade com que se afastava.
Na festa de aniversário dela, aos quinze anos, ele apareceu com um buquê simples, tímido, segurando um bilhete amassado. Ela riu, zombou, jogou o bilhete no lixo na frente de todos. Ele ficou parado, o olhar tão ferido que ela nunca conseguiu esquecer.
No dia seguinte, Leonardo desapareceu. Mudou de país, deixou a escola, sumiu como um fantasma. E Lorena enterrou aquele momento como um erro tolo da juventude.
Mas agora, ao olhar o céu escuro e silencioso, ela sentia cada detalhe daquele passado pulsar debaixo da pele.
Ela segurou a grade da varanda com força, os dedos brancos de tanta pressão. O corpo inteiro parecia clamar por algo que ela se recusava a nomear.
De repente, o celular vibrou novamente.
Leonardo: Abra a porta.
Lorena congelou. O sangue fugiu do rosto. Caminhou até a sala, o coração batendo tão forte que parecia ecoar nas paredes.
Quando abriu a porta, ele estava lá. Leonardo, com a camisa preta levemente aberta, os cabelos bagunçados, os olhos brilhando como noite de tempestade.
— Você enlouqueceu?
Ela perguntou, a voz tremendo.
Ele entrou sem pedir permissão, fechando a porta atrás de si.
— Talvez.
Ele respondeu, se aproximando devagar.
— Mas não consigo ficar longe.
Lorena recuou até encostar na parede.
— Você não pode simplesmente aparecer na minha casa!
Ela tentou manter a voz firme, mas cada passo dele era um ataque direto à sua sanidade.
— Posso. E vim porque você precisa de mim tanto quanto eu preciso de você.
Ele disse, parando a centímetros dela.
O cheiro dele a envolveu, quente, familiar, perigoso. Lorena tentou desviar o rosto, mas ele segurou o queixo dela, forçando-a a encará-lo.
— Por que está fugindo?
Ele perguntou, a voz baixa, o tom rouco.
— Eu não estou…
Ela começou, mas ele aproximou os lábios, roçando de leve, tão perto que a respiração dele se misturava à dela.
— Não minta.
Ele sussurrou, a voz vibrando contra os lábios dela.
— Desde aquela noite, eu soube. Você só precisava de tempo para perceber.
Lorena fechou os olhos, sentindo a pele arder onde ele tocava. O corpo dela traía qualquer argumento racional, cada fibra implorava por mais.
— Leonardo…
Ela murmurou, mas não conseguiu terminar.
Ele colou os lábios nos dela. Não foi um beijo suave. Foi urgente, possessivo, como se cada segundo longe tivesse sido uma tortura. Lorena tentou resistir, mas em poucos segundos os braços dela subiram, puxando-o para mais perto.
As mãos dele exploravam as costas dela, descendo até a cintura. O calor invadia cada espaço, cada suspiro. Ela se arqueou contra ele, gemendo baixo quando sentiu a boca dele descer para o pescoço.
— Eu esperei por isso por tanto tempo…
Ele murmurou, sugando a pele sensível abaixo da orelha.
Lorena se agarrou a ele, as unhas arranhando levemente a nuca.
— Nós não deveríamos…
Ela tentou falar, mas ele a silenciou com outro beijo, mais profundo, mais quente.
Quando se separaram, ambos ofegavam. O olhar dele mergulhou no dela, intenso, carregado de algo que ia além do desejo.
— Eu não vou embora de novo.
Ele disse, a voz baixa, firme.
—E você não vai me mandar embora.
Ela sentiu o corpo inteiro vibrar. Cada palavra parecia uma faísca acendendo um incêndio interno.
— Você não pode decidir isso sozinho.
Lorena sussurrou, mesmo sabendo que as palavras eram fracas, inúteis.
Leonardo sorriu, passando o polegar pelos lábios dela.
— Não?
Ele perguntou, se aproximando novamente.
— Então me manda embora. Agora.
Lorena abriu a boca, mas não conseguiu dizer nada. O silêncio que pairou era tão íntimo que parecia um toque. Ele inclinou o rosto, colando a testa na dela.
— Eu te conheço, Lorena. Desde sempre.
Ele falou, fechando os olhos.
— Você pode lutar, gritar, correr. Mas no fundo, você sempre soube.
Ela sentiu as lágrimas brotarem nos olhos. Ele a segurou pela nuca, os lábios roçando os dela, tão levemente que era uma tortura deliciosa.
— A primeira faísca foi naquela noite.
Ele continuou, a voz quase um sopro.
— Quando você me olhou antes de me rejeitar. Eu vi. Você já me queria.
Ela deixou escapar um soluço.
— Eu era uma menina…
Ela murmurou.
— E eu era um garoto.
Ele respondeu, abrindo os olhos.
— Mas hoje não somos mais.
Lorena o puxou, beijando-o com força, como se quisesse apagar todos os anos de distância, de silêncio, de negação. Ele a ergueu no colo com facilidade, caminhando até o sofá, deitando-a com cuidado, mas sem suavidade.
As mãos dele exploravam cada centímetro, os lábios traçando caminhos quentes pela pele exposta. Lorena se contorcia, os gemidos se misturando aos sussurros roucos dele.
— Você é minha.
Ele murmurou, deslizando a boca pela clavícula.
— Eu…
Ela tentou negar, mas as palavras morreram em um gemido.
Os olhos dele a fitaram, escuros, famintos.
— Diz.
Ele pediu, a voz grave.
— Diz que é minha.
Lorena abriu a boca, mas em vez de protesto, um gemido de rendição escapou.
— Eu…
Ela suspirou, segurando os ombros dele.
— Leonardo…
Ele sorriu, beijando-a mais uma vez, lento, profundo, como se marcasse cada pedaço dela.
Naquele instante, Lorena entendeu: a faísca que começou naquela noite de adolescência jamais tinha se apagado. Estava ali, esperando o momento certo para explodir.
E agora, queimava com uma intensidade que prometia consumir tudo, inclusive o orgulho dela.
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Atualizado até capítulo 33
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