Lorena acordou no dia seguinte com o corpo ainda tenso, como se tivesse passado a noite inteira dançando no limite entre fugir e ceder. O travesseiro ainda guardava o cheiro do perfume amadeirado que insistia em persegui-la, mesmo sem a presença dele.
Ela tomou um banho demorado, deixando a água escorrer pela pele como se pudesse lavar o desejo que insistia em pulsar nas veias. Mas não conseguiu. Cada gota parecia avivar ainda mais as lembranças da noite anterior: o olhar dele, as palavras sussurradas, a promessa perigosa que ele deixou pairando no ar.
Ao sair do chuveiro, ela se olhou no espelho. Os olhos carregavam um brilho diferente. Não era medo. Era algo mais profundo, mais quente. Uma curiosidade faminta. Uma expectativa que ela se recusava a nomear.
Ela se vestiu com cuidado. Escolheu um vestido de seda verde-escuro que abraçava suas curvas sem pedir desculpas. Prendeu os cabelos em um coque baixo, deixando algumas mechas soltas para emoldurar o rosto. Passou um batom vermelho fechado, o tom de mulher que sabe o que quer, ou que, pelo menos, finge saber.
Quando chegou ao escritório da Ferraz Group, Lorena foi recebida por uma assistente que a conduziu até uma sala de reuniões envidraçada. A cidade se estendia ao fundo, como se fosse parte da decoração.
Na mesa de mármore branco, havia um único documento espesso, encadernado em couro preto. Ao lado, um copo de água intocado. E no canto da sala, ele. Leonardo.
Dessa vez, sem terno. Vestia apenas uma camisa branca com as mangas dobradas, revelando antebraços fortes, pulsos marcados por um relógio discreto. O primeiro botão aberto denunciava um traço de pele que parecia um convite silencioso.
Lorena respirou fundo, tentando manter o sangue longe do rosto. Mas a forma como ele a olhou, como se cada centímetro dela fosse um território a ser conquistado, a desmontava sem pedir licença.
— Pontual.
Ele comentou, os olhos escuros brilhando como se guardassem segredos que só ele sabia.
— Não suporto atrasos.
Ela se sentou, cruzando as pernas com elegância, mas sentindo a pele formigar sob o tecido da seda.
Leonardo se aproximou devagar, cada passo calculado, como um predador que se diverte antes do bote final.
— Não é só um projeto.
Ele disse, deslizando o contrato em direção a ela.
— É um acordo.
Lorena pegou o documento, folheando as primeiras páginas. Tudo parecia padrão: cronograma, custos, direitos autorais. Mas, conforme avançava, os dedos começaram a tremer levemente.
Ela ergueu os olhos para ele, que se apoiava na beirada da mesa, inclinando-se na direção dela.
— O que significa isso?
Ela apontou para uma das cláusulas.
Leonardo não respondeu imediatamente. Ele pegou o contrato de volta, passando os olhos pelas páginas como se revisse um poema antigo. Então, inclinou-se ainda mais perto, tão perto que ela podia sentir o calor da respiração dele.
— Cláusula 17.
Ele murmurou, os lábios roçando de leve a pele dela.
— "Interação presencial obrigatória durante o desenvolvimento criativo".
Lorena recuou, mas a cadeira a prendeu.
— Isso significa que você quer me vigiar?
Ela perguntou, a voz saindo mais rouca do que pretendia.
Ele sorriu. Um sorriso lento, perigoso.
— Quero participar. Quero ver cada traço nascer. Quero estar em cada decisão.
Os olhos dele desciam para os lábios dela.
— Quero sentir a sua essência em cada linha.
Ela engoliu em seco, a mente girando.
— Isso não é comum.
Ela murmurou, virando as páginas de forma nervosa.
— Eu não sou comum.
Ele respondeu, se afastando apenas o suficiente para que ela respirasse.
— E você também não.
Lorena passou para a cláusula seguinte, mas as palavras pareciam se embaralhar. O perfume dele ainda flutuava no ar, intoxicante.
— Cláusula 21.
Ela leu, a voz quase falhando.
— "Disponibilidade para eventos sociais e de networking a convite exclusivo do contratante".
Leonardo voltou a sorrir, dessa vez com um toque de malícia que incendiou o ventre dela.
— Preciso que você esteja ao meu lado em certos eventos. Quero mostrar ao mundo quem é a mente brilhante por trás do projeto.
Ele se aproximou outra vez, abaixando-se para ficar no nível dela.
— E também quero que todos saibam que você não pertence a ninguém.
Ela sentiu a garganta secar. A respiração ficou curta, presa entre o peito e a boca.
— Eu não sou um troféu.
Ela conseguiu dizer, mesmo com a voz trêmula.
Leonardo riu baixo, um som que vibrou nos ossos dela.
— Não. Você não é um troféu.
Ele ergueu a mão, prendendo uma mecha solta atrás da orelha dela.
— Você é o jogo inteiro. E eu quero jogar.
Lorena fechou os olhos, tentando afastar a onda de calor que subia pelo pescoço.
— Isso é inaceitável.
Ela murmurou, mas as palavras soaram vazias.
— Mas mesmo assim, você vai aceitar.
Ele respondeu, com uma certeza que doeu mais do que qualquer toque.
Lorena abriu os olhos, encarando-o. O rosto dela estava tão perto do dele que bastava um suspiro para que os lábios se encontrassem.
— Por quê?
Ela perguntou, a voz agora suave, quase uma confissão.
— Porque você quer tanto quanto eu.
Ele sussurrou, aproximando-se ainda mais.
— Porque, desde aquela noite, quando me rejeitou, você já sabia que um dia seria minha.
A lembrança da adolescência voltou como uma onda silenciosa. O garoto de olhos escuros parado no portão, esperando que ela dissesse "fica". O garoto que partiu no dia seguinte.
Lorena se levantou de repente, empurrando a cadeira. O coração batia tão rápido que ela sentia as pontas dos dedos formigarem.
— Eu não vou assinar isso.
Ela disse, tentando manter o tom firme.
Leonardo deu um passo em direção a ela, mas dessa vez não a tocou.
— Você já assinou aqui dentro. —
Ele apontou para o peito dela.
— O resto é apenas formalidade.
Ela balançou a cabeça, caminhando até a porta. Quando a mão tocou a maçaneta, ouviu a voz dele, baixa, quente, como uma lâmina de veludo.
— Se sair agora, vai ser pior.
Lorena virou o rosto, os olhos incendiados.
— Pior para quem?
Leonardo sorriu, um sorriso que carregava séculos de paciência e desejo contido.
— Para nós dois.
Ele disse, aproximando-se lentamente.
— Porque se você sair agora, vai passar cada noite imaginando como seria se tivesse ficado.
Ela estremeceu. O corpo inteiro parecia obedecer apenas a ele. O ar ficou denso, pesado de uma eletricidade silenciosa.
Ele parou atrás dela, tão perto que o calor dele a envolveu por inteiro. O perfume amadeirado, o som da respiração, a energia que pulsava entre eles... Tudo a chamava, a empurrava para um abismo doce do qual ela não conseguia se afastar.
Lorena fechou os olhos quando sentiu os lábios dele roçarem a nuca.
— Eu sei que você sente.
Ele sussurrou.
— E eu também.
Ela tentou lutar contra o próprio corpo, mas quando virou, se encontrou presa entre a parede de vidro e o peito dele. Leonardo ergueu o queixo dela com delicadeza, os olhos cravados nos dela como promessas.
— Assine.
Ele pediu, mas soou como um comando.
Lorena mordeu o lábio inferior, os pensamentos se quebrando como vidro.
— E se eu não assinar?
Ela desafiou, mesmo com a voz fraca.
Leonardo se aproximou, colando os lábios no dela num roçar lento, quente, que a fez arfar. Mas não foi um beijo completo. Foi uma provocação. Um lembrete.
— Eu vou continuar te perseguindo.
Ele murmurou contra a boca dela.
— Até você admitir que sempre me pertenceu.
Lorena empurrou o peito dele, tentando abrir espaço para respirar.
— Você é louco.
Ela sussurrou, sentindo as pernas quase cederem.
— Louco por você.
Ele disse, com um sorriso torto, a respiração também descompassada.
Ela se afastou de uma vez, pegando a bolsa com a mão trêmula. Caminhou até a porta, mas parou por um segundo. Virou-se, os olhos fixos nele, como se quisesse gravar aquela imagem para sempre.
— Eu não sou sua.
Ela disse, firme, mesmo que o corpo inteiro gritasse o contrário.
Leonardo apenas a observou, o peito subindo e descendo, os punhos cerrados ao lado do corpo.
— Ainda não.
Ele respondeu, num sussurro quase carinhoso.
Lorena saiu, o som do salto ecoando pelo corredor. Cada passo parecia levar um pedaço dela embora.
Do outro lado do vidro, a cidade se espalhava como um mar de luzes. E, em algum lugar lá embaixo, Lorena sabia que as pessoas continuavam suas vidas, alheias à guerra silenciosa que começava ali, entre duas almas que jamais foram feitas para descansar.
Ela respirou fundo quando chegou ao elevador, as mãos tremendo. O coração batia tão forte que parecia querer escapar pela garganta.
Quando as portas se fecharam, uma lágrima quente escapou, mas ela a secou com raiva.
Naquele instante, Lorena entendeu: o projeto nunca foi só um projeto. Era um convite, uma armadilha. Um laço cuidadosamente tecido ao longo dos anos.
E, apesar de tudo, uma parte dela já começava a querer ficar presa.
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Atualizado até capítulo 33
Comments
Kiyo Takamine and Zatch Bell
Fiquei presa a essa narrativa e não consigo me afastar! Mal posso esperar pela próxima postagem!
2025-07-17
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