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As coisas não mudaram de imediato. Eu continuei com a minha rotina, com a diferença de que de vez em quando eu olhava pela janela do meu quarto em direção à casa no alto do morro e pensava em Diogo.

Quando ia ler do lado de fora, esperava que ele aparecesse – o que não aconteceu por muito tempo. Eu não entendia que o que sentia nesses momentos era ansiedade. Queria vê-lo de novo, conversar com ele por mais tempo, mas não entendi por que sentia esses impulsos diferentes.

Uma vez, andei até mais perto da casa e espiei para ver se via alguma coisa. Tudo que consegui observar foram os empregados em suas tarefas. A casa era enorme, de dois andares, com milhares de janelas e portas e uma varanda ao redor no andar superior. Eu nunca tinha parado para pensar em como o lugar era imponente.

- Nós vamos fazer uma grande festa de aniversário para você. - Fred anunciou no café da manhã\, quase um mês depois da minha conversa com Diogo.

Ergui os olhos, surpresa. Meu aniversário sempre era comemorado com um bolo entre nós três.

- Uma festa?

- Quinze anos é um número importante.

Convites foram enviados para parentes distantes, mas o que me deixou realmente alarmada, foi o convite para nossos vizinhos. Diogo iria até nossa casa em poucos dias, eu iria conversar com ele de novo.

Minha mãe arrumou até uma costureira para fazer um vestido para a festa, um vestido que não tinha nada de parecido com as roupas que eu costumava usar. Um vestido adulto, chamativo, que me fazia sentir uma mulher e não uma garota.

O que aquilo significava?

No dia da festa, eu estava tão nervosa que saí escondida apenas para me sentar um pouco perto do rio e respirar fora da confusão. Só não esperava que, justamente naquele dia, encontraria um garoto nadando dentro do rio. Não dava para saber de qual dos dois era o corpo deslizando sob a água, mas eu desejava que fosse de Diogo.

Meu desejo não demorou muito para realizar, quando atingiu a margem ele tirou a cabeça para fora da água e olhou na minha direção. Mesmo com a expressão surpresa, Diogo sorriu ao me ver.

- Oi\, aniversariante.

- Oi. - eu sorri\, com o coração acelerado.

Diogo começou a sair da água e só então notei que ele estava sem camisa. Era a primeira vez que eu via um corpo masculino daquela forma. Meus olhos acompanharam as gotas de água escorrendo pelo seu peito com um calor desconhecido.

- Estou ansioso pela festa dessa noite. - ele se aproximou de mim.

Fiquei parada, encarando seu rosto molhado.

- Você está bem? - ele tocou meu braço com a mão molhada.

Um arrepio, que não tinha nenhuma relação com frio, percorreu todo meu corpo.

- Claro. - respondi com a voz vacilante – Também estou ansiosa para ver você. - respondi feito uma idiota\, o que o fez sorrir – Quero dizer\, na festa... - tentei arrumar.

Diogo continuou sorrindo, mas não parecia ter me achado a completa idiota que eu era. Ele genuinamente parecia feliz por me encontrar, o que me dava frio na barriga.

- Eu também queria ver você. - me falou\, baixo\, mesmo que estivéssemos sozinhos.

Não pude deixar de sorrir, imaginando se ele estava se sentindo como eu.

E então, surpreendentemente, ele segurou as minhas mãos com as dele. Era estranho de um jeito bom, pareciam se encaixar perfeitamente. E meu coração estava saltitante, feliz, e ao mesmo tempo me deixando um pouco nervosa com a novidade de toda aquela situação.

Diogo se aproximou mais, deixando algumas gotas de água caírem no meu rosto. Eu estava tremendo um pouco, o que era constrangedor porque ele podia sentir isso. De qualquer forma, ele não parecia se importar por eu parecer tão insegura naquela posição.

Os olhos dele eram ainda mais bonitos assim de perto. Era como um lago tranquilo e convidativo. E eu queria me perder em suas águas, eu queria me afogar nele. Então, quando Diogo se inclinou na minha direção, eu apenas fechei meus olhos e aguardei. Seus lábios cobriram os meus com delicadeza

- Eu acho que não devia ter feito isso. - ele se afastou mais rápido do que eu queria.

Mas eu tinha uma ideia melhor, e passei a mão em seu pescoço para trazê-lo para perto de novo. E, agora sim, aquele era nosso primeiro beijo. Nossas bocas se encaixaram perfeitamente, um pouco inexperientes, mas ainda sim muito animadas com o que estavam fazendo juntas.

Diogo foi o primeiro a se afastar, usando as mãos para me manter longe. Sua respiração estava irregular, tanto quanto a minha, mas os olhos não me encaravam mais – apenas o chão. Ele parecia tomado por emoções que eu não entendia. Havia culpa? Mas não era possível! Não havia nada mais certo do que aquilo que estávamos fazendo...

- Preciso ir. - disse\, deixando de me tocar. Imediatamente senti falta do seu toque. - Vejo você mais tarde.

As horas levaram uma eternidade para passar. Enquanto minha mãe me produzia, minha mente estava muito longe: pensando no beijo e por qual razão poderia deixar Diogo se sentindo culpado.

Quando me olhei no espelho, mal me sentia eu mesma. Era estranho me ver tão produzida, com um peteado elegante e maquiagem. Eu não me sentia criança, é claro, mas também não me sentia exatamente uma mulher. E toda aquela produção parecia me empurrar para frente com mais velocidade do que eu estava pronta.

Os convidados começaram a chegar e falar comigo. A maioria conhecidos dos meus pais e alguns parentes distantes. Eu não conhecia ninguém a fundo, mas nunca tinha me importado com isso.

Até que finalmente Diogo chegou com a família. Eles eram de longe os mais bem arrumados da festa. Notei que Dante parecia bem sorridente, bem colocado ao lado do pai – de quem ele havia puxado todos os traços. Diogo era uma mistura dos pais, de alguma forma pegando todos os melhores traços. Ele me olhava intensamente, um passo atrás do irmão.

Após os cumprimentos cordiais com meus pais, levei horas até conseguir escapar um pouco para o lado de fora – esperando que Diogo tivesse entendido todos os pequenos sinais que enviara todo aquele tempo.

- Lyra... - escutei sua voz sussurrando no escuro com alívio.

- Aqui. - respondi\, escondida sob uma árvore.

Ele andou rapidamente na minha direção. Não podíamos nos ver com clareza, o que parecia dar mais coragem.

- O que está fazendo aqui? - suas mãos enlaçaram a minha cintura sem hesitação.

- Eu queria ver você. - respondi\, muito consciente de suas mãos sobre meu vestido.

- Você está linda. - elogiou\, meio atropelando as palavras – Embora você seja naturalmente. - Diogo suspirou\, não me dando tempo - Não devíamos estar aqui.

Um pouco chateada pela frase, eu o puxei para perto e o beijei. Daquela vez foi mais intenso, ele parecia um pouco desesperado como se o tempo fosse curto. Eu não entendia, sentia que as coisas estavam só começando, mas não reclamei. Deixei que o corpo de Diogo me apertasse contra o tronco da árvore.

- Nós precisamos... - ele se afastou bruscamente minutos tempos\, cedo demais – Precisamos voltar lá para dentro.

Dessa vez, Diogo quase correu para longe. Fiquei lá, no escuro silencioso, esperando minha respiração se regularizar. Depois, fui obrigada a voltar para aquela festa idiota e sem sentido.

- Ah\, bem a tempo! - meu pai ergueu a taça assim que me viu – Tenho um anúncio!

Todas as pessoas pararam para olhá-lo, curiosas. Eu só procurava por Diogo, mas não conseguia vê-lo em lugar nenhum.

- Meu amigo Antônio Dalemon... - ele gesticulou para que o pai de Diogo se aproximasse – Trouxe seu primogênito para conversar comigo há alguns dias. - foi a vez de Dante ser chamado pelo meu pai\, o que ele fez com um sorriso enorme – Esse belo jovem queria pedir a mão de minha única e adorável filha.

O mundo pareceu congelar. Fiquei parada, encarando os três homens e tendo certeza de que eu estava entendendo errado.

- Claro que Lyra é muito jovem para se casar agora\, mas estamos publicamente firmando o compromisso entre esses dois jovens. - Fred prosseguiu\, me deixando completamente chocada e assustada.

Dante enfiou a mão em seu bolso e retirou uma pequena joia. Não entendi o que era até ele se aproximar e pegar uma das minhas mãos para deslizar o anel pelo dedo anelar. Compromisso.

Pensei que eu fosse desmaiar diante do seu sorriso triunfante.

Então vi Diogo, bem ao fundo, distante de todas as pessoas. Seu rosto era uma confusão de tristeza e culpa. E agora eu entendia.

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Comments

Luna_UwU

Luna_UwU

Essa história está incrível, mas eu preciso de mais, muito mais! 😍😍

2025-07-16

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