Preparativos para a visita dos Mansur.

A noite caiu silenciosa sobre Istambul, mas o peso em meu peito não descansava.

A sala do escritório de meu pai tinha um aroma amadeirado, mesclado com o perfume de charuto apagado. Estávamos em silêncio há alguns minutos, até que ele ergueu os olhos para mim.

— Está mesmo decidido?

Encarei os olhos firmes de Akif Cevrit — meu pai, meu exemplo, o homem que me ensinou que proteger é mais do que colocar o corpo à frente de uma bala.

É saber quem merece estar atrás de você.

— Sim. — respondi com firmeza. — Quando os cinco meses terminarem… Isadora será minha esposa.

Ele assentiu devagar, sem surpresa. Talvez já soubesse, talvez visse nos meus olhos o que nem eu conseguia mais esconder: a obsessão, o carinho, a fome de proteger tudo o que Isadora representa.

O celular vibrou no console. O nome na tela fez minha mandíbula travar.

Don Noah Mansur.

Atendi.

— Don Noah.

— Baran.

Sua voz era calma, mas carregada de desconfiança. Direta, como deveria ser.

— Recebi a notícia por Akif… sobre sua decisão. Casar-se com ela.

— Sim. Quando ela completar dezoito anos. Estou decidido.

Um breve silêncio.

— E você tem certeza? — ele perguntou. — Não é só um contrato mais. Você sabe disso. Com nosso envolvimento, com o peso do sobrenome Mansur, da família dela e agora dos Cevrit… ela não é só uma menina. Ela é um alvo, e um alvo que é da família, sabe que mesmo não sendo irmã legitima da Alana, elas se amam muito.

— Eu sei. — respondi, a voz firme. — E é por isso que ela precisa de mim.

— Você tem ideia da pressão que virá? O mundo que você vive, Baran, não é justo, nem piedoso. Você está disposto a sangrar por ela?

Me levantei. Senti meu pai me observando em silêncio, como se cada palavra que eu dissesse fosse tatuada em nossa história.

— Don Noah… não é só uma escolha. É instinto.

Desde o dia em que vi Isadora, tão pequena, confusa e frágil diante daquele velho miserável… eu soube. Eu precisava protegê-la.

— Isso é carinho, não é sinal de casamento. — ele disse.

— É mais. — respondi.

— Obsessão?

— Amor. — afirmei. — Mas não desses fáceis, que se dizem por impulso, sabia que estavam me testando.

É o amor que exige controle quando tudo em mim quer matar.

É o amor que me faz observar cada detalhe dela, mesmo quando ela não percebe.

É o amor que me fez recusar outras, desligar ligações, romper acordos antigos.

Ela é o meu norte.

Noah silenciou.

— E se ela disser não?

Meu maxilar contraiu.

— Então eu vou respeitar.

Mas ela nunca vai andar sozinha. Nunca vai dormir insegura.

Mesmo que ela nunca me ame como eu a amo… ela vai estar sob minhas asas até o último dia da minha vida.

Ouvi um leve suspiro do outro lado. Quase alívio. Quase orgulho.

— Então que venha o casamento, Baran Cevrit.

Mas saiba… se falhar com ela, não será só Akif que irá te cobrar.

Será a Espanha, será a Turquia.

Será a Itália.

— Eu entendo. E aceito.

— Boa noite, garoto.

— Boa noite, Don.

Desliguei.

Meu pai finalmente se pronunciou.

— Ele só precisava ouvir o que eu já sabia. — Akif disse com um leve sorriso. — Você nasceu para ser o escudo. Mas com ela… você também aprendeu a ser o lar.

Assenti.

Porque era verdade.

Com ela… eu não era só o homem treinado para matar.

Eu era o homem que aprendera o valor de cuidar.

E em cinco meses, Isadora deixaria de ser só minha responsabilidade.

Ela seria minha mulher.

Minha esposa.

Minha obsessão feita promessa.

Mais tarde naquela noite, encontrei meu pai no escritório, com a expressão sóbria que ele usava quando os assuntos iam além dos negócios. Ali, ele era mais do que Akif Cevrit. Era o homem de confiança de Don Noah, o elo entre impérios e códigos de sangue.

Ele não me olhou logo. Só depois de girar lentamente o copo de whisky na mão, falou com a voz grave e limpa:

— A festa de noivado de Cassandra será aqui. Na nossa mansão.

Fiquei em silêncio por um segundo.

— Cassie e Andrei?

— Sim. O clã Orlov aceitou o acordo formal. Vai ser perfeito. Segurança máxima, discrição, blindagem. E quem vai cuidar disso somos nós.

Assenti devagar, já visualizando os pontos cegos da casa, as entradas laterais, o caminho para os salões, o acesso externo aos portões da ala leste.

— Quando?

— Quatro dias. — Ele largou o copo, finalmente me encarando. — Eles chegam em dois. Cassie fez um pedido especial: quer Isadora como uma das acompanhantes de honra.

Minha expressão endureceu. Eu não esperava por isso.

— Ela quer Isadora ali? — minha voz saiu baixa, controlada.

— Exposta. Bonita. Representando a casa. Ao lado dela. Vai chamar atenção.

— Ela ainda não tem dezoito. Ela...

— Ela é uma figura importante — Akif interrompeu, sem elevar a voz. — E uma Cevrit, mesmo que não oficialmente. Essa festa é mais do que uma celebração. É política.

Cruzei os braços, firme.

— Ela não está pronta para isso.

Meu pai me olhou mais fundo.

— Você acha que está? Porque se disser que não está pronto para tê-la ao seu lado nesse jogo, então é melhor me dizer agora.

Fiquei em silêncio.

Eu a imaginei descendo as escadas com um daqueles vestidos luxuosos, cercada de olhares. Alguns interessados. Outros perigosos.

Todos, rivais.

— Eu vou cuidar de tudo. — falei, firme. — Nenhum convidado encosta nela. Nenhuma sombra perto dela. Nenhum nome ameaça o dela.

Meu pai assentiu. Com satisfação.

— Era o que eu precisava ouvir.

Me virei para sair. Mas antes, ele falou:

— Ah, Baran...

Me detive na porta.

— Ela não sabe. Você vai ser o primeiro a contar.

Horas depois, vi Isadora lendo na varanda do jardim, com os pés descalços no mármore branco, o cabelo preso de qualquer jeito, como sempre. Ainda não fazia ideia do furacão de alianças, vestidos e nomes de sangue que estava prestes a engolir o mundo dela.

E eu?

Eu seria o muro entre ela e tudo isso.

Mesmo que para isso eu tivesse que sufocar cada homem que ousasse olhar para ela da maneira errada.

Mesmo que o noivado fosse de Cassie e Andrei…

Naquela noite, o nome Isadora Duarte seria o mais lembrado.

Porque ela não era só minha protegida.

Ela era o meu nome silencioso no meio da guerra.

E eu mataria sorrindo por ela.

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Comments

Andrea Freire

Andrea Freire

Gostei desse da conversa dele com o Don e com o pai

2025-07-16

2

bete 💗

bete 💗

adorando ❤️❤️❤️❤️❤️

2025-07-17

0

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